Você sabe o que é estar sozinho? Completamente sozinho? Ser o último ou o primeiro? Ele sabe.
Céu Azul é um conto de ficção científica escrito por Arthur Zopellaro e distribuído em primeira mão aqui no Contos Iradex. Embarque nessa leitura.
CÉU AZUL
Estava sentado nos escombros de um prédio vigiando o por do sol. Mas aquele céu não era comum.
Ao invés de descer no horizonte, o sol ia se apagando lentamente como uma lâmpada perdendo energia. Aquele corpo estranho, alaranjado de início, foi ficando mais vermelho, e menor, e mais vermelho, e menor, até que sumiu.
As estrelas passaram a brilhar como nunca antes, porém ele não conseguia enxergar nada perto de si. Tentou olhar suas mãos, mas tudo o que via era o escuro. Percebeu também que não conseguia mais encontrar a lua no espaço.
Pegou sua lanterna gasta e tentou acendê-la. Foi dando tapas até conseguir fazê-la funcionar. Levantou-se e foi iluminando seu caminho até o veículo. Lá dentro teve as estrelas do céu substituídas pelos LEDs do teto indicando o estado da nave.
— Temperatura exterior, Verdane? — perguntou enquanto verificava os monitores.
— Caindo rapidamente. — Uma mulher respondeu. Havia um ar metálico em sua voz.
— Ok, uma última checagem. Nenhuma vida?
— Nenhuma além da sua.
O piloto fixou seu olhar no chão e levou a mão até a testa.
— Acione a decolagem — disse balançando a cabeça em negação. — Vamos embora.
— Propulsores ativados com sucesso. Tempo estimado para sair da atmosfera: 1 minuto. — A nave respondia sempre com o mesmo tom. — Luzes externas acesas.
"Closing Time" do Semisonic começou a tocar, fazendo com que o piloto esboçasse um sorriso.
— Não precisava fazer isso, Verdane. — Soltou uma risada tímida. — Mas obrigado.
Esqueceu os painéis por um instante e se virou para sua antiga moradia. O planeta se distanciava rapidamente, fazendo com que a iluminação artificial se tornasse inútil antes mesmo que ele pudesse registrar uma última lembrança do local.
Aceitou que era o último sobrevivente e partiu.
Partiu rumo às incertezas, pois as certezas já o atormentavam demais.
Esse conto foi escrito por Arthur Zopellaro para o Contos Iradex. Para reprodução ou qualquer assunto de copyright o autor e o blog deverão ser consultados.