Jazz e o Clássico
Mesclar música erudita com outros gêneros musicais é, de fato, complicado. Muitos compositores e amantes do gênero não gostam de fazê-lo, mas algumas vezes o resultado é primoroso.
George Gershwin nasceu no Brooklyn, bairro de Nova Iorque (EUA), em 26 de setembro de 1898, filho de pais judeus russos - o nome da família seria trocado quando estes vieram para à América, de Gershowitz para Gershwin. George criou e colaborou para musicais de comédia para Broadway, onde conquistou até prêmios com suas obras.
Mas foi em 1924 que Gershwin iria criar sua mais conhecida composição, a famosa “Rhapsody in Blue”, que misturava música erudita com traços de jazz - um mix de estruturas e sons muito sofisticados e que entregam um enorme prazer auditivo. O maestro Paul Whiteman (1890-1967) encomendou uma obra para concerto de piano e banda de jazz quando George tinha apenas 25 anos, tamanha a reputação que este ainda jovem músico mantinha entre as pessoas do meio. A execução da obra a partir da partitura original para dois pianos foi realizada por Ferde Grofé (1992-1972), onde estavam presentes Igor Stravinsky (1882-1971) e Sergei Rachmaninov (1873-1943), grandes nomes da música erudita moderna.
A música foi feita de forma expressa, quase imediatamente após sua encomenda, o que reflete até mesmo a velocidade com que se desenvolvia a cidade de Nova York, onde a verticalização e o avanço aconteciam de forma extremamente rápida. O pedido pela música foi feito de forma inesperada, pois a banda de jazz do maestro Whiteman queria ser a primeira mesclar tais gêneros, pois era sabido que muitas bandas estavam tentando produzir esse tipo de fusão à época.
No filme Fantasia 2000, a música é apresentada acompanhando a animação, mostrando a cidade em crescimento e seu cotidiano, representando muito bem cada ato de obra. Filme, aliás, que recomendo a quem quer se aproximar da música erudita.
Gershwin mescla os dois gêneros de forma brilhante, reunindo o aspecto popular do jazz com a forma como se torna melodiosamente atraente, juntamente com a orquestra e o piano. Tudo isso dá um ar de grandiosidade e até sofisticação, transformando a obra em algo único. Percebe-se também que o compositor teve cuidado em usar ritmos diferentes para evitar uma associação direta com a música popular da época. É perceptível, no entanto, que o gênero jazz é apresentado de forma explícita durante toda a música.
A composição sofreu muitas críticas em seu lançamento mas, com o passar do tempo, músicos e maestros buscaram as cópias da partitura, marcando sua difusão por salas de concerto de todo o mundo. A Rhapsody in Blue marca uma mudança, porque provou que a música clássica poderia ser mais flexível, com espaço para novos sons e por isso, sem dúvida, mudou a história musical.
Muitas obras de George Gershwin foram utilizadas em mídias como cinema e televisão, e também por bandas de jazz. A diva deste gênero, Ella Fitzgerald (1917-1996), gravou muitas canções de Gershwin no álbum “Ella Fitzgerald Sings the George and Ira Gershwin Songbook”, de 1959. Muitas faixas foram escritas com o letrista Ira Gershwin, irmão mais velho de George.
O mundo da música está sempre em mudança e transição, e em Rhapsody in Blue podemos ver a tênue linha que divide os gêneros, se dissipando. Então aproveite para se emocionar com essa bela fusão entre o jazz e o clássico.
Obs: Gershwin recebeu uma nomeação para um Oscar, por "They Can't Take That Away From Me" escrita por seu irmão Ira para o filme de 1937 Shall We Dance.
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O Cravo Bem Temperado é uma coluna escrita por Vinícius Hilário, para nos aproximar da música erudita com um olhar atual e descomplicado.
Experimente, aprofunde-se, e deixe a boa música guiar suas emoções.