Por Guilherme Lourenço
Muito mais que uma continuação, uma ótima renovação e expansão.
Antes de mais nada, fica a recomendação para que se fuja dos spoilers. Esta resenha está segura.
Desde 2015, a franquia “Star Wars” presenteia seus fãs no fim do ano, tornando esta época mais marcante para eles. Este é o terceiro ano seguido em que isso acontece, o que torna o evento uma nova tradição quase natalina. E mais do que nunca, desde o retorna da série aos cinemas, valeu a pena esperar.
O oitavo episódio da saga, “Os Últimos Jedi”, consegue reavivar tudo o que tem de bom nos primeiros, levando a rumos inesperados e deixando dúvidas quanto ao que pode acontecer com a sequência. E isso é bom! O fato de “O Despertar da Força” ter sido acusado de requentar a trama de “A Nova Esperança”, deixou muitos com a pulga atrás da orelha com relação ao futuro dos filmes, acendendo o alerta se o próximo seria uma releitura do clássico, considerado o melhor, “O Império Contra-Ataca”?
O início pode assustar um pouco a quem pensava assim. Somos jogados numa batalha onde a Resistência precisa abandonar seu esconderijo atual repentinamente, enquanto a Primeira Ordem está em seu encalço sem piedade, tramando o que poderia ser uma fuga mortal. Exatamente como o segundo filme da trilogia original. Porém, a partir daí o diretor e roteirista Rian Johson estabelece muito bem o que deseja transmitir para nós: a jornada de Rey e Kylo Ren. Muitas vezes, ela se aprofunda em cada um, o que requer um pouco mais do trabalho de Daisy Ridley e Adam Driver do que tiveram em “O Despertar da Força” e o fazem com tranquilidade. Cada olhar de dúvida que ambos lançam consegue jogar com a expectativa do telespectador, deixando-o realmente sem saber qual será o destino de cada um. A obscuridade ou a luz? O dúbio permeia toda a película, demonstrando que a realidade é muito mais do que o velho maniqueísmo dita. A busca por identidade, origem, destino e o papel de cada um é explorada de uma maneira bastante interessante e insinuante em se tratando de uma grande franquia comercial hollywoodiana.
A quebra de expectativa também é várias vezes trabalhada, e logo no início, no encontro de Rey com o antigo herói Luke Skywalker fica evidente que a relação de ambos e mais Kylo Ren vai muitas vezes passar por esse caminho. Luke retorna a série com o mesmo carisma, apesar de várias vezes abusar da carranca de um velho sábio que se cansou da galáxia, nos servindo como uma espécie suave de guia pela religião dos Jedi. Isso mesmo! Pela primeira vez na saga cinematográfica, a ordem dos Jedi é ostensivamente referenciada como uma religião antiga, que tenta compreender a Força, que também é explorada por diversas personagens em níveis nunca visto antes. A relação íntima que cada um tem com o que no universo de Star Wars mantém tudo unificado e interligado é demonstrado suavemente quando necessário, e brilhantemente numa cena empolgante protagonizada por Luke.
É claro que sem batalhas não há guerra, estão lá mais uma vez, demonstrando com maestria o porquê de Poe Dameron ser considerado o melhor piloto da Resistência. Com mais tempo de tela que no anterior, finalmente podemos apreciar Oscar Isaac transbordando carisma, fazendo nos importar com seu destino. O Finn de John Boyega segue pelo mesmo caminho, demonstrando que o equilíbrio neste tempo é um dos pontos fortes, sendo capaz de deixar claro todas as motivações e frustrações de todas as personagens. Boyega também demonstra um timing para o humor muito bom. Humor que pode acabar incomodando os mais carrancudos, pois permeia toda a trama, mesmo em momentos de tensão, mas nada que atrapalhe ou tire o peso do que está acontecendo. A presença de diversos bichinhos (seriam Pokémon!?!) reforçam isso, porém como exaustivamente comentado, aparentemente estão lá para vender mais bonecos licenciados. Outro ponto desfavorável a narrativa, é a falta do olhar sobre o que está ocorrendo além das batalhas e Luke, Kylo e Rey. Em certos momentos parece que o resto da galáxia inteira não se importa com o que está acontecendo entre os grupos antagônicos.
Apesar disso, o empolgante terceiro ato mostra claramente que Rian Johnson assumiu assertivamente o comando, não renegando o trabalho de J. J. Abrams, mas dando a sua cara a franquia e a direcionando para questões que permanecem abertas em nossa mente após o fim: qual a importância de Luke e Leia? Qual a relação de Kylo e Rey? Finn, Poe e Rey podem liderar a rebelião? Mais do que um filme de continuação, um filme “do meio”, “Os Últimos Jedi” é um começo, uma oportunidade dada a um universo iniciado décadas atrás de se renovar, demonstrando um crescimento real.