Antes de sair, é necessário apagar as luzes e um punhado de memórias.
Ao Apagar das Luzes é um conto escrito por Cleiton Xavier, distribuído em primeira mão aqui no Contos Iradex.
Ao Apagar das Luzes
Hoje foi o último dia naquela casa, mas parecia ser apenas mais um dia qualquer. Passei por cada cômodo uma última vez, entrei no quarto, me deitei na cama e olhei para o teto. Nele, havia uma pintura de estrelas. Me lembrei do dia em que pintei com o Sérgio e a Mallu. Levantei da cama e olhei para a parede onde estava o mural feito pela Vitória com todas as fotos de lugares e de amigos, que eu fui ou que estiveram comigo.
Passei a minha mão pela estante, encontrei um cordão que havia ganhado de presente da Ana na porta do guarda roupa. Tinha um poema e um desenho que eu ganhei do Felipe. Não é primeira vez que me mudo, mas é a primeira vez que sinto que deixo meu coração para trás. Antes de sair do quarto eu precisava encontrar uma coisa, uma caixa, que por sorte não foi engolida pelas mochilas. Essa sem dúvidas é a coisa mais importante. A Viviane costumava dizer que ela era: “O seu coração em forma de papel”. Era como um esconderijo para certas recordações, desde declarações de amores antigos, até lembranças de pessoas que já não faziam mais parte do meu cotidiano, porém com o tempo ela foi aumentando e ganhando mais e mais recordações.
Antes de sair, peguei algumas fotos do mural, o cordão na estante, o poema do guarda roupa e até um casaco antigo que ganhei de uma ex. Vesti o casaco e guardei o resto na caixa. Ao sair e apagar as luzes, senti medo. Medo por ter um futuro incerto, medo de fazer escolhas que fossem decepcionar as pessoas mais próximas a mim, mas ao olhar para trás, senti paz. Paz por ter aproveitado cada momento com eles. Peguei minha mochila, abri o portão, ao sair olhei para o céu, não tinha estrelas essa noite, eu esperava que tivesse.
Esse conto foi escrito por Cleiton Xavier para o Contos Iradex. Para reprodução ou qualquer assunto de copyright o autor e o blog deverão ser consultados.
