As Trilhas Sonoras do Oscar 2018 | Iradex

As Trilhas Sonoras do Oscar 2018

Na corrida pelo Oscar 2018, temos trilhas espetaculares - algo natural para um ano com tantos filmes bons. Resolvi então listar as indicadas e contar um pouco sobre cada uma delas e sobre seus compositores, para que você possa ouvir, se encantar e se preparar para a cerimônia.


Star Wars: Os Últimos Jedi (Star Wars: The Last Jedi) - John Williams

Já faz 50 anos desde a primeira indicação do monstro das trilhas do cinema, John Williams, que foi — e ainda é — um dos grandes nomes de Hollywood, capaz de criar no imaginário popular grandes peças que até hoje cantarolamos e que nos remetem a títulos como “Tubarão”, “Caçadores da arca perdida”, “Star wars” e “E.T. - O extraterrestre”. Essa é sua 51º indicação e como era de se esperar, está lá todo o traço aventuresco desse mestre. Em “Star Wars: Os Últimos Jedi” ele revisita suas antigas composições e, dando a algumas apenas um leve toque de novidade enquanto, em outras, reescreve tudo do zero. Deve ser um processo extremamente gratificante revisitar as trilhas criadas em 1977 e consegui dar uma cara nova, sem perder a identidade das trilhas desta saga.

Trilha de caráter muito emocional, com rompantes e trechos extremamente apoteóticos, ela é, em si, é muito bela e trágica, nos arrancando lágrimas. John Williams consegue até se auto homenagear na faixa “The Fathiers", uma nítida referência às faixas de “Jurassic Park” (1993), além de auto referenciar outros filmes dos quais participou. O “Tema da Resistência”, em minha modesta opinião, é uma obra prima, uma música que daqui em diante criará a cara deste grupo e será sempre lembrada como peça essencial da história.

Falar de trilha para cinema sem falar de John Williams é uma negligência, ainda mais enquanto ele ainda se encontra em plena atividade. Suspeito que por alguns anos, ele ainda estará no páreo por uma estatueta.


A Forma da Água (The Shape of Water) - Alexandre Desplat

O francês Alexandre Desplat é um músico muito habilidoso, porque consegue produzir suas trilhas mantendo uma identidade musical intacta, sempre com um certo teor introspectivo e até um pouco sombrio. Ao mesmo tempo ele é capaz de transmitir alegria e vigor, de forma espetacular. Eu classificaria suas trilhas como “elegantes”, com sons bem trabalhados e nuances altas e baixas, evidentes.

Já conquistou um Oscar em 2015 por seu trabalho na trilha sonora de “O Grande Hotel Budapeste”, escrito e dirigido pelo gênio da caricatura, Wes Anderson.

Neste filme, Guillermo Del Toro cria uma fábula, bela e delicada, o que certamente coloca a obra entre os grandes filmes desse ano. A trilha, como não poderia deixar de ser, é igualmente impressionante. As composições emulam as emoções dos personagens, bem como suas inquietações e sentimentos apaixonados, contando com a música para ser um dos componentes centrais das cenas, assim como os atores. A trilha apresentam frescor e jovialidade ao tema central, transmite o mistério e a atração pela água e sua forma, figuras, neste caso, extremamente emocionais. O uso de acordeon como contraste dos sons que imitam a água é um estratagema genial do compositor, que dá à obra um tom “cult”, comum nos filmes franceses, sem nenhuma breguice ou presunção. Ao contrário, ele executa tudo de forma muito talentosa.

Entre as músicas utilizadas aqui, estão as clássicas Carmen Miranda e Caterina Valente, e a contemporânea Madeleine Peyroux, que coroam a lindíssima trilha.

Na minha opinião é a grande favorita na categoria de trilha, porque apresenta sinais das grandes trilhas do cinema: é extremamente melódica, seu tema principal fica entoando por nós por algum tempo, como se déssemos um mergulho em uma música, para por lá permanecer. O mundo fantástico criado por Del Toro é transmitido em forma de música por Desplat, para nos entregar exatamente a mensagem que o filme quer passar, a de uma linda história de amor, perigo e coragem.


Dunkirk - Hans Zimmer

Hans Zimmer Já foi indicado ao Oscar por inúmeras trilhas sonoras, entre elas as de “Rain Man” (1888), “The Preacher's Wife” (1996), “As Good as It Gets” (1997), “The Prince of Egypt” (1998), “Gladiator” (2000), “Inception” (2010) e “Interstellar” (2014). Ganhou o Oscar em 1995 por “O Rei Leão” (1994), uma obra-prima do cinema, com trilha inesquecível e viva até hoje, no imaginário de todos nós.

A trilha de Dunkirk é simplista, mas muito eficaz. Dita o tom e o ritmo dos atos que não acontecem de forma linear. O compasso do relógio é utilizado de forma a trazer à tona o mote do filme que são a fuga e o tempo, uma  experiência rica e sensorial, casando trilha e filme, nos levando a uma imersão absolutamente impressionante. Me agrada o tom de suspense e perigo entregue, e da apoteose em algumas cenas, lembrando de que se trata de um filme de guerra, não exatamente no fronte, mas sim de fuga. Aqui, a trilha é capaz de entregar o medo das tropas presas na praia francesa, do combate no ar com os incansáveis pilotos, empenhados em proteger o grupo na terra, e também no resgate pelo mar, onde a trilha também transmite a emoção por trás do fato histórico.

Considerando as trilhas feitas para cinema neste ano, talvez essa fosse a premiada ideal, porque está, sem dúvida, diretamente ligada ao ritmo do filme, de forma que não conseguimos distinguir entre um e outro, mesmo aproveitando-os separadamente.


Trama Fantasma (Phantom Thread) - Jonny Greenwood

Jonathan Richard Guy Greenwood é um músico inglês mais conhecido por sua ocupação como guitarrista da banda Radiohead. Ele também compôs trilhas para muitos filmes, principalmente aqueles produzidos pelo diretor Paul Thomas Anderson.

A trilha é, em síntese, melancólica, refletindo a personalidade do protagonista. Cheia de nuances, podemos classificá-la como erudita na forma e na execução, com traços bastante modernos, em alguns momentos. São composições emocionais e sentimentais, exprimindo os sentimentos dos personagens.

Em alguns momentos o estilo lembra os Noturnos, pela forma melancólica e sentimental da composição e pela forma-sonata, no modo de contar uma história em música, onde se percebe um tema sendo apresentado, sendo revisitado e tocado de diferentes formas. Em outros momentos, ela se alinha com a música moderna, onde arranjos são colocados de modo não linear e acompanhados por tons abruptos.

É uma trilha inegavelmente belíssima, que se encaixa no tema misterioso do filme, dando-lhe o plano de fundo perfeito para deixar a audiência apreensiva e ansiosa.


Três Anúncios Para Um Crime (Three Billboards Outside Ebbing, Missouri) - Carter Burwell

Três Anúncios Para Um Crime é um filme emocional, de alta carga dramática, onde drama e comédia se envolvem a ponto de serem indistinguíveis. Carter Burwell é um compositor famosos por produzir trilhas dos filmes dos irmãos Coen e, nessa composição, utiliza o tema árido presente nas trilhas de “velho Oeste”, à la Ennio Morricone, mas bastante modernizado, tornando a trilha muito melancólica e forte. As peças expressam de forma delicada o conflito da protagonista e nos mostram o caminho para seu eu interior. O uso indiscriminado de música country deixa a trilha ainda mais homogênea e transforma esse fabuloso trabalho em algo complexo, que mescla o erudito e o contemporâneo, dando-lhe ‘uma cara única’, mas em tons diferentes.

O que mais gosto nesse trabalho é o fato de o resultado ser minimalista, mas de forte impacto, com poucas notas, às vezes em um só ritmo, um só volume e nos impregnando de sua doçura e tristeza (muita tristeza!). Ele me fez sentir a dor da protagonista em poucos acordes, algo surpreendente, por conseguir entregar muitas emoções sem nada apoteótico, grandioso, nem acelerado.


Façam suas apostas!