"Noelle" resolve um problema que nem existia | 31 Dias de Natal | Iradex

"Noelle" resolve um problema que nem existia | 31 Dias de Natal

Dia 14: Noelle (2019)

Texto e narração: Gabriel Pinheiro (Twitter / Instagram / Letterboxd)

Edição:20 a 20

DistribuiçãoR.I.P.A. / Iradex

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Transcrição:

Se a gente parar mesmo pra pensar, não existe um motivo específico para que o Papai Noel seja um homem. Mesmo assim, antes da Disney+ produzir Noelle, em 2019, não existia um filme com uma mulher fazendo esse tradicional papel de entregar presentes para as crianças do mundo… Deixe essa informação ser absorvida um minuto.

Agora ignore ela, porque a própria Disney já tinha feito um filme para a TV em 2009 chamado Santa Baby, em que a filha do Papai Noel assume seu lugar no polo norte. E é assim que a Disney te pega no conto do vigário mais uma vez.

Já é uma piada batida dizer que a Disney tem as mensagens progressistas mais baratas dessa indústria. Mesmo assim eu vou dizer: Disney, pare, eu te imploro! Obrigado, mas acho que ninguém pediu para uma megacorporação dizer que mulheres são pessoas. Eu só precisava tirar isso da frente, vamos agora ao filme.

Bom, esse longa metragem definitivamente existe, né? O que mais posso dizer. O elenco foi a coisa que me chamou atenção, porque a Anna Kendrick nesse papel fofinho e alegre é com certeza uma boa pedida para o natal. E eu fiquei impressionado com o Bill Hader bem controlado, quase parecendo um ser humano funcional. Esse é um detalhe que pode até passar despercebido por muitos, já que no mesmo filme a gente tem o Billy Eichner - que você pode conhecer de Parks and Recreation e The Good Place - fazendo o papel de um nerd introspectivo, sem dar um único escândalo. O que é equivalente a contratar o Owen Wilson no seu filme e não pedir para ele falar WOWN.

A história é sobre o processo da Noelle se descobrindo como uma herdeira dos poderes do seu pai. Isso está na sinopse e no trailer. O que me deixou bastante surpreso foi perceber que o filme fica o tempo todo preso nessas pequenas autorrevelações da Noelle, como se fossem alguma surpresa para quem está assistindo. É quase como se, em algum momento, esse roteiro tivesse sido escrito para criar um suspense sobre a capacidade da Noelle conseguir ou não virar a Mamãe Noel. Uma pena que para isso o filme abandou coisas básicas, tipo um conflito, um antagonista, ou sei lá, literalmente outra candidatura válida entre os Descendentes Noel?

As outras alternativas seriam o irmão, que não tem capacidade e nem vontade para ser Papai Noel, e o Billy Eichner, que não tem capacidade e nem vontade de ser um ator nesse filme. A conclusão que eu tiro disso? A mensagem deste segundo filme sobre a primeira mamãe noel é: se você der sorte, um homem medíocre vai ceder a vaga para você.

Enfim, eu nem citei algumas coisas que eu gosto nesse filme, como o Pai e Filho que ajudam a Noelle na missão dela de reencontrar o irmão, muito fofinhos. Tem também a rena filhote, que parece muito mais um cabrito albino. E quem não gostaria de ter um cabrito albino?

Mas é que a Disney já tá me dando nos nervos com esses filmes meia boca. Se eles se importam mesmo em passar essa mensagem - de que mulheres podem tudo, até ser Papai Noel - espero, no mínimo, que façam uma continuação em que a Noelle tenha um pouquinho mais de autonomia e algum tipo de conflito real. Em outras palavras, que façam um remake de Santa Baby 2: Christmas Maybe.