Quadrinhos para Começar a Ler Quadrinhos - Parte III | Iradex

Quadrinhos para Começar a Ler Quadrinhos - Parte III

Todo carnaval tem seu fim, e listas de indicações não seriam diferentes. Há algumas semanas comecei a tarefa de indicar quadrinhos para quem, ocasionalmente, quisesse recomeçar a entender a linguagem e a mídia. Escolher 30 obras foi uma dificuldade imensa e, agora, neste post, vocês saberão quais as últimas 10 histórias em quadrinhos que acho excelentes para quem "tá (re)começando". Repito o que disse nas duas primeiras parte deste texto: toda lista é injusta. E se você acha que faltou algum quadrinho, indica nos comentários, vai ser um prazer conversar sobre o assunto.

Leia também a Parte I e a Parte II deste texto.

É isso aí, vamos às nossas últimas indicações.


autocracia-woodrow-phoenix-quadrinhos-para-comecar-a-ler-quadrinhos-iradex-net-capaAutocracia
Autor: Woodrow Phoenix
País de Origem: Grã-Bretanha
Lançado no Brasil pela Editora Veneta
Ritmo de Leitura: Lento
Por que indicar: Para quem lembra do Sem Fim de indicações que rolou no finalzinho de 2015, Autocracia figurava na minha lista de menções honrosas de melhores HQs que li naquele ano. Passeando pelas estantes da Livraria Cultura de Fortaleza, comecei a conversar com a Alessandra, minha amiga de Avantecast, sobre essa HQ e ela me disse uma coisa que ficou fixada na minha cabeça: esse quadrinho tinha que ser lido por todo mundo que faz auto-escola. Eu não poderia concordar mais. O britânico Woodrow Phoenix faz um quadrinho diferente do que estamos habituados a ver. Anteriormente, na parte 1 desta lista, falei sobre como a linguagem dos quadrinhos pode ser usada para além da narrativa, podendo ser palco para poesia, por exemplo. Em Autocracia, Phoenix desenvolve uma dissertação, um tratado, um ensaio sobre como nossa sociedade se tornou "autocêntrica", um mundo não mais de humanos, mas de veículos motorizados. Misturando casos pessoais e estatísticas globais, o autor realiza um trabalho de potência ímpar, no qual nenhum personagem é vivo. Os protagonistas de Autocracia são as placas, os viadutos, o asfalto, o semáforo. Ao ler o quadrinho, estamos atrás do volante de um veículo que passeia pelas histórias de dor de um mundo que faz do carro um símbolo de status, de felicidade, de desejo. Recomendado para pedestres e motoristas.
Extra: - Critica de Autocracia na Revista O Grito


primeiras-vezes-sibylline-quadrinhos-para-comecar-a-ler-quadrinhos-iradex-netPrimeiras Vezes
Autores: Vários
País de Origem: França
Lançado no Brasil pela Editora Nemo
Ritmo de Leitura: Médio
Por que indicar: Por vezes, quando se fala de quadrinho erótico ou pornográfico, acabamos caindo nas obras do italiano Milo Manara ou do francês Frédéric Boilet, por serem dois dos autores mais cultuados e, consequentemente, com mais obras desse gênero publicadas aqui no Brasil. Acredito, no entanto, que Primeiras Vezes seja uma entrada prazerosa (sim, todos os duplo sentidos foram propositalmente escritos) para o mundo das HQs pornográficas para quem quer conhecer mais. Este quadrinho é uma coletânea de 10 histórias roteirizadas pela francesa Sibylline e desenhadas por vários nomes prioritariamente franceses, tais como Cyril Pedrosa e Dominique Bertail, com a participação do britânico de traço surrealista Dave McKean. São narrativas curtas que falam de sexo casual, ménage a trois, bonecas hiperrealistas (narrada sob o ponto de vista da boneca), orgias e muitas outras primeiras vezes, tudo muito explícito e sem vergonha, uma ótima pedida tanto para conhecer mais sobre o gênero erótico/pornográfico (uma divisão conceitual envolta em juízo de valor) quanto para conhecer diferentes artistas europeus. Uma compilação feita com o intuito de quebrar as pernas dos padrões e pra mostrar que, entre quatro paredes, tudo é possível. Vale a pena meter gostoso este quadrinho na sua estante.
Extra:
- Crítica de Primeiras Vezes no site Universo HQ
- Sobre erotismo e pornografia nos quadrinhos, sugiro o HQ Sem Roteiro Podcast que gravei sobre o tema com quadrinistas brasileiras e pesquisadores do tema


o-que-aconteceu-ao-homem-mais-rapido-do-mundo-dave-west-marleen-lowe-quadrinhos-para-comecar-a-ler-quadrinhos-iradex-net-capaO Que Aconteceu Ao Homem Mais Rápido do Mundo?
Autores: Dave West e Marleen Lowe
País de Origem: Grã Bretanha
Lançado no Brasil pela Gal Editora
Ritmo de Leitura: Lento
Por que indicar: O super-herói é um arquétipo presente na cultura contemporânea tal como os deuses de outrora. Se na Antiguidade, uma criança corria como Hermes ou era forte como Hércules, hoje as crianças correm como o Flash e são fortes como o Hulk. Dito isso, eu particularmente gosto muito de histórias que deixam de lado os uniformes coloridos para falar de personagens superpoderosos que se escondem no comum, na multidão, como a primeira temporada de Heroes (que era excelente pelo potencial e perdeu-se com o passar dos anos) e o belíssimo Corpo Fechado, filme com Bruce Willis e Samuel L. Jackson, dirigido pelo Shyamalan. O Que Aconteceu ao Homem Mais Rápido do Mundo? é uma dessas histórias. Bobby Doyle é um cara comum que tem o poder de ser tão rápido que consegue parar o tempo ao seu redor. Foco no "ao seu redor". Quando Bobby para o tempo, o mundo fica paralisado, mas o relógio dele continua a andar. Enquanto no mundo se passa um segundo, para ele pode-se passar um dia, um mês, anos, décadas. Acontece que um dia, enquanto bebe uma cerveja em um bar de Londres, Bobby vê a notícia que uma bomba vai explodir em um prédio no centro da cidade. O protagonista então tem um dilema: continuar sua vida normalmente ou salvar, uma por uma, milhares de pessoas, envelhecendo nesse tempo solitário só dele? A trama é simples, fala de responsabilidade, empatia e solidão. A arte tem muita cara de quadrinho alternativo, e a edição nacional traz uma capa com jeitão de página de jornal que já é serve como introdução à trama. Além disso, traz muitos extras exclusivos para o Brasil, como uma história complementar do protagonista ainda criança, textos e fanarts de artistas estrangeiros e brasileiros.
Extra: - Tive a oportunidade de indicar o quadrinho em um AvanteResenha junto com o PH Santos


gourmet-jiro-taniguchi-masayuki-qusumi-quadrinhos-para-comecar-a-ler-quadrinhos-iradex-netGourmet
Autores: Jiro Taniguchi e Masayuki Qusumi
País de Origem: Japão
Lançado no Brasil pela editora Conrad
Ritmo de Leitura: Lento
Por que indicar: Não sei vocês, mas, quando eu viajo, eu adoro comer. E quanto mais diferente o cardápio melhor. Quando fui para São Paulo, todo dia almoçava em um bairro diferente, para sentir os sabores de culturas diferentes. Às vezes a gente esquece, mas comidas trazem mensagens, do acarajé super apimentado ao miojo industrializado, do chocolate belga ao baião nordestino, toda comida tem um "sotaque", e é disso que trata o mangá da dupla Jiro Taniguchi e Masayuki Qusumi. O protagonista de Gourmet é um homem que trabalha viajando de um lado a outro do Japão. Não sabemos seu nome, mas sabemos seu hobby: comer. Cada capítulo do mangá se foca em uma refeição, e procura falar sobre a sensação em torno da alimentação, algo tão repleto de simbolismo. Desde um sushi super bem preparado à comida vinda daquelas vending machines, somos apresentados a todo um universo de sabores apesar de estarmos na frente de um universo de imagens. Poucas são as HQs que misturam a linguagem quadrinística com a linguagem culinária, e Gourmet faz isso de forma tão bela que acredito que mesmo que essa união vire uma tendência um dia, esta obra ainda estará no topo de melhor do gênero. A edição brasileira é bem bonita, e traz uma bela segunda capa envolvendo uma outra bela primeira capa. Pela estética e o tema que me aprazem, Gourmet é meu mangá favorito.
Extras:
- AvanteResenha sobre Gourmet
- Resenha no site Prato Fundo sobre Gourmet


daytripper-fabio-moon-gabriel-ba-quadrinhos-para-comecar-a-ler-quadrinhos-iradex-netDaytripper
Autores: Gabriel Bá e Fábio Moon
País de Origem: Brasil/Estados Unidos
Lançado no Brasil pela Editora Panini
Ritmo de Leitura: Lento
Por que indicar: Ganhadora do Eisner, o maior prêmio da indústria dos quadrinhos no mundo, além de levar para casa também o Harvey Awards e o Eagle Awards, esta série realizada em 10 volumes foi lançada compilada como graphic novel aqui no Brasil em edições tanto com capa cartonada (aquela meio mole) quanto capa dura. Daytripper narra a história de Brás, um homem que escreve obituários, que se dedica em vida a falar sobre os mortos. Em uma saga realista e bem humanizada sobre o que é viver e o que é morrer, Brás é levado a refletir sobre sua condição de filho, pai, marido, amigo. Lançada pela Vertigo, selo da DC Comics para quadrinhos mais alternativos, Daytripper é um ponto fora da curva no mercado de quadrinhos dos Estados Unidos: escrita e desenhada por brasileiros, com um protagonista brasileiro, cheio de referências ao Brasil (o nome do personagem principal ser Brás que nem as Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, é a mais explícita delas talvez) e com passagens em diferentes locais do País, algo raro de se ver no mercado de lá. A trama passeia pela vida, pelo passado, pelo presente e pelo futuro, com uma poesia típica da obra dos gêmeos Bá e Moon, que também pode ser vista em quadrinhos como Dois Irmãos (inspirado no livro homônimo de Milton Hatoum, também vencedor do Eisner na categoria Melhor Adaptação, e cuja história virou recentemente série da Globo) e as histórias publicadas no zine 10 Pãezinhos, que eles faziam no começo da carreira. Recomendo praticamente tudo que esses dois já fizeram em matéria de quadrinhos.
Extras:
- Resenha de Daytripper no site da revista O Grito!
Resenha de Daytripper no site Pipoca e Nanquim
- Falei sobre a série de tiras dos irmãos, Quase Nada, para a sessão Amostra Grátis de HQ aqui do site do Iradex


gustavo-duarte-monstros-quadrinhos-para-comecar-a-ler-quadrinhos-iradex-netMonstros!
Autor: Gustavo Duarte
País de Origem: Brasil
Lançado no Brasil pela editora Companhia das Letras, no selo Quadrinhos na Cia.
Ritmo de Leitura: Rápido
Por que indicar: Além de chargista de esporte em portais de notícia, Gustavo Duarte se tornou referência no mundo dos quadrinhos por dois motivos: primeiro, pelo seu traço que dialoga bastante com o cinema de animação; segundo, por suas narrativas que não se utilizam de balões de fala, onomatopeias ou outros elementos representativos de som nas HQs. Ou seja, Gustavo faz quadrinhos "mudos" (não gosto muito dessa palavra, mas acredito que ela é usada em larga escala para fazer um paralelo entre a linguagem quadrinística e o cinema mudo do fim do século XIX, começo do século XX). e Birds foram as primeiras histórias em quadrinhos que Gustavo realizou usando essa estratégia, mas acredito que tenha sido Monstros! que o fez ser mais conhecido. A história se foca em Pinô, um senhor que está pescando tranquilamente na cidade de Santos quando, de repente, monstros começam a invadir a praia e detonar tudo que está à sua vista. Pinô então puxa pra si a responsabilidade de dar cabo desses kaijus (citando aqui o termo clássico usado para denominar os monstros gigantes dos filmes japoneses, o qual Godzilla é o seu maior expoente). Gustavo Duarte é um fã incondicional de referências, e já colocou muitas nesta e em suas outras tramas. Para dar um exemplo, depois de Monstros!, ele foi convidado a desenhar a Graphic MSP Chico Bento - Pavor Espaciar, além  de uma minissérie de 6 edições do Bizarro, personagem da DC Comics. Pinô, o protagonista de Monstros!, aparece rapidamente nessas HQs, um easter egg para quem é familiar com as obras do autor. A aproximação de Gustavo do mercado estrangeiro já o fez realizar trabalhos para as grandes editoras de super-heróis dos EUA (além do já citado Bizarro, ele desenhou para a série dos Guardiões da Galáxia, da Marvel) e já teve seus quadrinhos autorais publicados lá fora pela editora Dark HorseMonstros! é uma leitura rápida e pode ser, para os olhares de quem quer conhecer mais sobre a linguagem quadrinística, um belo exercício interpretativo, por ser uma HQ que se baseia simplesmente no desenho. Uma história que, apesar de "muda", reverbera bastante.
Extra: - PH indicou Monstros! no seu projeto Direto do Escritório no Youtube.


darkness-boulet-quadrinhos-para-comecar-a-ler-quadrinhos-iradex-netBouletcorp
Autor: Boulet
País de Origem: França
Site com quadrinhos lançados de forma independente em inglês, francês e coreano
Ritmo de Leitura: Variável, dependendo da história
Por que indicar: Ok, fugindo mais uma vez da minha regra, não indico aqui uma obra, mas indico um site de webcomics. Já tive a oportunidade de falar da obra de Gilles Roussel, o Boulet, na antiga sessão Amostra Grátis de HQ, aqui no Iradex. Para mim, esse quadrinista francês de 40 e tantos anos é um dos nomes mais inovadores da webcomic mundial, por aliar o domínio da linguagem quadrinística e as possibilidades artísticas trazidas pela mídia digital, isso tudo desde 2004. Destaco aqui as excelentes Our Toyota Was Fantastic, na qual ele usa GIFs em uma história saudosista; e The Long Journey, em que ele utiliza a possibilidade de fazer uma página "infinita" de extensão para poder contar a história fantasiosa em pixel art dele se perdendo nos encanamentos do esgoto e encontrando, entre outras coisas, nazistas e dinossauros. Como nada do autor foi lançado no Brasil ainda, ficamos aqui admirando os trabalhos que ele lança em seu site, uma boa forma não somente de aprender mais sobre a linguagem quadrinística, como também de conhecer ou aperfeiçoar uma outra língua. Ah, e a excelente Darkness, história cuja capa ilustra esta indicação, foi feita em um desafio 24 horas de quadrinhos, quando artistas do mundo todo dedicam um dia inteiro para roteirizar e desenhar 24 páginas de uma HQ fechada. Repito, uma HQ excelente, muito bem escrita e desenhada, feita em um dia. Daí vocês tiram como esse homem é bom!
Extra: - Amostra Grátis de HQ sobre Bouletcorp


vincent-barbara-stok-quadrinhos-para-comecar-a-ler-quadrinhos-iradex-netVincent
Autora: Barbara Stok
País de Origem: Holanda
Lançado no Brasil pela L&PM Editores
Ritmo de leitura: Lento
Por que indicar: Vincent Van Gogh foi e continua sendo um dos personagens mais instigantes da arte mundial. Denominado por muitos um dos pintores mais importantes da História humana, quiçá o melhor, o holandês é o protagonista da HQ escrita e desenhada por Barbara Stok, uma conterrânea que decidiu narrar os últimos e conturbados anos de vida deste homem fascinante. Foi na França, mais especificamente na cidade de Arles, que Van Gogh encontrou as cores e as luzes que o fizeram por nas telas algumas de suas composições mais fantásticas. Porém, se de um lado o pintor encontrava nas paragens francesas a inspiração para seu pincel, do outro o seu estado de saúde psicológica se agravava devido às dívidas e ao medo do futuro, com crises e mais crises que o fizeram, em certo momento, cortar um pedaço de sua própria orelha. A autora utiliza transcrições de cartas trocadas entre Vincent e seu irmão Theo, trazendo uma perspectiva a mais ao traço simples porém expressivo da graphic novel. Barbara opta por desenhos minimalistas e cores chapadas, que trazem uma força a mais para a história desse personagem que já fascina per se. Um ótimo trabalho sobre processo criativo, angústia e beleza.
Extra: - Resenha de Vincent no site Universo HQ


batman-ano-um-frank-miller-david-mazzucchelli-quadrinhos-para-comecar-a-ler-quadrinhos-iradex-netBatman: Ano Um
Autores: Frank Miller e David Mazzucchelli
País de Origem: EUA
Lançado no Brasil pela Panini
Ritmo de Leitura: Lento
Por que indicar: Falei lá no primeiro texto de indicações que entrar no mundo dos quadrinhos de super-heróis não é uma tarefa fácil e pode exigir um esforço que só quem realmente quer conhecer sobre esse universo superpoderoso consegue realizar. Acontece que, vez ou outra, existem HQs que ajudam nesta tarefa, e Batman: Ano Um é uma delas. Escrita por Frank Miller e desenhada primorosamente por David Mazzucchelli, esta história foi contada em uma minissérie de 4 edições que posteriormente foram compiladas em um encadernado. A trama se foca, como em várias outras histórias do Batman (como é o caso da trilogia Nolan), não somente no Homem Morcego, mas também em personagens coadjuvantes que moldam o universo de Gotham City. No caso, Bruce Wayne divide os holofotes com um personagem importantíssimo do panteão de coadjuvantes do Batman, o então capitão James Gordon, que virá um dia ser conhecido como Comissário Gordon. Somos levados, como diz o nome da série, a passear pelo primeiro ano das ações de Bruce Wayne como Batman, as primeiras vezes em que ele sai à noite para combater o crime e aprende, a duras penas, como se tornar um super-herói. Simultaneamente, vemos Gordon chegando no departamento de polícia de Gotham, dando de cara com um sistema corrupto e estagnado. Como falamos vez ou outra nos eventos que realizamos aqui em Fortaleza, os super-heróis deixaram de ser simples personagens e se tornaram conceitos, "folclore da sociedade pós-industrial" como diria um autor da DC Comics que esqueci agora o nome. Batman: Ano Um é uma ótima aula introdutória para quem quer saber mais desse folclore.
Extra: - Crítica no site Omelete sobre Batman: Ano Um


habibi-craig-thompson-quadrinhos-para-comecar-a-ler-quadrinhos-iradex-netHabibi
Autor: Craig Thompson
País de Origem: EUA
Lançado no Brasil pela Quadrinhos na Cia., selo da editoria Companhia das Letras
Ritmo de Leitura: Lento
Por que indicar: Não podia terminar minha lista com algo inferior a uma obra-prima. Craig Thompson ficou mundialmente conhecido por seu relato autobiográfico nos quadrinhos Retalhos, HQ vencedora de dois prêmios Eisner, três prêmios Harvey e do prêmio da crítica da Associação Francesa de Críticos e Jornalistas de Quadrinhos, em 2005. Eu gosto de Retalhos, mas fico absolutamente indignado por Habibi não ter ganho tanto ou mais destaque nas premiações que a graphic novel anterior de Thompson. Nesta HQ, o autor nos mostra a história de Dodola e Zam, dois escravos em  um país fictício o qual não sabemos o nome. Trazendo muitos elementos da cultura árabe e da religião islâmica, Thompson faz de Habibi uma fábula, misturando a história dos protagonistas, que vemos literalmente crescer da infância à fase adulta, com os principais ensinamentos e narrativas sacras do Islã. Logo no começo do calhamaço de quase 700 páginas, somos levados a perceber que as três maiores vertentes religiosas mundiais (islamismo, judaísmo e cristianismo) possuem um tronco comum entre elas, e as divergências são frutos de diferentes interpretações. Por muitas vezes o autor se dedica a mostrar a importância que a escrita tem para o povo árabe, a história em quadrinhos é praticamente uma homenagem, um ode à contação de histórias e ao poder humano de significar com palavras, essa magia tão própria da gente. Detalhe: antes de começar a escrever Habibi, Craig Thompson não sabia escrever em árabe. Entre pesquisa e trabalhos, a obra demorou 7 anos para ser realizada. Repito: 7 anos! Ao por no papel referências à arte árabe, com seus arabescos e padrões extremamente elaborados, o autor faz uma obra visual marcante, deixando às vezes o leitor com pena de virar uma página pois, assim, terá que parar de admirar os detalhes dos desenhos. É narrativa gráfica em seu máximo.
Extras:
- Site oficial do quadrinho (em inglês)
- Entrevista com o autor para o Estadão sobre o processo de criação da HQ (nesta matéria, diz que Thompson demorou 8 anos para fazer Habibi)
- O Clube do Quadrinho, evento mensal que a gente do Avantecast realiza aqui em Fortaleza, falou sobre Habibi em uma das primeiras edições gravadas que gerou um podcast bem bacana. Ouça aqui!


Acabooou! Acabooou!

Nossa, foram três semanas e vários dias digitando e digitando sobre quadrinhos que acho essenciais para alguém que quer recomeçar a ler quadrinhos. Espero que tenham gostado dessa lista imensa e aproveitem para ler, caso tenha caído aqui de paraquedas, a parte I e a parte II desse texto. Segue a lista de quadrinhos indicados abaixo:

  • A Propriedade, de Rutu Modan
  • Valente, de Vitor Cafaggi
  • Gavião Arqueiro (Nova Marvel), de Matt Fraction e David Aja
  • Magra de Ruim, de Sirlanney
  • Uma Morte Horrível, de Pénélope Bagieu
  • Quadradinhas, de Lucas Gehre
  • Cosmonauta Cosmo, de Luís Felipe Garrocho e Eduardo Damasceno
  • O Cão que Guarda as Estrelas, de Takashi Murakami
  • Só Você Pode Ouvir, de Hiro Kiyohara e Otsuichi
  • Placas Tectônicas, de Margaux Motin
  • Pílulas Azuis, de Frederik Peeters
  • Mayara & Annabelle, de Pablo Casado, Talles Rodrigues e Brendda Costa Lima
  • Persépolis, de Marjane Satrapi
  • O Mundo de Aisha, de Agnes Montanari e Ubo Bertotti
  • Solanin, de Inio Asano
  • Maus, de Art Spiegelman
  • Bear, de Bianca Pinheiro
  • Cortabundas - O Maníaco do José Walter, de Talles Rodrigues
  • Azul é a Cor Mais Quente, de Julie Maroh
  • Graphics MSP, vários autores
  • Autocracia, de Woodrow Phoenix
  • Primeiras Vezes, vários autores
  • O Que Aconteceu ao Homem Mais Rápido do Mundo?, Dave West e Marleen Lowe
  • Gourmet, de Jiro Taniguchi e Masayuki Qusumi
  • Daytripper, de Fábio Moon e Gabriel Bá
  • Monstros!, de Gustavo Duarte
  • Bouletcorp, de Gilles "Boulet" Roussel
  • Vincent, de Barbara Stok
  • Batman: Ano Um, de Frank Miller e David Mazzucchelli
  • Habibi, de Craig Thompson

É isso aí! Seja muito bem recebida ou recebido neste mundo dos quadrinhos. Espero que divirtam-se. Boas leituras e até a próxima!