Primeiros Segundos #11 - Os Números Ganhadores são: 13, 14 e 7 | Iradex

Primeiros Segundos #11 - Os Números Ganhadores são: 13, 14 e 7

A sociedade está polarizada. Classe social, status e até mesmo a cor da pele são fatores determinantes para estabelecer o nível de poder de cada um. A conscientização e a união são as duas maiores forças para virar o jogo. Um jogo sujo? Talvez. Mas só ganha quem aceita jogar.

Calma, calma, não é do Brasil que eu estou falando. Aperte o play que eu explico melhor.

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Texto, locução e edição por Mackenzie Melo. Edição complementar por Roberto Rudiney. Participação especial: Alex Nunes.


Os Números Ganhadores são: 13, 14 e 7 (versão em texto)

Chorei pela primeira vez ouvindo um podcast e foi por isso que decidi escrever sobre ele antes daquele outro texto. Bom, você já sabe a história, então, chega de lenga-lenga. Quer dizer, sabem só uma parte dela. Deixa eu contar a outra parte.

Estou vindo para o trabalho e decido colocar Bronzeville, o podcast que eu citei acima, para continuar ouvindo. Já tinha ouvido três episódios da série, ou pelo menos, era isso que eu achava.

É que é assim. Eu uso três aplicativos de Podcast. (1) Podcast Addict – uso a versão grátis há pouco tempo, que instalei depois que tive que trocar de celular e perdi a minha lista de episódios e podcasts que construí por anos no (2) BeyondPod que ainda considero melhor que o PA, mas que perdeu pontos por manter a lista salva apenas localmente. [Eu sei, eu devia ter pensado nisso antes... Vai entender minha cabeça...] E, por isso mesmo, o aplicativo que tenho usado com mais frequência é o (3) Google Play Podcast. Como ele se integra onde quer que você tenha conta no Google, todos os episódios e podcasts que eu assino ficam registrados lá. Isso facilita muito a vida de quem tem muitos aparelhos diferentes onde ouve as coisas. E, dentro de cada podcast, naturalmente, ele vai marcando os episódios já ouvidos, os meio-ouvidos e os já finalizados. Ou, pelo menos, é isso que eles deveriam fazer melhor.

Esse foi o motivo pelo qual achei que tinha ouvido apenas três episódios. O Google Play desmarcou que eu já tinha ouvido o episódio 4 e foi por ele que recomecei a ouvir. O episódio começa e eu digo a mim mesmo: “Já ouvi esse. Acho que vou pular para o próximo”. Enquanto decido, as atuações me prendem novamente à história e penso: “Ah, vou continuar. Vai que eu esqueço algo que aconteceu no episódio anterior...” Assim eu fiz; e fiz muito bem por fazer isso.

Bronzeville, um “teatro auditivo para a mente”, é uma história contada nos anos 40’s nos Estados Unidos na vizinhança (neighborhood) de mesmo nome na cidade de Chicago, no meio-oeste norte-estadunidense. A cidade onde os Bulls apareceram e mostraram para o mundo o maior jogador de basquete de todos os tempos e que tornou Al Capone famoso é também referência na luta pelos direitos dos negros na sociedade Estadunidense do Norte. Parece uma série deslocada de nossa realidade? Pode parecer. Está deslocada? Não.

Somos apresentados a personagens que vivem as agruras e as facilidades do dia-a-dia, sejam eles ricos ou pobres (de que?), bons ou maus (quem são?), brancos ou negros. Bom, neste caso, infelizmente, a cor da pele influencia muito.

A primeira temporada de Bronzeville – que já se encerrou e nos deixa com aquele gostinho de, cadê a segunda? – gira em torno da família Copeland e sua influência na cidade através do controle da jogatina – que se chama Policy Game – parecida com o nosso famoso jogo do bicho. O chefe da família está preso, Everett, mas prestes a ser libertado e quem controla os negócios enquanto ele não sai é Curtis “Eyeball” Randolph, interpretado por Laurence Fishburne – ele mesmo, Morpheus de The Matrix.

Isso sem esquecer, é claro, aqueles que aparentemente irão se tornar protagonistas ainda mais importantes nas temporadas subsequentes da série: Jimmy “Lucky” Tillman – um sortudo e impetuoso jovem que foge para Bronzeville de sua cidade no Arkansas – e Lisa Copeland, a irmã mais nova da família que demonstra, aos poucos, que é mais do que aparenta.

Com diálogos e interpretações dignas de qualquer grande produção de entretenimento, Bronzeville se destaca entre os áudio-dramas por fazer uma ambientação perfeita, seja em grandes galpões, em bares, dentro de carros ou em cenas de tiroteio que nos colocam bem no meio da ação. Surpresas emocionantes e momentos de tirar o fôlego foram suficientes para, no meio da temporada, um acontecimento me pegar de surpresa e, como falei no começo, me fazer chorar e me sentir desprotegido, me perguntando: “o que é que eu faria se vivesse uma situação semelhante em minha vida”.

Bronzeville, que só veio a se tornar um podcast por não ter sido apoiado para ser filme, nem série de tv, tem mais de cem personagens, vividos por aproximadamente cinquenta atores que nos transportam para um momento histórico mais que importante na vida nos negros dos EUA. Enquanto a segregação oficializada ainda estava em pleno vigor, e ainda perduraria por pelo menos mais 20 anos, vemos a luta de cidadãos negros que conseguem, em uma cidade onde a maioria já era “de cor”, tentar convencer outros que a melhor maneira de mudar não é apenas através de violência e nem de apenas um ou outro negro se destacarem. É importante, “tem que lutar. E para lutar, é preciso que se esteja organizado” e que, além disso, votar é indispensável. “Olha o que aconteceu com Bronzeville quando começamos a votar. Mas mais importante ainda, olha o que aconteceu quando começamos a falar com os outros sobre a importância de votarmos. Construímos poder, mas um poder real”. Ao que alguns podem dizer: “Mas o sistema é corrupto”. “Sim, é corrupto. Mas você não conseguirá ganhar o jogo se não jogar”.

Ainda hoje precisamos a prender a jogar o jogo corretamente, apostando no que é mais correto para todos e não apenas na intenção de ganhar só para mim ou só para aqueles que se parecem comigo. A história está aí para mostrar que quanto mais nos tornarmos includentes e pensarmos mais nos outros que apenas em nós mesmos, mesmo que demore, nossa sociedade tenderá a ser cada vez melhor.

P.s.: teve um segundo acontecimento na série com o qual também me emocionei, apesar de menos do que no primeiro que falei acima. Quem sabe quando alguém ouvir poderemos conversar sobre esses momentos... Topam?

P.s.2: Quando sair a segunda temporada eu revelo algum spoiler da primeira. Espero ainda estar empregado até lá, mesmo sem ter conseguido entregar, até hoje, o primeiro texto...


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