Por Ana Louise
Em 2017, duas obras do renomado escritor Stephen King são adaptadas para o cinema. “It - A Coisa”, a história de terror com o palhaço Pennywise, chega às telonas em setembro, mas antes disso “A Torre Negra” faz sua estreia, trazendo a proposta de ser uma adaptação, mas também uma continuação da saga de 8 livros de King.
Antes de adentrar mais na trama, é bom ressaltar que este texto pretende analisar o filme como produto único, e não por seu mérito como adaptação. O próprio Stephen King não só aprovou a produção do longa, como também prestou consultoria na escrita do roteiro. O autor, no entanto, admitiu que o filme não é como o romance dele, “mas tem muito do espírito e do tom”.
A história do longa começa apresentando a figura do Homem de Preto (interpretado por Matthew McConaughey), com seu objetivo de destruir a Torre Negra, aquilo que protege o universo da escuridão. Vemos também o personagem de Roland (interpretado por Idris Elba), o último Pistoleiro, que como vingança pessoal deseja destruir de uma vez por todas o Homem de Preto.
Somos apresentados a essas duas figuras através dos sonhos de Jake, um menino problemático de Nova York que acredita que seus sonhos na verdade são visões, e parte em busca de respostas. O caminho de Jake cruza com o de Roland, e juntos, os dois precisam encontrar uma forma de impedir o Homem de Preto de destruir a Torre Negra.
O filme vai bem em apresentar o plot central, utilizando o artifício dos sonhos de Jake, mas em seu desenvolvimento ele falha ao fazer o público se sentir perdido, como se faltassem informações importantes para o entendimento da trama. Sabemos que existem outros universos e outros seres, mas isso não se desenvolve. Aquilo que permite a Jake ter visões, o “toque”, é apenas mencionado, como se o público já soubesse do que se trata.
Vemos elementos de um filme de aventura comum, como a dinâmica de um personagem de universo desconhecido tendo que se adaptar às estranhezas de Nova York, e o vilão que se diverte com sua própria maldade. Nem mesmo atores do calibre de Idris Elba e Matthew McConaughey conseguem fazer com que nos importemos com suas jornadas. Elba está sempre com a mesma expressão de sofrimento, e Matthew está altamente caricato, o que até certo ponto funciona, mas que na parte final do filme causa uma grande vergonha alheia.
Tom Taylor, o ator que interpreta Jake, fazendo sua estreia no cinema, tenta bastante passar emoção em tela, mas parece que suas tentativas são sempre minadas pelo roteiro. Há uma cena no filme que deveria representar o vínculo estabelecido entre Jake e Roland, com a citação do lema dos Pistoleiros, e que tornaria a cena final bem mais emocionante. Porém, ela é feita de forma jogada, e na resolução final a emoção não flui.
O filme não é ruim. Ele é como as aventuras que passam na Temperatura Máxima no domingo, e você assiste porque quer ficar em casa descansando. E ele, mesmo tendo apenas 1h e 35 minutos de duração, pode te ajudar até a dormir, se estiver com dificuldades para isso. Só que parece errado que a adaptação/continuação da maior obra de Stephen King seja apenas isso.
Por que não deixar o filme maior e apresentar melhor os detalhes de um mundo tão vasto? Não é preciso explicar cada elemento da saga, mas se há o interesse em produzir mais filmes, é preciso que o primeiro seja uma boa introdução, algo que ele não é. E é triste ver que tantas adaptações estão indo por água abaixo. Quanto à Stephen King, resta esperar (e torcer) para que “It - A Coisa” faça jus ao nome de seu autor.