Dirigido por: Marc Foster
Roteiro por: Matthew Michael Carnahan e Drew Goddard, baseado no livro de Max Brooks
Com: Brad Pitt, Mireille Enos, Elyes Gabel
Cansado do tema zumbi, Guerra Mundial Z não me causou tanto pretensão. A chave do negócio geralmente é essa falta de expectativa. Não deu outra. Vi muito além de um simples "filme de zumbi". Vi videogame, vi novos conceitos e, melhor, eu vi o mundo que quase nunca é mostrado nesse tipo de apocalipse. Chega de grupinho de sobreviventes trancafiados.
O primeiro recado de Guerra Mundial Z vem logo no início, quando o personagem principal vivido por Brad Pitt explica a necessidade de estar sempre em movimento, pois os que ficam parados são os primeiros a morrer. Um tapa na cara do conservadorismo das produções do gênero. Não tem grupo de sobreviventes, não tem confinamento, não tem o suspense barato de qual será o próximo do grupo a se transformar em um zumbi e ser morto pelos colegas. Dessas produções, o cinema, a TV e os livros estão cheios. Agora é a vez de falar sobre o cenário, sobre uma missão no meio disso tudo e, muito certeiramente, sobre encontrar uma solução para isso tudo. Sobreviver? Muitos já fizeram. A pegada aqui é outra: é resolver! Só por isso, já há um grande diferencial de Guerra Mundial Z para com seus concorrentes. Afinal, "se puder lutar, lute".
Para dar o ponto correto da imersão, o diretor Marc Foster faz a boa aposta de levar os games para o cinema. Não no sentido de adaptação, mas no sentido de linguagem visual. Fotografia, câmeras e até condução da história... tudo fôra bebido da fonte dos videogames. Fica fácil perceber tal opção visual, quando, por exemplo, um grupo chega na Coréia do Sul. A traseira do avião se abre e o grupo se dispersa aos poucos. A câmera, inicialmente, acompanha o personagem principal, depois nos mostra outro ângulo para nos revelar o cenário e como deveremos traçar nosso plano por completo. Então, volta para uma visão em terceira pessoa de Brad Pitt acompanhada praticamente através dos ombros. É como se estivéssemos iniciando uma fase ou uma missão nova. Alí somos Brad Pitt, por mais que, infelizmente, aqui não o controlemos.
Para criar, e manter, a ação, Foster apostou em seu ritmo frenético baseado no imediatismo. Tudo tem que ser resolvido agora. Sensação parecida com seu outro filme, o 007 Quantum of Solace, que só pára quando realmente termina. O ritmo só foi prejudicado mais para o final, quando se fez necessário explicar o desenrolar do roteiro. A amornada segue até o final da trama, na tentativa de deixar problemas em aberto para uma provável continuação.
A semelhança com os games não pára na cena que descrevi anteriormente. O roteiro é todo baseado nisso. Gerry Lane, o protagonista, tem que resolver algo e deve ir sempre de um ponto A até um ponto B, percurso que gera vários outros problemas no seu decorrer. Nos games chamamos essa missão principal de quest, e esses problemas no caminho de side quests. Todo o roteiro se escora nessa premissa do começo ao fim e sempre deixa bem claro para o espectador o que está acontecendo e o que deverá acontecer em seguida. Nada de confusão mental. A gamificação do filme é clara desde o início. Até Gerry e sua família atinjir o helicóptero, estamos praticamente vivendo um tutorial ao passo que aprendemos sobre quem é nosso personagem principal, quais as habilidades dele e que tipo de desafios vamos enfrentar.
Existem problemas. Sempre existem. Um herói inabalável e o ponto de virada ser quase óbvio incomoda um pouco. Afinal, estamos em um apocalipse, surpreende tanta confiança de Gerry. Todavia, já que tudo parece ser um grande jogo, se nós somos Gerry, como podemos ser abaláveis? Afinal, estamos controlando um avatar da perfeição. E nisso, Guerra Mundial Z pode até calar um pouco as criticas a esse quesito óbvio e heróico.
Guerra Mundial Z tem bem mais acertos do que erros. Não será uma unanimidade, pois o título meio que joga fora o que cultuamos das produções de zumbi. Não temos aqui nem aquele lenga lenga do "amigo infectado que ninguém consegue matar". Na verdade, não tem lenga lenga algum. Por isso, visualizo Guerra Mundial Z como um filme desconexo dos clichês e destacado dos demais do gênero, inclusive dos medalhões. Vale ser jogado... digo, assistido.