Nunca se sabe quando um gesto, por mais simples que seja, poderá trazer a felicidade plena para alguém. A qualquer momento a vida pode mudar, então sejamos sempre os donos da esperança.
Felicidade Plena é um tocante conto escrito por Emilia Braga e distribuído em primeira mão aqui no Contos Iradex. Embarque nessa leitura.
FELICIDADE PLENA
Dia desses eu corria no quintal da minha casa, brincando com as crianças, festejando o calor do verão e a piscina inflável nova. Os tempos têm sido bons, quase nunca lembro da época de dificuldades. E nem é bom lembrar mesmo. Quem gosta de ficar triste, não é?
Ter comida fresquinha, atenção, carinho e cuidados... Parece o paraíso. E é! Principalmente para alguém como eu. Para alguém que viveu o que eu vivi e nunca esperei nada além da sorte de um pão dormido.
Demorei um pouco pra acostumar com os pequenos. Eles fazem uma algazarra, correm, gritam, chega a doer meus ouvidos! Mesmo assim, pouco tempo depois, foi com eles que passei a me divertir de verdade. Os adultos são mais tranquilos e silenciosos, exceto aquela bruxa que vem aos finais de semana e que torce o nariz pra mim. Eu também não gosto dela e não escondo, mas logo brigam comigo e me põem de castigo no quarto. É sempre assim. Sem-pre! Por que ela pode me destratar e eu tenho que ficar calado? Não entendo algumas regras... Mas, ah!, não demora muito até que as crianças me resgatem e me chamem para correr pela casa, pra assistir aos jogos de video-game. Fico bobo como elas entendem aquele tanto de botão naquele trequinho preto. Crianças são demais!
Dia desses o mais danado de todos, o Samuca, quebrou umas coisas na cozinha e jogou a culpa em quem? Em quem? Em mim! Nossa, nem consigo narrar os momentos terríveis que vivi naqueles minutos. Ameaças, algumas verdades inconvenientes e a citação do meu passado! Fiquei com medo. Chorei, até. Pedi desculpa do meu jeito, mas acho que a Flávia não aceitou meu pedido. Falou que eu saísse dali e nada mais disse. Pouco tempo depois, ela me deu um biscoito e tudo ficou bem. Acho que o Samuca assumiu a culpa, ou a Flávia percebeu que não fiz nada mesmo. De qualquer forma, o biscoito estava delicioso, era de leite, meu preferido!
Mas eu estava contando pra vocês do dia que eu brincava com as crianças no quintal, não é? Pois bem... A piscina estava cheia de água! Cheia, cheiona! Me lembrei do chafariz daquela praça. O chafariz onde eu me refrescava. Foi lá que conheci o Alf. Eu o chamava assim, mas o adultos daqui o chamam de Luiz, e as crianças o chamam de Vovô. Nunca vi uma pessoa com tantos nomes!
Eu latia, abanava o rabo e Alf me dava pipocas e carinho na barriga. Eu torcia para ele me levar pra casa um dia. Acho que pedi com tanta força que ele me ouviu.
Eu amo meus humanos, especialmente o Alf. <3
Esse conto foi escrito por Emilia Braga para o Contos Iradex. Para reprodução ou qualquer assunto de copyright a autora e o blog deverão ser consultados.