Tupinilândia | Resenha | Iradex

Tupinilândia | Resenha

Se existisse um parque de diversões com personagens e brinquedos inspirados na cultura pop tupiniquim e localizado no meio da floresta amazônica, você o visitaria? Quais atrações escolheria?

Assistir as acrobacias do Vigilante Rodoviário? Explorar o Rio Selvagem da Estrela ou a Ilha Vaga-Lume? Jogar no Pebolim Gigante da CBF? Passear no Teleférico Balão Mágico ou no Elevador Lacerda do Terror?

Porém se a visita incluísse um Museu da Vergonha com dioramas realistas do porão da ditadura, índios exterminados e outras lembranças dolorosas da nossa história, você pagaria para ver?

Tupinilândia, escrito por Samir Machado e publicado pela Todavia Livros, é uma aventura por um museu de velhas novidades da história brasileira recente recheada de referências a cultura popular nacional.

Inspirado em mundos lúdicos (Disneyland), cidades industriais (Fordlândia), sociedades secretas (A Cidade Perdida de Z) e distopias ideológicas (1984); o autor criou uma ficção que reflete a trajetória nacional desde a reabertura política pós ditadura até a confusa, polarizada e nostálgica atualidade.

Tupinilândia | Resenha

Na primeira parte (ano 1984), somos apresentados ao fascínio de João Amadeus Flynguer pelas ideias de Walt Disney, a quem conheceu quando criança. O empreiteiro enriquecido por alianças militares, idealiza a Tupinilândia como um cartão-postal nacionalista e cidade modelo que deixará como legado.

Conhecemos o projeto através do jornalista Thiago, que escreverá a biografia de Flynguer sendo amigo do herdeiro bon vivant Beto. Se juntam a eles, a irmã workaholic Helena Flynguer e seus três espertos filhos. A equipe de exploração é completa por funcionários confiáveis, bravos atores e golpistas infiltrados.

Na inauguração ás vésperas da posse de Tancredo Neves como presidente, esse time convidado para explorar e testar o parque é surpreendido por perigosos fantasmas do passado nacional.

A segunda parte (ano 2016) adiciona novos personagens e discute o conceito de nostalgia e conflito de gerações. Através de uma sociedade presa no tempo pré redemocratização e fim do comunismo, os dias atuais são espelhadas na realidade política polarizada do passado. A redescoberta da Tupinilândia.

O livro é longo com descrições dos brinquedos, ambientes do parque e personagens diversos que em momentos parecem detalhamentos desnecessários. Porém, o ritmo envolvente referenciando a memória afetiva de quem viveu (ou não) os anos 80 nos transporta para esse novo velho mundo.

Um roteiro de serie televisava pronto para ser filmado, com episódios e temporadas bem definidas, porém difícil de ser licenciado e custoso de ser reproduzido. Fica a dica para a Netflix ou HBO.

Isso não importa pois a Tupinilândia já existe na imaginação de uma geração. Ler é redescobri-lá.

Em Tupinilândia a realidade cinzenta de inflações e desmatamentos descontrolados, dívidas externas, generais antipáticos, oligarcas grosseiros e celebridades vulgares seria trocada por outra versão da realidade, com seu colorido hiper realista de gibi, onde tudo funcionaria perfeitamente, seria sempre feliz e animado como num programa infantil onde todos teriam direito a prêmios.


Tupinilândia (Samir Machado de Machado)

Todavia Livros; Ficção; 448 páginas; 2018.

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