Quadrinhos para começar a ler quadrinhos - Parte I | Iradex

Quadrinhos para começar a ler quadrinhos - Parte I

Conversando com a Adah, integrante ativa do grupo do Bando de Ruma do Telegram (grupo que se você não faz parte, deveria entrar), tive um insight. Na verdade, um insight antigo que já deveria ter sido posto pra frente há tempos, mas só agora a vontade coincidiu com o tempo livre. Ela, Adah, disse que havia voltado a se interessar por quadrinhos por causa das indicações do Iradex Podcast, e eu prometi fazer uma lista de quadrinhos para quem quer começar a ler esse universo.

É quase unânime que grande parte dos brasileiros atualmente alfabetizados começaram a ler com Turma da Mônica. Se não com as HQs da Mauricio de Sousa Produções, com os quadrinhos da Disney, como Mickey, Pateta, Pato Donald, etc. Mas, em algum momento da vida de muitos, os quadrinhos foram se afastando, e agora, adultos, não sabem como ou não têm interesse em voltar à linguagem. Bem, essa lista está aqui para tentar dar um norte.

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Naturalmente, em uma feira, se você chegasse pra mim perguntando qual tipo de quadrinho eu indicaria, eu responderia com outras questões: o quê você gosta de ler/assistir? Que gênero você gosta de assistir? Romance? Ficção científica? Terror? Ou prefere documentários? Quadrinhos são linguagem, e tal como qualquer linguagem ela pode trazer qualquer tipo de história, e a melhor forma, a meu ver, de trazer pessoas para lerem quadrinhos é entregar em suas mãos HQs de temas que elas já se interessem previamente em outras mídias.

Mas a tarefa de fazer essa lista pressupõe que eu não sei quem vai lê-la. Então, vou atirar para todos os lados. Vou indicar HQs que eu gostaria que tivessem me indicado caso não conhecesse a linguagem, mas vou além. Em cada umas das 30 indicações, divididas em três postagens, vou indicar o nome do quadrinho, o país de origem, os autores, a editora que lançou, o ritmo de leitura e o motivo da indicação, além de, quando necessário, links extras sobre cada obra.

Desses pontos, talvez um dos mais importantes seja o ritmo de leitura. Dependendo do seu interesse em um quadrinho, você pode se dedicar a leituras mais rápidas ou lentas, e qualquer que seja sua escolha ela é correta. Ninguém é obrigado a ler algo muito denso ou algo muito superficial, não ponho juízo de valor nisso. Existem HQs que exigem um certo grau de dedicação e talvez o leitor não tenha saco para isso. Portanto, vou pontuar cada indicação com uma gradação no ritmo de leitura de rápido (leitura mais veloz, sem muitos quadrinhos ou balões, principalmente usado para obras relacionadas a tirinhas), médio (quantidade mediana de texto ou quadrinhos com grandes sequências sem palavras) ou lento (narrativa mais densa, com mais texto, e que precisa de mais dedicação para leitura).

Vamos à primeira indicação que também servirá de exemplo.


a-propriedade-rutu-modan-quadrinhos-para-comecar-a-ler-quadrinhos-iradex-netA Propriedade
Autora: Rutu Modan
País de origem: Israel
Lançado no Brasil pela WMF Martins Fontes
Ritmo de Leitura: Médio
Por que indicar: Minha leitura favorita de 2016. A HQ é protagonizada por Mica, uma jovem israelense que decide viajar com sua avó para Varsóvia para reapropriar um apartamento que era da família mas que teve que ser abandonado devido à ofensiva nazista ao bairro no começo dos anos 1940. O conflito de gerações entre a jovem que não conhece muito de suas origens (um alter-ego da própria quadrinista israelense Rutu Modan, que viajou para Varsóvia para fazer essa HQ, local que ela nunca havia conhecido e no qual nasceu seu pai) e da avó que procura reaver sua propriedade é somente a primeira camada dessa obra. A trama emociona, os personagens coadjuvantes chama a atenção, e o traço da artista é belíssimo. A graphic novel (HQ longa, com começo, meio e fim) de 222 páginas é desenhada em um estilo que lembra a linha clara, escola europeia de quadrinização sem sombreamento e com linhas comportadas. O maior exemplo desse tipo de quadrinização é o Tintim, de Hergé. Ao ler, perceba que dentro das linhas pretas que delimitam personagens, objetos e cenários, só há cores chapadas, ou seja, não existe gradiente ou sombra.
Extras:
- Crítica da HQ no site da revista O Grito
- Entrevista com a autora no site Vitralizado, no qual ela aborda A Propridade também como um comentário sobre a situação Israel-Palestina


Entendeu como funciona a brincadeira? Então vamos continuar com as outras nove indicações dessa postagem.


valente-para-sempre-vitor-cafaggi-quadrinhos-para-comecar-a-ler-quadrinhos-iradex-netValente
Autor: Vitor Cafaggi
País de Origem: Brasil
Lançado no Brasil independente e, posteriormente, pela Panini
Ritmo de Leitura: Rápido
Por que indicar: Como o editor da Mauricio de Sousa Produções, Sidney Gusman, vive dizendo, Vitor Cafaggi é a segunda pessoa que mais vende quadrinhos no Brasil, logo após o próprio Mauricio. A trajetória do mineiro Vitor Cafaggi é interessante. Inicialmente, ele fazia quadrinhos para um blog de um personagem chamado Puny Parker, uma versão infantil, tipo Peanuts, do Peter Parker, a.k.a. Homem Aranha. Tempos depois, devido ao sucesso feito pelo seu trabalho na Internet, ele foi convidado a fazer tirinhas para um jornal, mas não poderia ser com o Puny Parker devido a questões autorais. O curto espaço de tempo para apresentar a ideia fez Vitor misturar o visual de um de seus cachorros, umas histórias de amor adolescente que não deram muito certo, bateu no liquidificador e assim nasceu Valente. A série de tirinhas do personagem começou a ser lançada no jornal, replicada no site e o sucesso foi tanto que as publicações independentes impressas do Valente esgotavam em grande velocidade. Isso abriu os olhos da Panini, maior editora e distribuidora de quadrinhos no Brasil, e Valente agora é lançado por ela. Vitor se encaminha para o lançamento da quinta coletânea do cachorrinho apaixonado e jogador de RPG. Por enquanto, é difícil encontrar os primeiros volumes da série nas livrarias, mas em breve devem ser relançados (torço muito para isso). Para nível de conhecimento e evitar a compra de algum volume no meio da série, a sequência de publicações até agora foram: Valente - Para Sempre, Valente - Para Todas, Valente - Por Opção, Valente - Para o Que Der e Vier e o vindouro Valente - Para Onde Você Foi?
Extra: 
Entrevista com Vitor Cafaggi para o Contracapa, projeto do Avantecast


gaviao-arqueiro-matt-fraction-david-aja-quadrinhos-para-comecar-a-ler-quadrinhos-iradex-netGavião Arqueiro (Nova Marvel)
Autores: Matt Fraction, David Aja e outros.
País de Origem: EUA
Lançado no Brasil pela Panini
Ritmo de Leitura: Médio
Por que indicar: Sim, eu sei, ler super-heróis é na maioria das vezes um trabalho hercúleo. Sagas e mais sagas, arcos e mais arcos, uma história que se liga com outra daqui a trocentas edições, etc. Mas, vai por mim, o Gavião Arqueiro da dupla Matt Fraction (roteiros) e David Aja (desenhos) vale a pena. Basta embarcar na história sabendo que Clint Barton, mais conhecido como Gavião Arqueiro, é um integrante do supergrupo Vingadores mas que, diferente dos deuses e bilionários da tecnologia que formam a equipe, no fim das contas ele é só um cara que atira flechas. E é essa limitação que o personagem vai enfrentar nas edições maravilhosamente desenvolvidas pela dupla supracitada, com algum artista convidado de vez em quando. Entre uma missão e outra com os Vingadores, Clint tem que cuidar da própria vida em um apartamento simples em um prédio simples de Nova Iorque. Dadas as proporções do seu "poder", ele tem que enfrentar mafiosos, lidar com ex-namoradas, salvar um senhor de uma enchente ou mesmo cuidar de um cachorro que foi atropelado. As cores do colorista Matt Hollingsworth são um espetáculo à parte, e a paleta belíssima complementa o traço expressivo do espanhol Aja. A simplicidade das tramas traz um charme especial ao período Fraction-Aja na frente da revista, e o fato do personagem estar longe de ser um dos principais da editora dão espaço a arroubos criativos como a edição 11, na qual a HQ é narrada sob o ponto de vista de um cachorro (cheia de infográficos), e a edição 19, na qual Clint Barton está surdo e os personagens se comunicam através de linguagem de sinais. No Brasil, até janeiro de 2017, dois encadernados foram lançados: Gavião Arqueiro - Minha Vida como uma Arma (volume 1) e Gavião Arqueiro - Pequenos Acertos (volume 2).
Extras:
- Pizza Dog and the Art of Comics: Deconstructing 'Hawkeye' 11
- Hawkeye #19 uses deafness to help a broken Clint Barton find his voice


Magra de Ruim magra-de-ruim-sirlanney-quadrinhos-para-comecar-a-ler-quadrinhos-iradex-net
Autora: Sirlanney
País de Origem: Brasil
Lançado no Brasil gratuitamente pela Internet, compilação impressa de forma independente e posteriormente pela Lote 42
Ritmo de Leitura: Rápido
Por que indicar: A Sirlanney (leia-se Sir-LAN-ney) é um dos maiores nomes do quadrinho independente brasileiro. Cearense de Morada Nova, já viveu parte da vida em Fortaleza, depois foi pro Rio de Janeiro e, agora, no começo desse ano de 2017, se debandou em uma viagem pela América Latina fazendo um diário em quadrinhos que pode ser acompanhado em sua página no Facebook. Página essa que a fez se tornar nacionalmente conhecida, com atualmente com mais de 200 mil curtidores, ávidos para ler sobre as desventuras dessa quadrinista que, além de uma grande amiga, é uma pessoa incrível. Cedo ou tarde, as tirinhas da Sirlanney tocam a gente. Nos momentos de insegurança, de raiva, de tristeza, de tesão. Suas tirinhas e páginas de quadrinhos lançados na Internet acabaram por se tornar um livro com o nome de sua página, Magra de Ruim, lançado de forma independente após financiamento coletivo no site do Catarse. Quando a primeira edição esgotou, a editora Lote 42 relançou seu trabalho, com uma nova capa (morta de linda!). Atualmente, quem quer apoiar a quadrinista em seus projetos pode contribuir para sua campanha no site Apoia.se.
Extras:
- Entrevista com Sirlanney para o projeto Contracapa do Avantecast
- Conheça mais sobre o trabalho da Sirlanney na série Amostra Grátis de HQ, escrita por mim há um tempo no site do Iradex
- Loja da Sirlanney no site Iluria
- Site da Sirlanney, no qual ela posta esporadicamente páginas do seu diário de viagem pela América do Sul.


uma-morte-horrivel-penelope-bagieu-quadrinhos-para-comecar-a-ler-quadrinhos-iradex-netUma Morte Horrível
Autora: Pénélope Bagieu
País de Origem: França
Lançado no Brasil pela Editora Nemo
Ritmo de Leitura: Médio
Por que indicar: O ano de 2016 foi repleto de ótimas publicações de quadrinistas femininas e a Editora Nemo se destacou nesse termo. Uma Morte Horrível narra a história de Zoé, uma hostess (um tipo de recepcionista) que vive fazendo bicos por Paris para conseguir sustentar a ela e a seu namorado, desempregado e irritante. Um dia, ao lanchar perto de uma bela casa, ela troca olhares com um homem que a observa por trás de uma cortina. Thomas é um homem recluso que há tempos não sai para a rua e, depois de Zoé pedir para usar o banheiro de sua casa, ambos se flertam e a partir daí desenrola a relação deles. Ela, uma moça que não gosta muito de ler. Ele, um escritor culto. Desse relacionamento nasce a graphic novel escrita e desenhada por Pénélope Bagieu que traz uma trama bem elaborada, sem exageros, com belas reviravoltas sobre os bastidores do mercado editorial. Essa é a primeira graphic novel da autora, que já se aventurou por compilações de histórias curtas e, inicialmente, publicava ilustrações e quadrinhos em seu blog Ma vie est tout à fait fascinante.
Extras:
- Blog da autora
- Entrevista com a autora feita para o canal Papo Franco-Belga, do brasileiro PH Tirre
- "Editora Nemo e os Quadrinhos Feitos por Mulheres", entrevista do site Lady's Comics com Carol Christo, editora assistente da Editora Nemo


quadradinhas-lucas-gehre-quadrinhos-para-comecar-a-ler-quadrinhos-iradex-netQuadradinhas
Autor: Lucas Gehre
País de Origem: Brasil
Lançado no Brasil gratuitamente pela Internet, compilação impressa de forma independente por meio de financiamento coletivo.
Ritmo de Leitura: Rápido
Por que indicar: Pode parecer piada, mas nem toda história em quadrinhos necessariamente contam uma história. Explico: falei anteriormente que quadrinhos são linguagem. Existem produções audiovisuais, teatrais ou literárias que são poéticas ou dissertativas, ou seja, que não necessariamente contam uma história. Quadrinhos também não precisam contar histórias, eles podem ser dissertativos ou poéticos, e o trabalho de Lucas Gehre se enquadra nesse último exemplo. As tiras divulgadas diariamente em sua página de Facebook se aproveitam sempre da forma quadrada fixa para viajar em experimentações ora narrativa, ora poéticas, minimalistas, sempre com divagações e um forte apelo imagético. No início de 2016, o autor lançou o projeto do Quadradinhas no Catarse, ultrapassando a meta inicialmente proposta para a impressão da compilação de tiras. Confesso que não sei onde encontrar para vender os exemplares, mas caso haja interesse, recomendo perguntar na página do autor que traz, gratuitamente, diversas tiras para você viajar lendo.
- Página do Lucas Gehre no Facebook, com tirinhas publicadas diariamente
- Página do projeto Quadradinhas no Catarse
- Site do autor, com outras produções visuais


cosmonauta-cosmo-eduardo-damasceno-luis-felipe-garrocho-quadrinhos-para-comecar-a-ler-quadrinhos-iradex-netCosmonauta Cosmo
Autores: Eduardo Damasceno e Luís Felipe Garrocho
País de Origem: Brasil
Lançado pela editora Miguilim/Quadrinhos Rasos
Ritmo de Leitura: Rápido
Por que indicar: É difícil encontrar quadrinhos infantis no Brasil, ainda mais em um cenário tomado por Turma da Mônica e Disney. A dupla Eduardo Damasceno e Luiz Felipe Garrocho, mineiros responsáveis por quadrinhos como Achados e Perdidos (primeiro quadrinho brasileiro financiado por meio do site Catarse), Quiral e as Graphics MSP Bidu - Caminhos e Bidu - Juntos, conseguiram realizar em Cosmonauta Cosmo, tudo o que se espera de uma ótima obra infantil: uma trama com criatividade pueril, mas com camadas e lições que podem ser apreendidas pelos olhares atentos de um adulto. Simples sem ser simplório. O pequeno Cosmo quer muito um animalzinho para conversar e brincar nos dias vazios, mas as regras do seu prédio o impedem de conseguir seu sonho. Então, imbuído de um desejo e munido de uma nave espacial, Cosmo vai viajar pelo universo em busca de um amigo. Tecnicamente, o trabalho da dupla é impecável, e o foco dado às onomatopeias, às representações visuais dos sons e que já tem sido bem explorado nas outras obras dos autores, é um espetáculo à parte.
Extra: Crítica de Cosmonauta Cosmo no site Universo HQ


o-cao-que-guarda-as-estrelas-takashi-murakami-quadrinhos-para-comecar-a-ler-quadrinhos-iradex-netO Cão que Guarda as Estrelas
Autor: Takashi Murakami
País de Origem: Japão
Lançado no Brasil pela Editora JBC
Ritmo de leitura: Lento
Por que indicar: Ler mangá para quem não está acostumado com o jeito próprio dos japoneses de fazer quadrinhos, pode ser uma tarefa complicada em um primeiro momento. Começa pelo fato que se lê "de trás pra frente" (ponho entre aspas pois não é possível afirmar que existe um "sentido certo de leitura". Inclusive, em alguns países do Oriente somos nós, ocidentais, que "lemos ao contrário"). Essa mudança de diagramação influencia também na disponibilidade dos quadrinhos e dos balões que também seguem a lógica de leitura da direita para a esquerda, de cima para baixo, sem contar o uso constante das onomatopeias e de outros símbolos gráficos que compõem todo um sotaque diferente para a mesma linguagem que conhecemos do lado de cá do globo. Portanto, começar a ler um mangá sem ser "alfabetizado" pode demorar um pouco mais de tempo, mas, uma vez compreendido o funcionamento, um mundo de possibilidades e de grandes histórias se abre ao leitor, assim como aprender uma nova língua traz novas possibilidade de compreensão do mundo.

Outra característica comum a muitos mangás é a serialização. Muitas histórias duram dezenas, centenas de fascículos, e isso pode afastar, em um primeiro momento, leitores ocasionais, mas muitas HQs fechadas também são lançadas no mercado nipônico (no Japão, essas HQs com começo, meio e fim em uma só edição são chamada de one-shot). É o caso de O Cão que Guarda as Estrelas, de Takashi Murakami. A história começa com a polícia encontrando um carro abandonado. Dentro dele, dois cadáveres: um homem e um cachorro. A partir desse ponto, a história começa a mostrar como os dois chegaram até aquele campo repleto de girassóis, tudo narrado sob a ótica de Happy, o cão que dá nome à história. A inocência e a alegria sempre presente do narrador toca diretamente no coração de quem já teve uma relação mínima que seja com algum animalzinho de estimação, e são caraterísticas que fazer dessa trama uma das mais lindas que já vi em um mangá. Eu nunca tinha chorado lendo quadrinhos. Até ler esse.
Um adendo: No começo da HQ, Happy é adotado de uma caixa em que se encontra outro filhotinho, no caso, seu irmão, e a história dele é narrada em outro mangá do mesmo autor intitulado O Outro Cão que Guarda as Estrelas, também lançado no Brasil pela Editora JBC (esse ainda não tive a oportunidade de ler). Ah, e o quadrinho chegou a ganhar uma adaptação para o cinema.
Extras:
- Crítica de O Cão que Guarda as Estrelas no site Universo HQ
- Crítica de O Outro Cão que Guarda as Estrelas no site Universo HQ


so-voce-pode-ouvir-hiro-kiyohara-otsuichi-quadrinhos-para-comecar-a-ler-quadrinhos-iradex-netSó Você Pode Ouvir
Autor: Hiro Kiyohara e Otsuichi
País de Origem: Japão
Lançado no Brasil pela Editora JBC
Ritmo de Leitura: Médio
Por que indicar: Mais um mangá, mais uma one-shot e mais uma trama dramática. Quadrinizado pelo desenhista Hiro Kiyohara a partir de um conto do escritor Otsuichi, Só Você Pode Ouvir conta a história de Ryo Aihara, uma colegial, clássica personagem do imaginário japonês. Ryo é tímida, reclusa, não tem amigos, nem um celular, na época em que ser dono de um desses aparelhinhos ainda significava certo status. Um dia, ao chegar em casa, ela decide imaginar qual seria o celular ideal. Pensa na cor, no modelo, até mesmo em qual toque ele teria. Acontece que o aparelho imaginário começa a tocar, e do outro lado da linha está um rapaz. Falar mais sobre essa trama de realismo fantástico pode estragar a trama bem elaborada que trata de solidão, amizade e tempo. A edição da JBC é bem bonita, com direito a algumas páginas coloridas (coisa rara de se encontrar em mangás). O mangá ganhou uma adaptação para cinema em 2007.
Caso tenha interesse nesse quadrinho, indico também outra colaboração da dupla Kiyohara e Otsuichi, o mangá Feridas, que narra a história de um rapaz com o poder de curar os ferimentos dos outros ao "puxar" os hematomas para si próprio.
Extra: - Avanterresenha de Só Você Pode Ouvir feita pela Alessandra  JJ para a página do Avantecast


placas-tectonicas-margaux-motin-quadrinhos-para-comecar-a-ler-quadrinhos-iradex-netPlacas Tectônicas
Autora: Margaux Motin
País de Origem: França
Lançado no Brasil pela Editora Nemo
Ritmo de Leitura: Médio
Por que indicar: Como falei anteriormente na parte da graphic Uma Morte Horrível, a Editora Nemo trouxe muitos quadrinhos escritos por mulheres em 2016 para as livrarias do Brasil, e uma das autoras dessa lista é a francesa Margaux Motin. Com um humor escrachado, repleto de palavrões, a autora narra pequenos episódios da sua vida, uma autobiografia sobre sua relação com o trabalho, com a filha (os momentos mais hilários na minha opinião), com as amigas, com os namorados e com ela própria. A autora experimenta ao misturar narrativa desenhada com fotografias, criando situações poéticas ou que lembram desenho animado. O traço expressivo de Margaux reverbera na história, potencializando tanto as piadas quando os momentos mais dramáticos, fazendo de Placas Tectônicas um quadrinho repleto de sentimento. Outro detalhe técnico: a autora quase nunca utiliza requadros, aqueles tradicionais quadros nos quais as ações das HQs costumam se desenvolver, o que traz uma dinamicidade ainda mais a cara dos desenhos animados para as microtramas que compõem a obra. Apesar de ser um quadrinho intimista, Margaux torna tudo muito fluido, com muito movimento.
Extra: Crítica de Placas Tecnônicas no site Universo HQ


Gostou da lista? Espero que sim. Como toda lista, essa também é uma compilação injusta. Muita coisa deve ficar de fora, mas, mesmo assim, ainda espero colocar muitas indicações de qualidade nesses posts. Você lê quadrinhos? Tem outras HQs que você acha interessante estar nessa lista? Fala aí nos comentários quais vocês acham interessante.

É isso aí, nos vemos na parte 2 desse Quadrinhos para Começar a Ler Quadrinhos. E se quiser conhecer mais sobre o mercado de HQs, temas relacionados à mídia e outras informações, convido você a curtir a página do Avantecast e assinar o nosso feed para receber semanalmente os programas sobre quadrinhos que produzimos.

Parte 2 | Parte 3

PS.: Agradecimentos mais do que especiais a Amanda Alboino, por me ajudar a editar a lista de indicações e revisar o texto, também a Adah Conti, Aline Hack e Thayná Lomba por me pilharem para começar a escrever essas indicações. Valeu, gente!

LEIA TAMBÉM A PARTE II DO TEXTO