O amor é uma droga, e somos todos viciados nela. É a essa constatação que chegamos neste livro que provavelmente você já teve em mãos e desistiu de ler quando viu na capa a palavra DOSTOIÉVSKI.
“Deveria afastar-me nesse momento, mas nasceu então em mim certa sensação estranha, certo desafio ao destino, um desejo de dar a este um piparote, mostrar-lhe a língua.”
Minha missão hoje aqui é desmistificar esse lance de que literatura russa é chata e complicada. Se me acompanharem até o fim, acredito que podem até simpatizar pelo velho Dostô. Afinal, quem nunca sofreu por amor? Quem nunca sentiu que seria capaz de tudo pela pessoa amada? Quem nunca prometeu pular do Schlangenberg? Quem nunca? Posso garantir que eu já senti isso, e pelo visto o Aleksiéi também.
É ele mesmo que nos conta isso tudo, narrando suas desventuras em um verão da metade do século XIX. Trabalhando como professor para os filhos de um general quase falido, Aleksiéi vê sua vida virar de cabeça pra baixo quando a família toda vai passar algumas semanas em uma cidadezinha alemã chamada Roletenburg (nome bem sugestivo). Perdidamente apaixonado pela enteada do general, Polina, mas sem grana suficiente pra ser notado por ela, nosso jovem herói vê sua chance de ouro (literalmente) nas roletas do cassino.
E eis que Dostô nos faz a seguinte pergunta com a qual podemos facilmente resumir toda a sua obra: até onde você iria por seu amor?
Outro atrativo do livro são as estranhas circunstâncias em que foi escrito. Em 1866, Dostoievski estava atolado em dívidas, algumas suas e outras herdadas após a morte de seu irmão. Uma dessas dívidas lhe obrigava a escrever um romance com determinado número de páginas até 1º de novembro, senão todas as suas obras nos próximos nove anos seriam publicadas por um editor trambiqueiro que não lhe daria um centavo por elas.
Como estava muito ocupado escrevendo aquela que seria sua obra prima (Crime e Castigo), o grande Dostô teve apenas vinte dias para escrever o bendito livro que lhe salvaria a pele da miséria, há exatos 147 anos.
Um livro “feito nas coxas” é hoje uma de suas obras mais famosas, traduzida pra quase todas as línguas conhecidas (inclusive klingon e a língua do P). É uma excelente forma de se conhecer não só a obra desse monstro da escrita, mas também um pouco da temida literatura russa (que é bem tranquila meu povo!)
Recomendo a tradução da Editora 34 (vão encontrar ele pelo título de Um Jogador), pois é direta do russo para o português, fugindo do caminho antigo (russo -> francês -> português) utilizado pela maioria das outras editoras. Outro ponto positivo da 34 são as notas de rodapé, que ajudam bastante a entender o contexto da obra e enriquecem bastante a leitura.
É isso pessoal, espero que tenham gostado e peço que coloquem nos comentários sugestões pra futuras resenhas de livros que ninguém tem coragem de ler e não sabem o que estão perdendo!