You Were Never Really Here | Resenha | Iradex

You Were Never Really Here | Resenha

Desde que voltou a trabalhar, as escolhas de Joaquin Phoenix vem se tornando cada vez mais interessantes. Após o lançamento de Ela, minha curiosidade pelo ator cresceu, atraindo meus olhos para You Were Never Really Here, um de seus trabalhos mais recentes.

Joe é um homem excêntrico que tem como trabalho procurar e resgatar garotas desaparecidas. Toda sua rotina é abalada quando um trabalho se complica mais do que o costume.

Muito provavelmente, ao ler a sinopse ou ver algum trailer do filme, você já lembrou de vários outros longas enveredados para ação, como Chamas da Vingança, Justiceiro, talvez um Jonh Wick, alguma das vezes em que a família de Liam Neeson foi sequestrada ou até mesmo Oldboy, já que aqui o martelo também é arma utilizada pelo protagonista. Caso isso tenha ocorrido, é necessário pontuar que seu cérebro está errado, e se essa for sua expectativa a probabilidade de decepção é quase de 100%.

A diretora e roteirista Lynne Ramsay, mais conhecida pelo bom Precisamos Falar sobre Kevin, escolhe tirar toda a catarse e entretenimento banal das cenas de agressão. Ela faz isso escondendo a parte mais gráfica nos mostrando de forma subjetiva. Raramente vemos essas cenas acontecendo de fato e o que é nos passado é a conclusão. Em síntese, nessa obra, a violência e crueldade não são coisas glorificadas, e sim vistas como algo realmente danoso e repulsivo.

O real objetivo e foco narrativo está em realizar um estudo de personagem na figura de Joe, um homem quebrado e repleto de traumas. E é aqui onde a obra brilha de verdade. De início, sabemos quase nada sobre ele, porém, de forma cadenciada, somos introduzidos não só a sua faceta de vigilante mas também a sua rotina comum junto com sua mãe, interpretada por Judith Roberts. Seus traumas são apresentados por flashbacks espaçados e repentinos - o que poderia facilmente se tornar uma muleta narrativa rasa, todavia, eles são curtos e mostram apenas o mínimo - atiçando a curiosidade e deixando a sua interpretação a cargo do publico.

Joe, interpretado por Joaquim Phenix, é um personagem complicado. Mesmo com toda sua estranheza suas emoções são reprimidas então, ainda que com um semblante neutro, seus olhos são o veículo por qual vemos seus sentimentos. Quando raramente verbalizadas, essas emoções ganham um peso ainda maior.

A cinematografia, além de bela, também cumpre o papel de simbolizar o distanciamento do protagonista com o mundo, utilizando tons de azul mais opaco em muitas ocasiões. Há também uma leve ostentação do ambiente, algo que pode remeter a filmes como Taxi Driver.

O ritmo, para muitos, pode flertar com o tédio, ainda mais caso você não consiga se sentir cativado a acompanhar Joe. You Were Never Really Here é um excelente e brutal estudo de personagem, repleto de boas atuações e com uma direção competente. Uma obra digna de atenção e discussão.