Por Mackenzie Melo
Sempre gostei de assistir novela. E, mesmo que não gostasse, é quase impossível, sendo brasileiro, de não ser influenciado por elas. São uma marca de nossa cultura, desejemos ou não.
Ao assisti-las (algo que tenho feito bem menos nos últimos anos) gosto muito de prestar atenção em duas coisas: abertura e trilha sonora. O que quero indicar aqui hoje tem a ver com ambas as coisas e ao mesmo com nenhuma delas.
Nomes nos tornam únicos. Pelo menos é assim que nos sentimos pois só eu tenho o meu nome, certo? Naturalmente que não, mas de uma maneira geral não é muito comum encontrarmos alguém o mesmo nome que a gente. Quer dizer, não com o mesmo nome completo. José e Maria, por exemplo, são nomes fáceis de encontrar. Silva também. Sobrenome, claro, mas também o encontramos aos borbotões. E José Maria, então? De tão comum parece até nome genérico.
Essa é a primeira ligação entre as novelas e a indicação. Nas aberturas, sempre presto atenção no nome dos atores/atrizes. Não encontraremos nenhum nome repetido dentre eles. Isso é natural e me faz lembrar a confusão de anos atrás quando Ronaldinho e Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo e Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo Fenômeno e Ronaldinho (ah, foram tantas iterações...), bom vocês entenderam. E dentre todos os nomes que aparecem, o que eu mais espero aparecer é o nome de algum artista que tenha apenas uma palavra. É incomum um artista ter apenas uma palavra em seu nome artístico. Naturalmente que iremos lembrar de vários, agora que fomos instigados a pensar nisso, mas essa lista é bem menor que a lista com nomes compostos. Ou seja, para cada Djavan, existem dezenas de Gilbertos Gis e para cada Gretchen existem dezenas de Ivetes Sangalos. Para cada Elizângela existem dezenas de Aracis Balabanians e para cada Mussunzinho existem dezenas de Tony Ramos.
O artista que quero indicar é Silva. Isso mesmo, Silva. Só Silva. (Fico pensando quantas vezes foi perguntado a ele “Silva? Só Silva? Mesmo?”)
Existe sobrenome mais presente em nossa cultura que Silva? Tudo bem, sei que tem outros, mas esse deve estar bem perto do topo da lista.
Entretanto, o que acho interessante nesse nome é que ele não é parte do nome composto do artista tipo Orlando Silva, Moreira da Silva ou Bezerra da Silva.
Silva é o nome artístico dele. Nome completo: Lúcio Silva de Souza. Então, o nome dele é Silva e parte do sobrenome também.
Silva é músico e música para meus ouvidos. E essa é a outra conexão com as novelas que falei no começo. Nestes últimos dias ele tem sido a trilha sonora dos meus dias.
Minha esposa me apresentou a ele dizendo assim: “Não sei se já o conhece, mas... os álbuns dele tem bem o estilo que você gosta.” Ela, como sempre, acertou em cheio.
Comecei pelo álbum de 2014, Ocean View. É o segundo álbum dele e o meu preferido até agora. Um gingado brasileiro tranquilo, sem pressa, como que dando toques de aquarela em estilos variados, do eletrônico ao pop, passando pela MPB, tudo em ritmo suave que nos convida a nos balançar numa rede à beira da praia, tomando água de coco. Pesquisando um pouco a respeito dele, descobri que esse título Ocean View é de uma tentativa dele (ou da gravadora, não sei) de lançá-lo internacionalmente. O álbum original se chama Vista Pro Mar. Ocean View tem duas músicas extras. Versões em inglês de duas músicas do próprio álbum. Janeiro (January) e a música título do álbum. Não sei é por estar ouvindo no primeiro mês do ano, mas uma das minhas preferidas é exatamente ela, Janeiro. Okinawa – com participação de Fernanda Takai – também é excepcional.
Enquanto ouço Silva Canta Marisa, o quarto e mais recente trabalho dele, escrevo esse texto. Lançado em 2016, ele reinterpreta Marisa Monte. Que tarefa difícil! Marisa Monte esmera seus álbuns com tanto carinho que é complicado alguém conseguir imprimir uma outra alma à sua música. Silva consegue. Seu ritmo e sua voz são tão suaves que as músicas parecem novas sem perder aquele ar de “ei, eu acho que conheço essa música”. Deste álbum destaco Beija Eu e a música que Silva compôs com seu irmão Lucas Silva e a própria Marisa Monte – que também canta na faixa – Noturna (Nada De Novo Na Noite).
Já Júpiter (desculpe pela cacofonia), o terceiro long play – alguém lembra o que é isso? – lançado em 2015 difere um pouco dos dois citados anteriormente. Com uma pegada mais romântica, mas ao mesmo tempo um pouco mais “acelerada” – se é que podemos chamar as músicas de Silva de aceleradas – ele aposta em algo mais pop e com letras mais simples. Meus destaques ficam por conta de Feliz e Ponto que causou um certo furor quando o clipe da música foi lançado, Io e Sou Desse Jeito.
Encerrando a indicação, cito o primeiro álbum dele, Claridão, que é uma extensão de seu primeiro EP, 2012, ambos lançados em 2012. Aqui ele já mostrava o seu estilo diferenciado que parece embalar, como falei acima, uma rede em dias de férias e descansos merecidos. Este trabalho, entretanto, parece ser o mais experimental de todos e imagino que tenha sido assim por ser o primeiro, onde ele estava ainda cru e com milhares de ideias. O som do álbum é diferente, como se estivéssemos dentro de um ambiente que abafa o som, criando a sensação de um ambiente pequeno, com paredes macias que amortecem o som e não permitem que o som, mesmo alto, incomode os ouvidos. É uma experiência diferente. Meu destaque fica por conta de Falando Sério e Cansei.
Silva tem ainda outros álbuns. Silva Canta Marisa (Ao Vivo) e Ocean View Remixes que, pelo nome, dá para perceber que são baseados em seus trabalhos anteriores.
Entendo que – como tudo neste mundão – Silva não é para todo mundo. Dê uma chance de ele crescer em suas papilas gustativas sonoras. Depois de ouvir algumas vezes você vai se pegar balançando suavemente na cadeira, ou batendo o pé no chão, ou andando num ritmo diferente com seus headphones pendurados no ouvido como naqueles comerciais de tv.
Ah, e ele já teve pelo menos uma música em uma novela. Feliz e Ponto, em Malhação. Eu sei, eu sei, não precisa me falar nada sobre isso... 😊
Ah de novo. O nome Silva pode até parecer genérico, mas não é. A música dele também não.
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