Por Vinícius Hilario
Som e movimento
Já falei de alguns estilos musicais por aqui, mas nenhum deles harmonizava dança e música de forma tão delicada. Vistam suas sapatilhas e me acompanhem nesta viagem.
Pensando sobre os meus gêneros preferidos na música erudita, sempre me vem à mente o Ballet. Não apenas como obra sonora e instrumental, mas como uma dança. Eu claramente não poderia explicar tecnicamente como funciona dança desse gênero, mas tentarei esclarecer como a funciona a música, neste casamento entre som e movimento.
O balé (do francês “ballet”) é um estilo de dança originado na itália, no séc. XV, e seu nome origina-se do termo latino “ballare”, que por sua vez significa bailar. Apesar de comum na corte italiana, foi no séc XVII, na corte francesa, que esse gênero alvoreceu. Nos primórdios desse gênero a corte era entretida pela junção de música, poesia e dança, onde se utilizavam cenários e figurinos exuberantes para as festas palacianas.
O balés realizados nas cortes reais possuíam movimentos que envolviam cabeça, braços e tronco e sua dificuldade propiciou a formação de verdadeiros profissionais do gênero. O balé se tornou mais que simples reuniões e encenações casuais e, ao se tornar uma profissão, foi levado para o teatro e para as casas de espetáculos. À princípio os bailarinos eram todos homens, mas a partir do séc. XVII as escolas de dança começaram a também formar bailarinas.
Assim, no final do século XVIII um movimento liderado por Jean-Georges Noverre (1827-1810) inaugurou o "Balé de Ação", quando a dança passou a ter uma narrativa que apresentava enredo e personagens reais, modificando totalmente a forma do balé. Foi no período romântico que esse gênero tomou a forma que conhecemos atualmente. A junção de uma história à música e dança.
Durante o período Romântico, além de temas folclóricos, começaram a ser exploradas as características de culturas étnicas nos espetáculos ou, ao menos, na forma como os europeus ocidentais enxergavam as culturas de regiões como a África, a Ásia e o Oriente Médio. Os vilões eram, geralmente, não-europeus.
O balé clássico, como chamamos hoje, começou a ser criado em 1862 quando, ainda bailarino principal do Ballet Imperial Russo, Marcus Petipa (1818-1910), cria seu primeiro balé em mais de um ato: “A Filha do Faraó”. Uma fantasia surreal com temática egípcia, com múmias que ganhavam vida e cobras venenosas. Antes dele, os balés eram apresentados todos em um único ato.
Em 1877 Petipa cria a sua primeira versão de o “Lago dos Cisnes”, com música de Piotr Tchaikovsky (1940-1893). A parceria Petipa-Tchaikovsky rendeu ao mundo três obras primas do balé; “O Lago dos Cisnes”, que teve sua versão oficial apresentada em 1895, “A Bela Adormecida”, mostrada em 1890 e, em 1892 – junto com o também coreógrafo Lev Ivanov – “O Quebra-Nozes”. Todos esses trabalhos são baseados em histórias do folclore europeu.
Assim nasce uma paixão nacional, o balé russo, de carácter elaborado e técnico, com música composta exclusivamente para este gênero, à princípio patrocinada pelos czares, que fizeram do gênero próspero e remontam suas raízes russas. Um de meus compositores favoritos, Piotr Ilitch Tchaikovsky, cria, entre diversas obras, incríveis balés. De todos eles, aposto que conhecemos ao menos um, “O lago do cisnes”, sem dúvida o mais famoso deste compositor em todo o mundo.
Quando assistimos a um balé, muito mais do que observar a história, precisamos entender como, através do movimento, autor e compositor transcrevem uma imagem em sentimento. Esse gênero, observado com preconceito e algum machismo ainda hoje, precisa se libertar, para alcançar novos olhares e ouvidos, e ser apreciado por toda uma nova geração.
Espero que todos embarquem nesta jornada de descoberta, e apreciem a graça e a força dessa dança.
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O Cravo Bem Temperado é uma coluna escrita por Vinicius Hilario, para nos aproximar da música erudita com um olhar atual e descomplicado.
Experimente, aprofunde-se, e deixe a boa música guiar suas emoções.