Deixando Neverland | Caça aos Fatos | Iradex

Deixando Neverland | Caça aos Fatos

Deixar "A Terra do Nunca" e suas atrações para uma criança que se recusa a crescer pode ser difícil. Esquecer "Neverland" e seus traumas para uma criança que cresceu iludida e abusada é impossível.

O entretenimento está numa tendência de exaltar as lendas musicais, como Freddie Mercury e Elton John, reaquecendo mercados e carreiras. Michael Jackson estava na fila esperando um bom projeto para ter vida e obra contada, tocando corações dos fãs antigos e conquistando uma nova geração curiosa.

A mídia que lucra com a nostalgia, álbuns póstumos, tributos, hologramas, filmes e prêmios e a mesma que expõe as faces mais sujas e degradantes daqueles que costumávamos idolatrar. Levantar para derrubar?

Se a ficção sobre o astro mirim, hit maker juvenil e adulto perturbado não saiu do papel para o exaltar, o detalhado e duro documentário Deixando Neverlandproduzido pela HBO, veio destronar o rei.

As suspeitas, baseadas em relatos passados, que muitos já tinham se fortalecem e quase não deixam dúvidas. Saímos praticamente convencidos que o "Rei do Pop" era um predador sexual que abusava das crianças ao seu redor.

UNSPECIFIED - JULY 11: Michael Jackson with 10 year old Jimmy Suchcraft on the tour plane on 11th of July 1988.(Photo by Dave Hogan/Getty Images)

Dividido em duas longas e pesadas partes com depoimentos detalhados dos abusos sexuais sofridos por duas vítimas quando crianças, o documentário acrescenta áudios, cartas e imagens que deixam evidentes o "afeto" e "desejo" do ídolo pop que aliciava famílias e seus filhos para um íntimo mundo lúdico.

James Safechuck, o garoto do comercial da Pepsi, era figura constante nas turnês e temporadas de "diversão" no rancho californiano até entrar na adolescência e ir gradativamente perdendo espaço.

Wade Robinson, o cover infantil australiano, encantou o popstar e foi para Los Angeles afim de ficar próximo do astro e das oportunidades até ser substituído por Macaulay Culkin no clipe de Black or White.

Em comum, as experiências de aproximação, convencimento de familiares e sedução que Michael usava para atrair meninos a sua cama compartilhando "brincadeiras sexuais" que afetaram a vida destes.

Os pais fazem mea culpa sobre a cumplicidade na guarda quase compartilhada das crianças com um adulto rico e famoso e os abusados carregam mágoas naturais decorrentes do abandono posterior pelo ídolo. Porém a narrativa coerente caracteriza o relacionamento amoroso entre os envolvidos como abusivo de incapazes, baseado na confiança passada por uma "criança grande" que tinha poder.

Se o filme avisa que os relatos de abusos podem incomodar quem assiste, as consequências são igualmente tocantes para quem escuta. Um filme necessário que merece ser visto e discutido.

Duro de assistir. Difícil de ignorar. Impossível de esquecer.

Rever a história. Recontar o passado. Esclarecer dúvidas. Os documentários cumprem seu papel.

Os ídolos caem. Os abusos aparecem. O legado apaga? A música permanece?


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