Alex Garland vem demonstrando seu talento e competência ao longo dos anos. Como roteirista, já assinou filmes como Sunshine, Extermínio e Dredd. Até em alguns jogos ele já trabalhou, sendo responsável pela escrita de Enslaved: Odyssey to the West e DMC: Devil May Cry. Já em sua estreia como diretor, ele começou com o pé direito, lançando Ex Machina que, sem duvida, é uma das melhores obras de ficção científica dos últimos tempos. Com tantos acertos já era de se esperar que a curiosidade para seu próximo trabalho estaria alta. Mas a pergunta é: Será que ele conseguiria manter o nível depois de uma estreia tão impactante?
Aniquilação é a adaptação de um livro homônimo em que acompanhamos Lena, uma bióloga que sofre com o desaparecimento de Kane, seu marido. Buscando por respostas, ela acaba se envolvendo com uma pesquisa expedicionária na zona X, uma misteriosa área situada na região costeira dos Estados Unidos que foi modificada por um objeto desconhecido.
A narrativa é dividida em três linhas temporais. Uma no futuro, uma durante durante a missão e uma mais no passado, expondo acontecimentos anteriores ao sumiço do esposo de Lena. A primeira, mesmo entregando respostas esporádicas, funciona mais como um gerador de questionamentos, instigando ainda mais nossa atenção na segunda, que por sua vez é onde a trama se desenrola e é de onde surgem as maiores dúvidas. A terceira, porém, é a mais problemática. Há sim momentos nela que nos dizem mais sobre Lena e seu relacionamento com o seu conjugue, todavia, boa parte dos flashbacks pouco acrescentam no escopo geral e poderiam ser descartados sem grande prejuízo. Por sorte, isso não é uma problema tão significativa, já que a maior virtude do trabalho do diretor está em manter o publico inserido no enredo. Constantemente somos jogados junto com os personagens em situações cada vez mais bizarras e a sensação de estranheza e duvida fica maior gradativamente, prendendo nossa atenção cada vez mais. Existem também leves mudanças de tom, muitas vezes inclinando-se mais para um horror do que para uma ficção científica. Esses instantes subvertem nossas expectativas, criando uma sensação de insegurança ainda mais aguda.
O grupo da expedição é formado apenas por mulheres e cada uma delas tem áreas de atuação diferentes. Esse recurso serve para não deixar que o texto falado na hora de uma explanação mais teórica aparente ser um exposição barata. Ainda assim, alguns diálogos não parecem ser naturais, o que quebra de leve a imersão. As personagens tem personalidades instigantes, características fortes e são interpretadas por atrizes talentosas. Lena (Natalie Portman) é uma mulher astuta, que usa o raciocínio para sair de situações difíceis e de fato uma personagens interessante, entretanto, quase todo o tempo de tela é dedicado para desenvolvê-la, prejudicando assim as demais, deixando-as homogêneas em excesso. As únicas que conseguem escapar um pouco disso são Dr. Ventress (Jennifer Jason Leigh), que tem uma estranheza inquietante e Josie (Tessa Thompson), que apresenta uma atuação bem diferente de seus filmes mais recentes.
Em certos momentos, a obra parece correr muito rápido, especialmente antes do ponto de virada do primeiro ato. Em decorrência disso, a emoção que deveríamos sentir torna-se muito blasé. Um pouco mais de paciência e tempo dedicados à essa parte seriam bem-vindos para construir melhor o impacto que algumas revelações deveriam trazer.
Aniquilação pode até ter alguns problemas, ser desorganizado em momentos específicos e não ser tão memorável quanto o filme anterior do diretor e roteirista. Contudo, na maior parte do tempo, ele é inquietante, estranho, provocante e ousado, não ofuscando assim o trabalho competente de Alex Garland, que prova mais uma vez ser digno de atenção.