Cinco Mulheres | Cinco Cientistas | Iradex

Cinco Mulheres | Cinco Cientistas

Por Emília Braga

Ciência é um conjunto de conhecimentos sobre a natureza de tudo o que há, conhecimentos estes adquiridos por observação, metodologia e registros de resultados.

Dos remotos tempos em que o conhecimento, pela ausência da escrita, era passado verbalmente, até os dias de hoje, onde milhares de artigos científicos são publicados diariamente e disponibilizados online, muitos foram os cientistas notáveis e, sem medo de errar, digo que são incontáveis os que tiveram participação crucial mas que não receberam tanta notoriedade.

Onde há registro de ciência, sempre haverá um homem associado, já que, sim, homens estavam e estão massivamente presentes nas pesquisas científicas em todas as áreas de desenvolvimento de suas épocas. Mas eu vim aqui soltar confetes e tocar vuvuzelas para exaltar grandes, enormes, maravilhosas mulheres da Ciência que, se não fossem elas, sua coragem e sua existência, a ciência estaria talvez em outro patamar - acredito que menos avançada - atualmente.

Logo, este espaço é para apresentá-las e enaltecê-las. Homens, até mais, obrigada pelos peixes.

Atenção, audiência! Com vocês, ESSAS LINDAS (*palmas*).

Marie Curie

Marie Sklodowska Curie descobriu dois elementos da tabela periódica (o polônio, que recebeu este nome em referência ao seu país de origem, e o rádio), desenvolveu técnicas para isolar isótopos radioativos e cunhou, ela mesma, o termo radioatividade. Como pode-se notar, Madame Curie trabalhou por toda sua vida com radiação, sendo a causa de sua morte aos 66 anos por leucemia.

Nascida na Polônia em 1987, filha de professores, Marie foi impedida de entrar na Universidade em Varsóvia por ser mulher, ingressando em uma instituição de ensino clandestina, chamada Universidade Volante. Aos 24, mudou-se para Paris, onde concluiu sua graduação em Física e iniciou seus estudos com materiais radioativos, tornando-se posteriormente, a primeira mulher a ocupar o cargo de professora na Universidade de Paris-Sorbonne. Por sua importante contribuição, Madame Curie foi a primeira mulher a receber um prêmio Nobel (e a primeira pessoa a receber dois, um Nobel em Física e outro Nobel em Química).


Grace Hopper

Grace Hopper nasceu em 1906, graduou-se em Matemática e Física e teve seu PhD em Matemática aos 28 anos. Foi analista de sistemas na Marinha Americana entre os anos de 1940 e 1950, atuando como programadora do Mark I e do Mark II. Trabalhando no projeto do primeiro computador comercial, Hopper desenvolveu um compilador que foi precursor da Linguagem COBOL, usada até os dias atuais, e que fora à época fundamental para o desenvolvimento de novas tecnologias computacionais.

Fato curioso é o uso até hoje do termo "bug" para fazer referência a um mau funcionamento de computador: ele foi usado a primeira vez por Grace quando uma mariposa entrou no Mark II e, para consertá-lo, ela precisou "debug the system" (ou, em péssimo português, debugar o sistema). Os restos mortais da mariposa jazem no livro de registros da própria Grace, pertencente ao acervo do Smithsonian Museum em Washington D.C.


Rosalind Franklin

Em um lugar chamado Notting Hill nasceu, em 1920, essa mulher que iria ter uma importantíssima contribuição no campo da Genética. Contrariando a vontade de seu pai, que achava que ela deveria desistir da graduação e ser assistente social, Rosalind Franklin já queria ser cientista desde os 15 anos. Aos 21 era bacharel e aos 25 já era PhD em Físico-química, época em que conheceu uma aluna de Marie Curie que teve grande influência em sua vida e em sua carreira. A pesquisa de Rosalind fez enormes contribuições para o entendimento dos tipos de carvões e seus usos potenciais, mas seu nome ficou eternizado quando, em 1951, Rosalind afirmou que o DNA possui forma helicoidal em dupla fita.

Rosalind morreu jovem, aos 37 anos, de câncer nos ovários. Quatro anos depois de sua morte, Watson e Crick, que utilizaram os resultados de Rosalind para fundamentar o modelo tridimensional do DNA, receberam Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina. Rosalind Franklin nunca soube que sua fotografia de refração de raio-x do DNA, a famigerada Fotografia 51, fora a principal prova para a Teoria da Dupla-Hélice.

Rosalind Franklin teve sua vida encenada em uma peça de teatro em Londres, denominada Photograph 51, e foi vivida por Nicole Kidman.


Henrietta Lacks

Como imaginar que uma mulher pobre, afro-americana e lavradora de tabaco iria entrar para sempre na história da medicina moderna?

Contemporânea de Rosalind Franklin, Henrietta Lacks também foi acometida de câncer. Buscou atendimento médico em um hospital de Baltimore por apresentar sangramento vaginal, descobrindo um grande e maligno tumor cervical extremamente agressivo, que hoje acredita-se ter sido causado por HPV. Diversas foram as tentativas de tratamento, todas sem sucesso, e Henrietta faleceu em 1951, aos 31 anos. Mas suas células não! Amostras do tecido tumoral foram enviados para um médico que cultivava células humanas in-vitro para pesquisas científicas e, diferente de todas as amostras que morriam após alguns ciclos de multiplicação, as células da Henrietta, denominadas Células HeLa, não só não morriam, como se multiplicavam de uma forma inigualável, permitindo assim o desenvolvimento de diversas pesquisas em diferentes áreas da medicina em todo o mundo.

Livros, artigos e até filme foram e ainda são produzidos sobre a sua involuntária mas fundamental participação nas pesquisas científicas modernas.

Você pode ver um pouco mais sobre o cultivo das células e as pesquisas neste Nerdologia sobre as Células HeLa. Se quiser ouvir um pouco sobre a vida dela e por que suas células são usadas em pesquisa, recomendo também este episódio do Dragões de Garagem (e já deixo o próprio podcast indicado, meu preferido de ciências).


Sônia Godoy Bueno Carvalho Lopes

Ou, como possa lhe soar mais familiar: Sônia Lopes, uma das principais autoras de livros do nosso ensino médio. Eu a incluí nessa lista porque foi por intermédio do seu ótimo trabalho que decidi seguir a carreira de pesquisadora em Ciências Biológicas. Quando fiz meu ensino médio, o acesso à informação não era nem de longe fácil como hoje, então me encantava debruçada nos muito bem escritos e ilustrados livros de Biologia. Admiro muito quem faz divulgação científica e considero Sônia Lopes como a principal divulgadora científica daquela época.

Atualmente Sônia é professora no Departamento de Zoologia, pesquisando morfologia e sistemática de moluscos, mas ainda trabalhando nos livros didáticos de ensino fundamental e médio (que bom). Quem quiser ouvir um pouquinho mais sobre seu trabalho na pesquisa e na própria divulgação da ciência, pode ouvir esta entrevista que ela concedeu ao pessoal do Dragões.


Leitura sugerida:

10 brasileiras pioneiras na ciência, matéria de março de 2018 publicada no G1, que cita alguns nomes importantes do século passado, como Bertha Lutz e Nise da Silveira (dica: não desça até a área de comentários).

 


Cinco Mulheres é uma série de posts que divulga o trabalho de mulheres em diversas áreas. Se você gosta do trabalho feito por uma mulher, coloque aí nos comentários!