"Um Passado de Presente" é para você fã de trocadilhos | 31 Dias de Natal | Iradex

"Um Passado de Presente" é para você fã de trocadilhos | 31 Dias de Natal

Dia 5:  Um Passado de Presente (The Knight Before Christmas, 2019)

Texto e narração: Gabriel Pinheiro (Twitter / Instagram / Letterboxd)

Edição: Roberto Rudiney

DistribuiçãoR.I.P.A. / Iradex

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Transcrição:

Não é segredo que eu não sou muito fã de comédias românticas. Meu argumento é que esses sempre partem de uma situação muito improvável de acontecer na vida real. O tal meet cute como é conhecido no gênero. E “Um Passado de Presente” resolveu isso para mim, porque ele adotou uma rota diametral oposta, levando o seu conceito mais ali pro campo do impossível.

E tudo bem que essa não é a primeira vez que isso acontece. Questão de Tempo é um outro exemplo - até melhor executado - de uma comédia romântica que usa como premissa a viagem no tempo. O que me faz trazer aqui questionamento: Hollywood, não era melhor transformar todas as comédias românticas em filmes de viagem no tempo? Sério, Netflix, o que você tem a perder? Pare de fazer filmes com Noah Centineo que eu não quero ver e me dê um reboot de Barraca do Beijo, só que com as regras do filme Casa do Lago.

Mas voltando aqui.. “Um Passado de Presente” me chamou a atenção por dois motivos. Um deles é o título engraçadinho em inglês, “The Knight Before Christmas”, que no português até que ganhou um trocadilho a altura. O outro motivo é esse conceito de um cavaleiro transportado do século XIV para o longínquo ano de 2019. Tenho que fazer esse parêntese aqui, muito rápido: eu não sei porque o filme insiste em relembrar toda hora que estamos em Dezembro de 2019… Não é como se assistindo hoje ou daqui a 5 anos, a experiência natalina esteja muito diferente ao ponto do filme precisar explicar o ano que a história se passa. Mas ok, acho que é só um TOC meu.

E não dava mesmo para esperar grandes coisas de mais uma Original Netflix, pensado apenas para marcar as caixinhas “Natal” e “Romance” no algoritmo. Orçamento? Não temos. Pesquisa história? Depende se você considera uma leitura dinâmica da Wikipédia. Roteiro? Passe amanhã. Não vou nem dizer que o filme seja desprovido de tiradas engraçadinhas, mas é que o próprio formato de Peixe Fora D’Água já deveria garantir por padrão um bocado de momentos assim. Chamar a garçonete de criada e discutir com a Alexa estão entre os exemplos legais disso.

Como um filme de fantasia pode E DEVE fazer, ele vai pedir de você que abandone sua descrença a todo momento, só relaxa e aceita o que está acontecendo. Eu gostaria de reforçar que isso é uma parte importante da experiência no gênero Fantasia, mas nesse caso ele está sendo usado para tapar os buracos de roteiro. Eu gostaria de reforçar que isso é parte importante da experiência do gênero Comédia Romântica.

Acho que o momento mais marcante dessa suspensão de descrença já acontece ali nos primeiros momentos do filme: quando temos que achar OK essa moça levar para dentro de casa um lunático desconhecido, portando uma lâmina extremamente afiada e que acredita ter sido transportado através do tempo e do espaço diretamente de um reino da Inglaterra. O filme se passa em Ohio.

O casal de protagonistas, eu achei uma escolha realmente muito boa. O ator que faz o cavalheiro tem muito cara de mocinho simpático, que você gostaria de levar pra casa. E a Vanessa Hudgens consegue entregar como ninguém esse monte de texto ruim sobre o valor de acreditar no impossível.

Vou confessar aqui que no começo eu tava achando que o Sir Cole tinha muito mais química com o outro carinha lá que fica cavalgando com ele pelas terras do reino. Mais pro final eu descobri que esse era o irmão dele e sendo assim então aceito essa segunda opção de casal.

E no final, dá sim para dizer que eu sou um homem mudado após essa experiência. Continuo não acreditando no poder do impossível, mas pelo menos tenho um pouco menos de preconceito com comédias românticas fracas da Netflix lançadas em 2019.