Certo dia passei ao lado de um caminho de formigas roçadeiras. Parei por um instante para contemplá-las e pensar um pouco sobre o que a natureza pode nos ensinar.
Formiga não questiona seu trabalho, não reclama. Não se vê uma aglomeração de formigas insatisfeitas porque suas folhas estão pesadas ou, pior, se a folha da outra formiga é menor que a sua.
Formiga vai lá e faz.
Ela caminha, encontra, corta e carrega, sob sol forte ou chuva, o que tiver que carregar.
Porque o trabalho dela é importante como um todo. Porque ela é importante como um todo. E não precisa uma formiga-soldado ficar reforçando isso, ela sabe.
Formiga não reclama, não se vitimiza. Formiga age, formiga vai.
Pensei, então, que grandes lições vem de pensamentos vagos, de simples observações ou de frases soltas.
Lembrei, nesse instante, de uma época da faculdade. Tive uma colega que havia tido alguma paralisia quando bebê que comprometera um pouco sua locomoção, então ela caminhava um pouco cambaleante, lentamente.
Certa vez tivemos um dia inteiro de campo em uma cidade na serra de Baturité. Caminhadas com longas trilhas, ladeiras e pedras soltas. Ao final da tarde a maioria do grupo reclamava de dores, que não aguentava mais, que não queria mais ver nada, que queria ir embora.
Curiosa, comentei com ela:
– Engraçado… Você é a pessoa com maior dificuldade de locomoção do grupo, e até agora não lhe vi reclamando de nada…
– É porque reclamar não adianta. Se eu reclamar, você vai se incomodar com minha reclamação, ou vai lhe fazer reclamar também, e isso vai se espalhando. E no final seremos um grupo de reclamões, e a situação vai continuar igual.
Até hoje uma grande lição. Reclamar não adianta.
Um desabafo vez ou outra, tudo bem. Mas que não seja regra.
Seja formiga. Faça!