Por Marina Solon
Cinco autoras para conhecer, ler e divulgar
A história é contada pelos homens. São eles os líderes, os vencedores, os chefes, os patriarcas, os reis. Às mulheres, sobra o papel de coadjuvante, auxiliar, a sombra. Historicamente as mulheres foram silenciadas por um arranjo social que as colocava como em papéis de reclusão: nas tarefas do lar, no trato dos filhos. Quase nunca em chefias, universidades, encabeçando áreas. O feminismo e a ascensão das mulheres chegou depois, aos poucos.
Para nós a existência civil é uma construção. É como quebrar as amarras de um contexto que nos mantinha encapsuladas. A saída da mulher do lar até a vida social e intelectual foi e é uma ruptura lenta e dolorosa e que precisa lidar com muitos e muitos anos de uma hegemonia estritamente masculina. Por isso, a produção intelectual das mulheres começou e despontou muito mais tarde do que a dos homens. Isso quando essa produção não era meramente silenciada e jogada no esquecimento diante da vasta produção masculina.
É por isso que é importante ler mulheres e priorizar o trabalho literário delas. É importante colocá-las nos holofotes. Isso não quer dizer que não se deva mais ler autores ou que deva se diminuir o trabalho deles. Quer dizer simplesmente que eles podem esperar. Podem calar um pouco e ouvir o que temos a dizer.
Partindo desta ideia, selecionei cinco autoras de diferentes perfis e os convido a conhecê-las. Gostou de alguma leitura? Divulgue entre os amigos! Assim vamos equiparando os espaços de fala.
Eis as minhas dicas de quem quer conhecer mais e melhor outras autoras:
Jarid Arraes
Jarid é poeta e cordelista. Nasceu em Juazeiro do Norte, no Ceará. Escreveu o incrível Heroínas Negras Brasileiras, um livro em poesia de cordel que resgata a história de quinze mulheres que tiveram sua atuação histórica pouco registrada ou apagada.
Adelaide Ivánova
Poeta nascida no Recife, Adelaide faz da poesia palco para debate do feminismo. Dela indico O Martelo, um livro de poemas dividido em duas partes. Na primeira ela narra a epopeia de uma mulher estuprada que esbarra em todas as dificuldades e misoginias do sistema penal para conseguir denunciar o acontecido. Na segunda parte ela narra a dor de uma mulher em fim de relacionamento. Um livro dolorido como uma pancada de martelo.
Nicole Krauss
Norte-americana filha de judeus, Nicole é uma das autoras em ascensão nos EUA. Indico História do Amor, um livro onde ela entrelaça as histórias de Leo Gursky, um homem de 80 anos sobrevivente do Holocausto e Alma, uma cantora que está lidando com a morte de seu pai. Esse livro foi best-seller internacional e chamou muita atenção da crítica.
Scholastique Mukasonga
Ruandesa da etnia tutsi, Scholastique perdeu quase toda a família no genocídio de Ruanda em 1994. O livro A Mulher de Pés Descalços é onde a autora conta o falecimento da própria mãe durante a guerra.
Lúcia Berlin
Autora norte-americana que passou a vida inteira registrando a “vida real” em contos. Só depois de morta consolidou-se como autora com muito sucesso e leitores. Dela, indico Manual da Faxineira, coletânea de contos onde Lúcia reúne as desventuras que colecionou durante a vida. Ela viveu no oeste americano, no Chile, se casou três vezes e teve quatro filhos. Teve diversos empregos - entre eles foi faxineira, por isso o título do livro - antes de se tornar professora na Universidade do Colorado.
Este é o primeiro de uma série de posts que vão divulgar o trabalho de mulheres em diversas áreas. Se você gosta do trabalho feito por uma mulher, coloque aí nos comentários!
