Entre os inúmeros gêneros e estilos da música erudita, existem alguns que, apesar de desconhecidos do grande público, são brilhantes e esteticamente muito bonitos. Por isso, continuo a missão de desbravar esses gêneros musicais, sempre me surpreendendo. Nesta coluna irei falar de dois estilos de obras pautadas na liberdade criativa e na complexidade de execução do músico: o Capricho e a Fantasia
Um Capricho é um tipo de composição de caráter livre, onde o músico pode demonstrar sua capacidade técnica e virtuosismo. Quando surgiu o Capricho, ele apareceu como uma peça escrita para piano e bons exemplos de obras deste estilo são os Caprichos de Girolamo Frescobaldi (1553-1583). O Capricho chegou ao barroco para fazer parte da Suite – conjunto de movimentos instrumentais dispostos com algum elemento de unidade, para serem tocados sem interrupções –, que é uma estrutura semelhante à Toccata e ao prelúdio (este último, reproduzido no início de uma composição).
No romantismo, o Capricho torna-se praticamente uma fantasia, tocada de forma livre, porque em ambos destaca-se a habilidade e o improviso demonstrados pelo artista. Assim são os Caprichos para violino de Niccolò Paganini (1782-1840), onde o virtuosismo reina em todo o trabalho. Este virtuosismo é a técnica do músico, sua intimidade com instrumento, sua maneira própria de tocar.
No final do romantismo surgem exemplos de Caprichos escritos para orquestra, compostos somente para um tipo de instrumento. Dois dos exemplos mais famosos são o Capricho Espanhol de Nikolai Rimsky-Korsakov (1844-1908) e o Capricho Italiano de Piotr Tchaikovsky (1840-1893).
Na terminologia musical, há uma indicação para que o instrumentista execute o trabalho com velocidade e estilo livre e variável: "Um Capricho", ou seja, executado ao gosto do intérprete.
Já a Fantasia é uma obra musical construída em volta da improvisação, raramente presa à forma do período a que está relacionada. Seu primeiro uso foi registrado no séc. XVI, onde servia para exprimir uma ideia musical. Os primeiros a comporem a "Fantasia", utilizavam peças de comprimento variável que, ao invés de simples transcrições, eram escritas especialmente para um instrumento. Podemos classificá-las de "Fantasias Fantásticas", porque expressavam o estilo musical, de improviso e sem formas definidas e, ao mesmo tempo, eram extravagantes e imaginativas. À medida que o status da música puramente instrumental foi elevado na era barroca, as estruturas musicais apropriadas começaram a se definir.
Sua forma e estilo variam desde o puro improviso até o uso rigoroso do contraponto, esta, uma arte de sobrepor uma melodia à outra. Ao atrair particularmente a imaginação romântica, a Fantasia serviu, desde o início, como um veículo para a criação instrumental da música e seu uso serviu, de forma geral, para destacar como a execução do músico pode modificar uma composição.
Aproveite para ouvir essas obras de estilo livre e aprecie a grandiosidade dos músicos. Ouça sem moderação e embarque nessa viagem.
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O Cravo Bem Temperado é uma coluna escrita por Vinícius Hilário, para nos aproximar da música erudita com um olhar atual e descomplicado.
Experimente, aprofunde-se, e deixe a boa música guiar suas emoções.