Trem Fantasma | Iradex

Trem Fantasma

Você já quis muito uma coisa, e quando a obteve percebeu que não era o que esperava? Renan e Ronaldo estão exatamente nessa situação.

Trem Fantasma é um conto escrito por V.R. e distribuído em primeira mão aqui no Contos Iradex. Embarque nessa leitura.


TREM FANTASMA

Renan e Ronaldo eram irmãos e sempre que tinham chance pediam à mãe para que os levasse ao parque de diversões da cidade. Mas ela nunca tinha tempo. Mesmo nos finais de semana estava sempre ocupada com as tarefas do escritório de advocacia. Recém formada e há pouco tempo neste emprego, queria “mostrar serviço” para causar uma boa impressão ao patrão. O pai trabalhava numa montadora de carros no turno da noite, retornando somente ao amanhecer. Quando em casa, só pensava em dormir ou assistir TV, não dando muita atenção aos filhos. Bom comportamento era tudo que exigia deles.

Como os dois irmãos sempre foram bons alunos, e neste ano em particular tiveram excelentes notas na escola, a mãe resolveu recompensá-los com algum dinheiro e permitir que fossem ao tão sonhado parque para se divertirem um pouco.

No dia combinado para o passeio, Ronaldo, o filho mais novo, acordou primeiro e assim que se pôs de pé correu até a cama do irmão para acordá-lo. Tomaram café às pressas em companhia da mãe, enquanto ouviam o ronco do pai que dormia no quarto ao lado. Após longas recomendações da mãe sobre como evitar os perigos da rua, saíram quase que correndo para o ponto de ônibus. Durante a viagem Renan e Ronaldo não paravam de comentar sobre quais brinquedos iriam andar primeiro. Renan queria a roda gigante, mas Ronaldo ainda nutria certo medo de altura. Ronaldo queria o carrinho bate-bate, porém Renan achava o brinquedo infantil e sem graça. Para não entrarem num conflito sem fim, decidiram ir num brinquedo que ambos gostavam. Estava decidido. O trem fantasma seria o primeiro.

Enfim chegaram. O parque estava bem cheio e barulhento; o cheiro de pipoca estava em todo o lugar. Viram muitas faces conhecidas, colegas de escola passavam correndo, alguns vizinhos comendo pipoca e até a linda menina da casa de frente que Renan vinha admirando secretamente estava lá. Deu um tchauzinho tímido, suspirou fundo e foi puxado pelo irmão. Após alguns minutos de procura encontraram o trem fantasma no final do parque, num canto bem afastado e mal iluminado. Procuraram a fila para a entrada do brinquedo, mas parece que não havia ninguém interessado naquele momento. Pagaram as entradas ao sonolento bilheteiro e subiram na plataforma. Assim que os carrinhos foram liberados, os irmãos correram desesperados e se sentaram no único carrinho disponível.

Ligaram o brinquedo e o carrinho começou a andar, a princípio, bem devagar. Alguns metros à frente Ronaldo deu um salto ao ver um portal com a forma de uma cabeça de um monstro de boca aberta, com enormes dentes e olhos que pareciam vivos a encará-lo. Quando entraram pela boca da criatura ouviram um urro animalesco e gritaram de medo e excitação. De repente, todas as luzes se apagaram e o carrinho começou a aumentar a velocidade. Neste instante, antes que pudessem soltar o ar novamente, os irmãos sentiram o carrinho acelerar e a tremer descontroladamente, parecendo até que iria desmontar. Uma fumaça branca invadiu todo o túnel, juntamente com relâmpagos e flashes de luz. Os irmãos estavam adorando tudo aquilo, apesar dos gritos e sustos. E então, o carrinho perdeu o chão e começou a descer muito rápido. Por um breve instante Renan olhou para o alto e viu o trilho seguir sozinho lá em cima, enquanto ele e o irmão caíam num poço que parecia sem fundo. Sentindo um frio na barriga, ambos gritaram abraçados.

Ao acordarem, perceberam que era noite e estavam num local parecido com uma floresta. Não estavam fisicamente feridos, apenas zonzos. Talvez a queda fosse parte do trem fantasma. Neste instante ouviram passos que se aproximavam por uma trilha adiante. Ouviram vozes também. Perceberam a mesma fumaça branca do túnel pairando no ar. Ainda cambaleantes e sem entender muito bem o que estava acontecendo, se esconderam atrás de uma moita.

Apesar do escuro, os irmãos podiam ver a silhueta do grupo que se aproximava a passos cansados. Eram seis pessoas e conversavam em voz baixa. Ronaldo pode ver que alguns carregavam alguns objetos, que não pôde identificar a princípio. Um deles, o que carregava um escudo, perguntou meio irritado:

- Já estamos chegando Hank? Acho que você está perdido novamente. Que belo líder você é!

- Cala a boca Erick! A culpa não foi dele! – retrucou uma criança que usava um chapéu com chifres e que era seguida de perto por um filhote de unicórnio.


Esse conto foi escrito por V.R. para o Contos Iradex. Para reprodução ou qualquer assunto de copyright o autor e o blog deverão ser consultados.


Sobre o autor:  V.R. é casado e gosta um pouco de computadores. Tem 2 gatos, 1 cão, 1 Xbox e alguns livros.
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