O Hip-Hop contemporâneo engloba todo esse gênero hip-hop clássico que contém certa modernização – certo experimentalismo. Com a globalização e a influência eletrônica em quase todos os gêneros que nascem atualmente (inclusive o novo JAZZTRONICA), é de se esperar que haja o mesmo movimento no Hip-Hop, em artistas mais novos ou aqueles que variam mais na sua própria produção ao longo do tempo, buscando uma evolução do gênero. Podemos citar Terrance Martin, que flutua entre jazz hop e hip-hop, Mick Jenkins, que já é o outro extremo, um underground hip-hop mais clássico, indo para o rap, porém tem suas batidas eletro-indie modernas e Iman Omari, uma mistura de neo-soul, tri-hop e um gostinho de hip-hop. Podemos inclusive citar nesse gênero tão abrangente os mais comerciais IamOmni e Ab-Soul.
KAMAU
KAMAU Mbonisi Kwame Agyeman (que significa guerreiro quieto), é bastante criativo e original. Sua personalidade bastante extrovertida e jocosa se torna transparente nas letras de suas músicas – principalmente em GAIMS (diria que é uma das minhas favoritas, mas todas são). Nativo de Washington, DC, onde estudou em escolas particulares, com bastante influência da cultura africana – que se reflete na musicalidade de suas faixas, é notável na contemporaneidade do Hip Hop e R&B com back-vocal de corais que usam de vocalização influenciada pela cultura africana. O vocal do KAMAU que é bem diferenciado do que se encontra em outros artistas de Hip-Hop, devido a aderência de agudos chamados Ululation (do latin ululo), originais da África, Oriente-Médio e Sul da Ásia. Considerando o conteúdo de sua música, todos os nomes das faixas tem uma referência a forma falada do vocábulo. KAMAU cria uma visão única (nas músicas mais pops) sobre relacionamento, de uma forma engraçada, com piadas e frases de efeito, porém não se limita a isso, tendo faixas mais politizadas que tratam de problemas sócio-culturais encontrados na inserção social e abnegação forçada de direitos – de forma bem assertiva, não se escondendo em subterfúgios, inclusive quando usa de metáforas.
KAMAU - PohLease
KAMAU - Hey Ya - Interpretation (Prod. Ben Talmi & KAMAU)
ANDERSON .PAAK
Brandon Paak Anderson, rapper produtor, teve seu ep debutante lançado em 2012, chamado LOVEJOY. Seu primeiro álbum foi o VENICE, em 2014. Meu primeiro contato com seu trabalho foi com o álbum lançado em 2016 - Malibu. Anderson .Paak é considerado um rapper, entretanto quando se leva em conta o contexto de ritmos que ele trabalha – dá pra notar um R&B na sua instrumentalidade, de forma bastante latente, com um leve nu-jazz, new-soul. Se existisse o termo, eu usaria ¨nu-hip-hop¨, pois é dificílimo classificar ele dentro de um único gênero musical existente. Anderson começou a trabalhar com música em uma igreja, como baterista. A sua biografia é bastante interessant. Tiveram vários revezes na sua vida – incluindo ter trabalhado em uma plantação de maconha e ter virado um morador de rua. Eu, particularmente, apaixonei-me pela faixa Come Down. Interessante notar que quase todas as faixas do álbum Malibu tem um feat diferente que de fato diverge os estilos e influências culturais. O fato do álbum todo ser produzido por vários artistas, também influi bastante nesse ponto. Fica difícil a escolha da música para apresentar aqui, pois cada uma é basicamente um gênero musical diferente com uma alma de hip-hop ao fundo. Sua distinta voz é bem suave – dá pra fazer uma comparação de seu alcance entre Frank Ocean, hip-hop dos anos 90 e cantores de blues – transparente em suas diversas faixas.
Anderson .Paak - Come Down
Anderson .Paak - Celebrate
Hanna Pinheiro, DJ desde 2010 das grandes festas de rock de Fortaleza, destaque das noites da cidade com várias referências nos sons nacionais e também uma pesquisadora de musicas novas. Já foi DJ residente do Orbita Bar e DJ da Festa Fliperama. Atualmente tem residência no Berlinda Club.