O medo pode ser representado de diversas formas e a literatura sempre explorou o âmago dos tormentos humanos, criando clássicos de horror que através de narrativas cativas expandiram o gênero.
Partindo das páginas para as telas, grandes autores foram adaptados as mídias audiovisuais com variado resultado de crítica e público. O terror forjado por cineastas criativos ao traduzir histórias angustiantes em imagens perturbadoras. Porém, acredito que é no nosso psicológico e traumas que reside o pavor.
A leitura de O Cemitério de Stephen King me ajudou a entender a perspectiva sobre a morte. Um estudo psicológico sobre a perda de um ente querido que utiliza o sobrenatural como pano de fundo da trama.
Por mais que uma adaptação cinematográfica seja bem sucedida, e estou na expectativa pelo novo Cemitério Maldito, a literatura assombrada pelo medo acessa lugares desconhecidos da nossa existência.
Para revisitar histórias de medo, a Companhia das Letras compilou dezenove contos clássicos em uma coletânea que reúne Allan Poe; Machado de Assis; Shirley Jackson; João do Rio; HG Wells e outros.
Uma gata negra; a perda da visão; uma esposa dedicada; uma brincadeira de amantes; um navio; a inveja entre autores; cuidar da vovó sozinho. Qualquer coisa pode ser gatilho para a manifestação do mal.
Dentre excelentes tramas, destaco: "Os olhos que comiam carne" por Humberto de Campos onde a sanidade de um homem é posta a prova ao perder o sentido da visão; e "O Tarn" de Hugh Walpole que numa metalinguagem revela o monstro interno que pode existir na arte de escrever e não obter fama.
As narrativas selecionadas de Lovecraft, Bram Stroker e King ("santíssima trindade do terror?") são aperitivos dos mestres em descrever feitiços maléficos, criaturas intrigantes e vinganças demoníacas.
Fechando a coletânea, o "rei do terror" detalha deliciosamente as agruras e delírios de um netinho, sozinho em casa, encarregado para cuidar da vovó, com fama de bruxa, a beira da morte.
Contos breves para leitura rápida antes de dormir, lhe fazendo refletir sobre a natureza humana, seus dilemas morais e reações ao inesperado. Depois, um sono profundo... até acordar no meio da noite!?
A literatura que se convencionou chamar de terror nos permite viver, por procuração, situações angustiantes paralelas às de nossa experiência. Ou ainda situações que desejaríamos nunca experimentar. Entre a sedução e o medo, porém, criamos estratégias, muitas vezes catárticas, de elaborar a morte.
Contos Clássicos de Terror (Coletânea)
Companhia das Letras; Julio Jeha (seleção e apresentação); 408 páginas; Capa Dura; 2018.