Primeiros Segundos #13 - Pulga | Iradex

Primeiros Segundos #13 - Pulga

Algumas coisas poderiam não ter fim. Outras coisas a gente deseja que acabem logo.

Algumas outras causam um desejo estranho. Queremos que parem para que possam voltar e parar e voltar...

Ei, você pode coçar as minhas costas aqui? Mais pra cima. Mais. Agora pra direita. Ahhhhh, pronto.

Obrigado.

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Texto, locução e edição por Mackenzie Melo. Edição complementar por Roberto Rudiney. Participação especial: Gabriel Pines.


Pulga (versão em texto)

Quase tudo que começa uma hora acaba. Isso não significa dizer que vai acabar agora, amanhã ou mesmo durante a nossa própria vida. Talvez dure o que, para nós – seres temporais – parece ser infinito, enquanto dure. Entretanto, uma hora quase tudo chega ao fim. E quando chega ao fim, aparecem várias opiniões. Duas delas: o pessimista vai dizer: “Viu só!? Falei que ia acabar!” Já o otimista dirá: “Cara, que bom que acabou. Foi tão bom enquanto durou que já estava com medo de ficar ruim se continuasse. É bom ficar com um gostinho de quero mais...”

O Iradex sonha com o dia em que eu termine esse puxa-encolhe de não entregar aquele primeiro episódio que nunca saiu. Eu, por outro lado, sonho com o dia em que nada mais possa me atrapalhar escrevê-lo para me ver livre dessa pressão.

Hoje eu tenho uma confissão – em forma de pergunta (será que isso é possível?) – a fazer a vocês. Eu, obviamente, nunca falei sobre o que é esse primeiro texto que me persegue tem mais de um ano. Vocês realmente acreditam que esse texto e esse pedido do Iradex existe ou acham que é uma invenção, uma “fake news” para deixar vocês ligados no conteúdo? Será que fiz isso apenas para chamar a atenção e me sentir especial ou essa conversa com o Iradex realmente existiu, mas eu nunca fiz o texto e, por consequência, nunca fiz o episódio? Ou será que é uma mistura de todas as coisas anteriores e, ao mesmo tempo, nenhuma delas? Será que esse mistério um dia vai ser resolvido? Se sim, como pode ser resolvido?

Querido, Mackenzie

Estou te escrevendo isso por que é a única forma que encontrei para te dizer que desisto de procurar esse tal primeiro texto. Confesso para você que estou, desde o dia que ouvi falar da sua coluna, em um estado de constante curiosidade, tentando saber quando foi que o Iradex te pediu para escrever esse texto, que seria o início da coluna e. Busco sem sucesso na memória quais eram os podcasts que discutíamos naquela época. E toda essa história de mistério acaba levando minhas memórias a outros casos interessantes como o do Primeiros Segundos.

Talvez uma hora eu consiga voltar, mesmo não sendo no Primeiros Segundos, e esclarecer tudo isso e contar a verdadeira história por trás da história. Como alguns amigos meus sempre dizem, não é PJ, “Se vocês soubessem dos bastidores, ficariam enojados”.

Já que falei em PJ – do HQ Sem Roteiro Podcast –, quero começar agradecendo a ele por algo que ele fez por mim e nem sei se ele sabe. Obrigado por reacender em mim a chama da leitura de quadrinhos. Quando mais novo, eu ia muito, muito mesmo, em sebos lá em Natal, onde morei por 30 anos de minha vida. Comprava o que podia de revistinhas usadas e CDs também. Até mesmo quando tive a oportunidade de viajar para São Paulo pela primeira vez com meu pai e minha mãe (beijo para eles e para você também Xuxa) andei por sebos, em especial na Praça da República, que foi por onde nos hospedamos.

Lembro, inclusive, que foi lá que comprei uma série de revistas em quadrinhos que me marcaram profundamente. O que eu verdadeiramente consigo buscar em minha memória é que eram 4 volumes, relativamente grossos, de uma edição especial da Editora Abril sobre Zé Carioca. Fora isso, não consigo descrever mais nada. – Pausa para a busca na internet. – Lembrei! Minha memória Google é fantástica. Sugiro a vocês adquirirem uma também. A série se chamava Os Anos de Ouro do Zé Carioca e realmente eram 4 volumes, com mais de 400 páginas cada um e foram lançados ainda nos anos 80s.

Considere a altura do ator Jake Gyllenhaal... você diria que descobrir a distância entre o chão e o último fio daqueles belos cabelos nos levaria a se conectar com emoções puras e a uma exploração profunda sobre nossas obsessões com fama e os famosos? Do mesmo modo, procurar o podcast que tomaria o número 1 nessa série tem nos levado a tantos outros caminhos "interessantes” que eu não me sinto preparado para ver mais essa busca chegar à um final definitivo.

Sebos, até pela sua própria natureza, são locais muito relacionados a ácaros, espirros, alergias e, também, pulgas. Onde se juntam coisas antigas, se não se cuida bem do ambiente, esses pequenos animaizinhos proliferam com uma facilidade enorme. E foi deste sebo, ou melhor, desta série de revistas do Zé Carioca que peguei a primeira e uma das mais permanentes pulgas de minha vida. Aquela que fica atrás da orelha.

Se vocês me pedirem para contar uma história de Zé Carioca que com certeza está em um desses volumes eu não poderei pois realmente não lembro. A pulga à qual me refiro veio dentro de um dos volumes. Uma carta de diversas páginas, escrita à mão, com uma letra que eu não conseguia decifrar muito bem e que, se não me engano, nunca mostrei nem contei a ninguém de sua existência até esse exato momento. Se alguém que ler esse texto já tiver ouvido essa história de mim antes, por favor me desminta. Vai me ajudar a perceber ainda mais que minha memória é realmente muito, muito falha.

Já pensou em entrevistar um atendente do serviço ao consumidor do seu app de podcasts, para descobrir qual era o programa que você ouvia na época que o Iradex te pediu aquele texto? Eu sei que parece uma pergunta estranha. Mas até um tempo atrás eu também não sabia que uma ligação para o SAC de uma empresa poderia me levar às lágrimas ao considerar a beleza do contato humano. Tudo pode acontecer quando nos abrimos ao desconhecido.

Infelizmente, não tenho mais a carta nem as revistas. Até tentei ver se, por acaso, nas inúmeras coisas que deixei para trás quando me mudei, minha Mainha conseguia achar as revistas. Ela, infelizmente, não encontrou. Então, hoje, mesmo se eu quisesse tentar resolver o mistério que me perturba e coça atrás da orelha desde o final dos anos 80s, não tenho mais como fazê-lo.

Queria eu ter a disposição de Starlee Kine, da Gimlet Media – empresa que é uma das maiores produtoras de podcasts dos EUA – de ir atrás de uma solução para esse mistério. Afinal de contas, Starlee é host do podcast Mystery Show.

Lançado em 2015 e contendo apenas 6 episódios, Mystery Show se tornou um pequeno fenômeno da mídia quando apareceu em Maio daquele ano. O que parecia ser apenas mais um show se tornou o vencedor do prêmio de Melhor Podcast do Ano pelo iTunes. Isso tudo apenas para ser cancelado enquanto a segunda temporada era produzida.

Não quero dar spoilers a respeito dele, afinal de contas, em que eu me tornaria se, ao falar sobre um podcast de solução de mistérios, solucionar para vocês o mistério que é ir atrás dele e ouvir quais mistérios ela vai resolver?

Que tal viajar até o interior de São Paulo, só para perguntar ao Mociaro se ele quer mesmo receber esse primeiro texto escrito, ou se ele é apenas um cão correndo atrás do próprio rabo, que não saberá o que fazer quando finalmente o texto chegar? Aí você chegaria lá na porta dele e descobriria que nesse dia ele não estava em casa, voltaria lá a semana toda para finalmente descobrir que esteve todos esses dias batendo na porta da casa errada.

Tem uma coisa, entretanto, que vale a pena e é importante ser dita. Os mistérios que ela resolve – se é que ela resolve algum – não podem ser mistérios que conseguem ser resolvidos apenas pela internet. Ou seja, ela viaja, vai atrás de celebridades, de pessoas desconhecidas em outras cidades, em outros estados...
Os mistérios? Ok. Vou citar o que tem no web-site.

1) Loja de Aluguel de Fitas de Vídeo-cassete – Uma mulher se associa a uma locadora e aluga um filme. Vai devolver no outro dia e a loja não está mais lá. Desapareceu.
2) Britney – Andrea é uma escritora que ninguém mais lê. Ela então descobre algo chocante.
3) Fivela de Cinto – Um menino encontra um objeto encantador na rua.
4) Placa de carro – Starlee e sua amiga veem uma placa de carro chocante que chama a atenção enquanto esperam o sinal vermelho abrir.
5) Código fonte – Enquanto assiste um filme, David descobre algo discrepante.
6) Kotter – Jonathan almoça numa cafeteria.

Para descobrir mais, só ouvindo o show.

Outra coisa que o Primeiros Segundos sempre me lembra no meu podcast favorito é daquele caso sobre a lancheira da série Welcome Back Kotter. Dessa história, sobre uma série que nunca passou no Brasil, eu pude ouvir a mais incrível investigação sobre a relação entre um artista, sua obra e nós, seus espectadores nos apropriando do que acabamos de ver, ouvir e sentir. Mas diferente do Primeiros Segundos, agora meu podcast favorito só tem casos fechados.

O podcast Mystery Show, hoje, infelizmente, está cheio de pulgas, pois é obra rara, excelente, mas que foi abandonado. Só durou esses seis episódios, como citei acima. O que é mais frustrante é que ao final da primeira temporada Starlee avisa que já está produzindo a segunda e que em breve trará novidades. Os fãs ficaram esperando por bastante tempo, até que, um ano depois ela lança um texto no Medium explicando o porquê de o show ter parado e que não vai mais voltar, pelo menos não pela produtora inicial, que o cancelou. Se quiser ler a explicação dela, clique aqui e dá uma lida. Ah, lembrem, é em inglês.


Por esses e outros motivos é que já não quero saber do paradeiro do primeiro texto da sua coluna. Veja bem, por mais que eu ame os mistérios cotidianos, existem alguns deles que simplesmente merecem permanecer desta forma. E muito frequentemente, a investigação que leva até sua resposta é a parte que verdadeiramente vale a pena. Eu sei. É um clichê. Mas é desse tipo de sabedoria popular que saem os brilhantismos mais singelos.

Um abraço do seu amigo, Gabriel Pines.

Esse é o episódio número treze do Primeiros Segundos. Quer dizer, deveria ser se o primeiro tivesse saído. É o 12, sendo o 13, o que dá no mesmo. Isso não é mistério. O mistério é, será que o primeiro sairá algum dia? Ou, para deixar outras pulgas atrás de suas orelhas, será que não já saiu e ninguém percebeu? Vocês sabiam, por exemplo, que existe o registro por escrito em uma das publicações do Iradex/Bando de Ruma (se eu disser onde está ficaria muito fácil de achar) desse um papo sobre a possibilidade de existir esse primeiro texto? Sabia também que esse primeiro texto seria escrito por mais de duas mãos, ou seja, que teria uma participação de um outro participante do Iradex/Bando de Ruma?

Mistérios. Quem não gosta de um? Para solucioná-los, entretanto, é preciso de tempo.

E é exatamente por isso que o Primeiros Segundos encerra aqui a sua primeira temporada, para dar tempo de vocês irem tomar banho bem tomado, lavar as orelhas e se livrarem dessa ou dessas pulgas que eu joguei em cima de vocês.

Se quiserem testar teorias da conspiração, sintam-se à vontade para expô-las na seção de comentários do site, no facebook do Iradex ou, até mesmo, no twitter (@iradex, @mackmelo)

Antes de encerrar os trabalhos dessa primeira temporada quero agradecer a todos que fazem o Iradex pela confiança, paciência e apoio incondicionais. Longe, diz Richard Bach, é um lugar que não existe. E olha que ele escreveu isso antes de existir a internet. O Iradex me proporciona a experiência diária de comprovar isso.

Agradeço a todos que participaram diretamente, sem nem saber no que estavam se metendo, dos episódios dessa temporada. Gabriel Pinheiro, Alex Nunes, Adah Conti, Giovanna Magda, Nilton Roger, Gabriel Franklin, Evelïssa Melo e Aninha Furtunato. Gustavo Mociaro, por ser esse editor que dá ainda mais vida aos episódios com escolhas sensacionais para imagens de capa e textos introdutórios mais que especiais e a Roberto Rudiney pela ajuda sem tamanho na edição sonora dos episódios.

Entretanto, jamais poderia deixar de agradecer, obviamente, a você que ouve, conversa comigo dentro de sua própria mente e que fala comigo nos comentários e postagens no site. Sem vocês, seria muito menos divertido e emocionante produzir esse conteúdo.

Nos ouviremos na próxima temporada do Primeiros Segundos, ou quem sabe até antes, em outros projetos que possam surgir nesse meio tempo. Mistérios...

P.s.: Se fosse nos dias de hoje, eu certamente teria uma foto da carta que encontrei no meio das revistas do primeiro volume da revista do Zé Carioca. Infelizmente sou de uma época em que as coisas precisavam ser físicas para poderem existir. Essa pulga continua – e deve permanecer comigo para sempre. Segundo especialistas – não sei quem são eles – pulgas só ficam em cachorros sarnentos. Não permitam que isso aconteça com vocês também.

P.s. 2: Depois que li o final do texto dessa semana e fiquei sabendo que existe uma pista em algum lugar por aí, minhas energias investigativas estão revigoradas. Me considere de volta ao caso! Eu vou descobrir qual era esse texto original e volto na próxima temporada para te perguntar se acertei.


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