"Uma Invenção de Natal" é um musical sem vergonha | 31 Dias de Natal | Iradex

"Uma Invenção de Natal" é um musical sem vergonha | 31 Dias de Natal

Dia 4:  Uma Invenção de Natal (Jingle Jangle - A Christmas Journey, 2020)

Texto e narração: Gabriel Pinheiro (Twitter / Instagram / Letterboxd)

Edição: Roberto Rudiney

DistribuiçãoR.I.P.A. / Iradex

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Transcrição:

O fã de musical, ele nasceu pra sofrer. Quando tem algo bom, tá inacessível pra gente ver ou ouvir. Quando é feito para ser acessível, logo, o mais comum é que as músicas sejam uma bosta, que é para agradar as massas que não apreciam essa fina arte. Aí, em um evento raro que acontece somente uma vez a cada milênio, o universo se alinha e Deus - na forma do John Legend - nos envia Jingle Jangle.

Esse filme que a Netflix lançou agora em 2020 é realmente diferenciado… Tanto, que eu até me sentiria mal, falando de um jeito tradicional, dessa película genial, sobre uma mente sem igual, em um conto atemporal….

Mas vai ser do jeito normal mesmo porque eu não tô afim de tentar rimar mais do que isso.

O que eu tenho pra falar aqui de cara pra te tranquilizar: é que a trilha sonora só tem pop farofa, pra tocar em rádio, sem vergonha de agradar o telespectador. A cada nova música o filme faz mais questão de que os atores forcem seu gogó, ao ponto do desconforto, fazendo absolutamente tudo para o nosso entretenimento. O John Legend está de parabéns - claro, eu tô falando é da música, sim.

Como é gostoso poder assistir um musical sem vergonha de ser divertido. E como se já não bastasse tamanha felicidade, algumas músicas são acompanhadas de grandes números de dança bem coreografados que eu, sinceramente, nem sei se mereço.

O filme também não tem vergonha de ser preto. Produzido, estrelado e imaginado por gente preta. Isso fica muito claro no visual impecável do figurino, dos protagonistas ao coadjuvante lá no fundo da sala. E, sim, eu usaria cada um daqueles looks - dos personagens masculinos e dos femininos também.

Vamos falar da história. Tudo gira em torno do Jeronicus Jangle (Forest Whitaker) e o seu antigo aprendiz Gustafson (Keegan‑Michael Key), em um embate mental de momentos inspiradores e ideias roubadas. Esses dois até se seguram bem no vocal, mas quem brilha mesmo são os atores que ninguém conhece.

Tem o Jingle Jangle jovem, a Jingle Jengle esposa, a Jingle Jangle filha, e filha da jingle jengle filha, com uns parafusos no penteado. E tem ainda a carteira - profissão e não objeto - que tem facilmente a melhor personalidade para um personagem de filme no ano de nosso senhor 2020. A moça teve direito até a sua própria trupe de hype mans / back vocals / dançarinos. E já pedindo perdão pelo risco de ser repetitivo de mais hoje, mas eu resumiria a personalidade dessa personagem como: perfeitamente sem vergonha.

Vou destacar aqui também um ponto, que pra mim é fundamental na experiência de qualquer filme de natal e eu pretendo falar mais em dias vindouros, que é o elenco infantil. Jingle Jangle vai pelo caminho arriscado de descobrir novos talentos e acerta em cheio. Essa menina, Madalen Mills, vai voar daqui pra frente! Fora o tanto que ela já voou aqui nesse filme nas cenas em que ela literalmente voa.

Eu não sei se um dia eu vou ter um filho ou filha, mas, se tudo der errado, eu com certeza vou querer mostrar esse filme para minha criança. Espero que um dia ela cresça com essa mensagem de nunca ter vergonha de abraçar o lado mais brega do natal.