Por Roberto Rudiney
Mesmo com menor impacto, Kingsman ainda é um acerto
Quando a organização de espiões Kingsman é devastada por um ataque liderado pelo cartel Circulo Dourado, os personagens Eggsy e Merlin se vêm obrigados a unir forças com a Statesman, outra organização secreta nos mesmos moldes da Kingsman, para combaterem um inimigo em comum.
O maior destaque aqui nas está nas mãos do diretor Matthew Vaughn, que conduz cenas de ação energéticas, empolgantes e, porque não, estilosas. Em alguns momentos lembra o trabalho de James Wan, de velozes e furiosos, quando a câmera acompanha de perto a movimentação dos atores, em outros vem à memória alguns trabalhos de Edgar Wright, com uma edição rápida e dinâmica, sem deixar o publico confuso.
Outro acerto do diretor é entender o tom da história e abraçar a galhofa proposta pelo filme, que torna a violência da narrativa lúdica e cômica, ao invés de agressiva. Isso faz com que algumas decisões, que em outros casos seriam absurdas, sejam facilmente aceitas. Isso não quer dizer que ele acerta o tempo inteiro e, de fato, em determinados momentos, a linha da fantasia é cruzada, gerando algumas incongruências.
Eggsy, interpretado por Taron Egerton, ainda nos mostra a mesma malícia do filme anterior, mas dessa vez parece ter ainda mais consciência do papel que deve desempenhar dentro da organização e o ator entrega isso com bastante naturalidade. Há o retorno de alguns personagens importantes do primeiro filme como Merlin, interpretado por Mark Strong, e a volta – prenunciada pelos trailers – de Colin Firth como o espião Harry Hart. Adições significativas foram feitas ao elenco, mas nem todas são exploradas adequadamente, como é o caso de Channing Tatum e Jeff Bridges que, mesmo sendo grandes nomes, são quase figurantes de luxo.
Já Halle Berry, ainda que com mais material para trabalhar, tem pouquíssimo espaço para desenvolver seu personagem, por ser excessivamente unidimensional. Isso acaba deixando um sentimento de potencial desperdiçado. Em contrapartida, isso é proporcionalmente inverso ao que acontece com Pedro Pascal, que além de ter mais tempo e presença de tela, compõe muito bem o personagem Whiskey, um charmoso agente-secreto-cowboy, com uma admirável interação com Eggsy.
Outro ponto positivo é a caricata – e megalomaníaca – vilã Poppy, vivida por Julianne Moore, que é ao mesmo tempo adorável, extremamente cruel e sedenta por fama. Já a ameaça física fica por conta de Charlie, um dos candidatos a ingressar no Kingsman, que vimos ser reprovado no filme anterior. Dessa vez ele retorna em busca de vingança e com implantes robóticos, no melhor estilo vilão de 007.
É bem verdade que a obra não tem o efeito surpresa de seu predecessor. Dessa vez os rumos que a narrativa toma são bem claros, mesmo com alguns plot twists. Vamos encontrar também várias piadas autorreferenciais, repetindo até situações já vistas no filme anterior. O problema é que elas são utilizadas em excesso e muitas vezes sem grande relevância para a história, tornando o filme mais longo que o necessário. Há também uma situação bastante crítica e que reflete a política americana da atualidade. Algo que a tempos atrás poderia soar absurdo e impossível, acaba se tornando crível, ainda que caricato. É a famosa situação engraçada, porém triste.
Kingman: O círculo dourado não tem o impacto de seu antecessor, comete alguns erros e é mais longo que o necessário. Porém, sua ação estilizada e o carisma dos protagonistas garantem a diversão e a energia típicas da franquia, fazendo o ingresso valer a pena.