Por Mylla Fox
Uma pesquisa recente da Universidade do Sul da Califórnia analisou uma base de dados de 1.100 filmes populares lançados no período de 2007 a 2016. Os resultados revelaram que dentro desse escopo, que envolve pouco mais de 1.220 diretores, apenas 4% são mulheres. É um número vergonhosamente pequeno. E, levando em consideração que é um resultado de apenas uma faixa de tempo relativamente curta dentro dos 120 anos da história do cinema, poderia e provavelmente é, muito menor. Em outro recorte, o resultado é muito pior. Desse total analisado apenas três são negras, duas são asiáticas e uma é latina.
Então podemos dizer que em Hollywood, como acontece em muitas outras áreas de atuação profissional, as mulheres não têm as mesmas oportunidades que os homens (sem nem entrar no assunto, mas não deixando de lembrar, das diferenças de salário entre eles). Por consequência óbvia, poucas diretoras são conhecidas pelo grande público e menos ainda são realmente valorizadas.
Mas, nós podemos mudar isso. Pelo menos na nossa própria vida. Pouco tempo atrás estava na moda entre os meus amigos fazer um mapa de influências, não perdi tempo em fazer também e o resultado acabou mexendo muito comigo. Apesar de admirar muitos diretores diferentes, a lista final com os dez nomes mais importantes pra mim até aquele momento era feita essencialmente de homens brancos. Fiquei triste e envergonhada de ter crescido sonhando em fazer cinema, sem nunca ter tido uma mulher que me servisse de inspiração e exemplo. É importante ter a consciência de que é um problema estrutural do sistema patriarcal, mas também ser parte da solução. Percebi que eu não precisava ficar presa a essa lista para sempre e que nada me impedia de começar a pesquisar e conhecer, assistir, debater e analisar mais mulheres dali para frente. É o resultado dessa empreitada que eu compartilho agora com vocês.
Juliana Rojas
Nascida em Campinas (SP) em 1981, formou-se em cinema pela ECA-USP, onde deu início a sua parceria com o também diretor Marco Dutra. O primeiro curta-metragem da dupla, O Lençol Branco (2004), participou da mostra Cinéfondation do Festival de Cannes, dedicada a filmes de estudantes de cinema. Eles voltariam ao festival ainda com o curta Um Ramo (2007), na Semana da Crítica, e com sua estreia em longas, Trabalhar Cansa (2011), na mostra Um Certo Olhar. Além de diretora e roteirista, também trabalhou como montadora no documentário Pulsações (2011), de Manoela Ziggiatti, e no telefilme Corpo Presente (2009), de Marcelo Toledo e Paolo Gregori. Além de muitos curtas, em que destaco o terror O Duplo (2012), Juliana também dirigiu outros dois filmes, Sinfonia da Necrópole (2014) e mais recentemente, com co-produção com a França, As Boas Maneiras (2017)
Petra Costa
Natural de Belo Horizonte (MG), Petra estreou no cinema produzindo e dirigindo o curta-metragem Olhos de Ressaca (2009). O primeiro longa, Elena (2012), foi exibido na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, na Semana dos Realizadores (Rio de Janeiro), no Festival Internacional de Documentários de Amsterdã (IDFA) e no Festival de Brasília do Cinema Nacional. Mas, foi Olmo e a Gaivota (2014) que ganhou mais repercussão e acabou levando o prêmio de melhor documentário no 17º Festival do Rio e o prêmio Jury Júnior no 68° Festival de Locarno, na Suíça.
Marília Rocha
Marília vive e trabalha em Belo Horizonte. Dirigiu os filmes Aboio (2005), melhor filme no festival É Tudo Verdade; Acácio (2008); A Falta Que Me Faz (2009), melhor filme no Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo, e A Cidade Em que Envelheço (2016), sua primeira ficção e vencedor de quatro prêmios no Festival de Cinema de Brasília. Seus filmes foram exibidos em mostras de diversos países, como MoMA (EUA), Festival de Roterdã (Holanda), Bafici (Argentina), Karlovy Vary (República Tcheca), Festival de Guadalajara (México), Doclisboa (Portugal), entre outros. Foi uma das fundadora do centro de produção Teia, do qual participou durante 10 anos. Atualmente, é parceira de Clarissa Campolina e Luana Melgaço na Anavilhana Filmes.
Céline Sciamma
Nasceu em 1980, em Cergy-Pontoise, cidade satélite de Paris. Depois de um mestrado em literatura, estudou em La Fémis, a escola superior francesa de audiovisual. Dirigiu Lírios d’Água (2007), Tomboy (2011) - um dos meus filmes favoritos da vida - e o incrível Garotas (2014). Céline trabalha com não-atores e discute gênero, sexualidade e conflitos típicos da juventude. Além disso atua também como roteirista, sendo a animação Minha Vida de Abobrinha (2016) seu trabalho mais recente.
Lynne Ramsay
Diretora e roteirista escocesa formada pela National Film and Television School, na Inglaterra. Lynne dirigiu O Lixo e o Sonho (1999) e O Romance de Morvern Callar (2002), mas é mais conhecida pelo filme Precisamos Falar Sobre Kevin (2011). Com apenas cinco filmes, sendo três curtas e dois longas, a diretora obteve mais de 20 prêmios e 11 indicações (seus três primeiros curtas foram premiados em Cannes). O Lixo e o Sonho foi eleito pelo The Observer como um dos dez melhores filmes britânicos dos últimos 25 anos, ocupando a oitava posição. Seu filme mais recente é You Were Never Really Here (2017), ainda sem data de estreia e título nacional, com Joaquin Phoenix no papel principal.
Não é uma lista perfeita, e por mim colocaria muitos outros nomes, mas deixei de fora os mais conhecidos para trazer diretoras diferentes, sobretudo brasileiras, das que geralmente aparecem nesse tipo de compilado. Entretanto, não deixe de procurar os trabalhos de Sofia Coppola, Anna Muylaert, Ava Duvernay e Kathryn Bigelow, única vencedora da estatueta do Oscar na categoria de melhor direção até hoje, tendo apenas cinco mulheres nomeadas em 90 anos de premiação. Aprofunde-se na carreira de Naomi Kawase, Lucrecia Martel e Claire Denis e fique de olho também em Dee Rees, Greta Gerwig e Anna Rose Holmer, diretoras que têm poucos longas de sua autoria, mas muito a agregar para o olhar cinematográfico.
Quantas vezes você deu oportunidade a uma diretora? Nunca é tarde demais para começar. Procure conhecer mais e ter outra visão a respeito das mulheres do cinema. Para ajudar, deixo mais duas indicações que não são de filmes nem de diretoras, mas que somam muito na jornada, “Mulher no Cinema” é um portal com notícias, artigos, críticas, listas, entrevistas e dicas de filmes, uma celebração completa das mulheres nas telas, escrito pela jornalista Luísa Pécora. E, se você for fã de podcasts, indico o maravilhoso “Feito por Elas” que, inspirado pelo desafio #52FilmsbyWomen (52 Filmes por Mulheres), fomenta o debate em torno do trabalho de uma diretora por episódio, escolhendo três filmes de diferentes momentos de sua carreira para analisar. A equipe é composta por mulheres com experiência anterior em podcasts sobre cinema e/ou crítica de cinema.
No mais, continue acompanhando a coluna Cinco Mulheres aqui no Iradex, um espaço muito importante, sempre com ótimas dicas para que você possa todo dia revolucionar um pouco mais o seu jeito de consumir o que há no mundo.
Cinco Mulheres é uma série de posts que divulga o trabalho de mulheres em diversas áreas. Se você gosta do trabalho feito por uma mulher, coloque aí nos comentários!