Todos aqueles que conheço estão mortos ou estão presos. Eu quero me tornar um boss. Quero ter supermercados, lojas, fábricas e quero ter mulheres. Quero três carros. Quero ser respeitado quando entrar em uma loja. Quero ter armazéns em todo o mundo. E depois quero morrer. Mas morrer como alguém verdadeiro. Alguém que verdadeiramente comanda. Quero morrer assassinado.
Esse pensamento é de um garoto italiano encarcerado por envolvimento criminoso com a Camorra. A máfia Napolitana que age na região da Campânia usando métodos violentos e organização empresarial que lhe faz ser conhecida como "O Sistema". Substituindo muitas vezes "O Estado" na vida da população local.
O livro-reportagem Gomorra, do jornalista Roberto Saviano, relata em detalhes o criminoso mundo dos negócios dessa máfia com ramificações em diversos países.
Sendo difícil distinguir quanta riqueza é produzida diretamente com sangue e quanta por meio de fraudulentas operações financeiras, contrabando e lixo tóxico.
Uma região portuária histórica com logística privilegiada para receber e distribuir diversas "mercadorias" pela Europa.
Uma disputa entre famílias pelo poder e dinheiro que lembra a Guerra dos Tronos com traições e muito derrame de sangue.
Uma desigualdade entre o luxo dos chefões com suas mansões contra a pobreza dos bairros onde recrutam seus "soldados". Verdadeiras "Cidades de Deus" italianas.
Esses são os ingredientes que fazem essa história real difícil de ser digerida. Pois o crime fascina muitos jovens, recrutados inicialmente para pequenas atividades na organização até o momento de pegaram numa AK-47 para matar.
A arma que mais mata no mundo é destaque em um capítulo que relata o encontro de um admirador camorrista com Mikhail Kalashnikov, criador do rifle automático.
Aqueles que não se envolvem com o crime veem suas chances de trabalho diminuir ao dizer que nasceram na terra da Camorra. Caso do autor, que desistiu de ir trabalhar na Irlanda para escrever sobre o que sufoca milhares e destrói vidas. Hoje, ameaçado de morte, vive sobre a proteção da polícia em local desconhecido.
Nasci na terra da Camorra, no lugar com o maior número de assassinatos da Europa. No território onde a violência está ligada aos negócios. Onde nada tem valor se não gera poder. Onde tudo tem o sabor de uma batalha final.
Um livro brutal e perturbador mas fascinante e envolvente que mostra as entranhas do crime no sul da Itália e sua influência pelo mundo.
Sabe aquela roupa de grife italiana que muitos querem? Ela provavelmente foi fabricada em um galpão da Camorra pela mãe do garoto que sonhava virar o novo poderoso chefão.
Resenha por Bruno Garcia.
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