Toda vez que alguém fala "Hollywood não tem mais criatividade, só vive de remake e reboot!" eu reviro os olhos. Não que eu não concorde que existe muita repaginação de coisa antiga no cinema, mas é que várias delas são coisas muito legais! MIB: Homens de Preto - Internacional (nome desnecessariamente longo) é um desses spin-offs que me deixou empolgado ao ser anunciado, já que o primeiro filme é um clássico dos anos 90 e suas sequências deixaram a desejar (apesar de não serem nem de perto tão ruins quanto o imaginário popular os pinta). A mudança de personagens principais poderia ser um sopro de ar fresco pra série.
E é justamente a nova dupla protagonista que rouba a cena. Tessa Thompson e Chris Hemsworth tem muita química entre si, o que é de se esperar já que ambos estrelaram juntos Thor: Ragnarok. Essa é inclusive a interpretação mais cativante que já vi de Tessa, fazendo uma mulher focada em seus objetivos de uma maneira um tanto obcecada e um pouco deslocada da realidade, equilibrando muito bem com o charme bobão já conhecido por quem já viu outras comédias com Chris Hemsworth. Eles são os Homens de Preto da vez, membros da organização secreta que já conhecemos e amamos, que protege o mundo de ameaças extraterrestres. É mais uma daquelas dinâmicas de novato e veterano que já vimos em vários filmes policiais, mas os atores são carismáticos o suficiente para que o público queira acompanhá-los. Inclusive não é sentida a falta em nenhum momento dos protagonistas antigos (que são até referenciados visualmente em um momento), já que eles não são exatamente comparáveis aos novatos, deixando ambas as duplas brilhares, cada uma de seu jeito.
Apesar disso, existem coisas que vimos em outros filmes da série que fazem falta aqui, como por exemplo a quantidade e variedade de alienígenas com designs malucos e interessantes aparecendo ao longo da história. Claro que aparecem algumas criaturas interessantes, como uma agente da MIB que parece um desenho animado vivo, ou o alien que se disfarça como a barba de outro alien. Porém, principalmente no primeiro filme, havia a presença de mais bichos diferentes entre si, o que populava o mundo (e a agência) melhor. O visual do vilão final é completamente sem graça e personalidade. Existe, porém, uma exceção a essa “regra”, que são os vilões que mais aparecem, dois "gêmeos" com poderes elétricos que, apesar de tomarem a aparência de pessoas normais, têm uma forma original que se parece com mini galáxias ambulantes em um molde humanoide. Toda vez que eles apareciam eu ficava realmente impressionado. Gostaria de ver personagens em outras obras usarem esses de inspiração.
Outra coisa que faz falta são cenas de ação mais empolgantes. O filme apresenta talvez dois tiroteios, duas brigas mano a mano (simultâneas) e uma perseguição, quantidade decepcionante para uma aventura desse tipo, e nenhuma delas é especialmente impressionante.
O filme tem uma trama clássica de histórias de mistério: nem todos que vemos são quem dizem ser. Essa incógnita se estende por boa parte da história e é até interessante, mas a virada para a descoberta da verdade mesmo assim não parece bem construída. Existem elementos ali que dão a impressão de terem sido jogados ou mal aproveitados, como a descoberta que H (Hemsworth) faz sobre si mesmo. As melhores partes do roteiro são mesmo as interações entre personagens, apesar de apresentar alguns que não acrescentam muito, como Pawny (um ETzinho dublado pelo Kumail Nanjiani), o alívio cômico desnecessário e com uma personalidade meio genérica (apesar de ele ter seus momentos) ou a ex-namorada de H (Rebecca Ferguson, de Missão Impossível 5 e 6) que poderia ter sido melhor desenvolvida ou até mostrada em momentos diferentes antes de quando ela realmente aparece, em uma única cena.
Uma coisa legal que é novidade são as cenas que se passam ao redor do mundo. Temos desertos, ilhas na Europa, cidades na África, cenas urbanas, pontos turísticos. A produção levou bem a sério o subtítulo "Internacional", o que faz com que exista uma diversidade de ambientes que não deixa o filme monótono e limitado a ambientes urbanos como nos três primeiros MIB. Em alguns momentos me lembrei de filmes de espionagem que costumam fazer essas viagens. Outro detalhe sobre essa característica global do filme é a inclusão, na versão brasileira, de uma ceninha divertida com Sérgio Mallandro (que é uma cena feita de maneira esperta, pois nela cabe qualquer celebridade excêntrica do mundo para se fazer versões regionais).
Mesmo com esses altos e baixos, MIB: Internacional ainda consegue ser divertido, compensando elementos mais fracos com algo engraçado ou legal em seguida, fazendo com que os altos brilhem e os baixos sejam apenas um contratempo que já já passa. É um bom recomeço pra MIB e vale especialmente para os fãs da dupla principal, que espero que voltem para uma continuação para brilhar ainda mais.