Nos anos de 2009 e 2010 eu passava por uns dos piores momentos da minha vida. Tinha uma agenda intensa de viagens que me afastava da minha esposa, da minha família e dos meus amigos. Se para muitos aquela minha vida era um sonho, afinal trabalhava em uma das praias mais bonitas do mundo, para mim era um martírio ter que encarar semanalmente pelo menos quatro horas de viagem. Eu tinha as piores lembranças do mundo com relação a viajar: quando criança só de me sentir numa estrada eu já ficava enjoado* (só leia o asterisco no final do texto se tiver estômago forte!).
Nessa época eu já sonhava em publicar um livro e iniciava aquele processo metralhadora do escritor amador de encontrar locais para se publicar. Alguns amigos mais próximos sabiam a respeito disso e gostavam de me avisar sobre oportunidades do tipo. E eis que um desses meus amigos, dentro de um e-mail sobre outros assuntos, sugere: por que você não envia o seu livro para o Jovem Nerd? Eu nem sabia o que diabos era Jovem Nerd. Naquele ano o JN havia lançado seu selo literário Nerd Books, do qual o hoje best seller A Batalha do Apocalipse, de Eduardo Spohr, havia sido o título precursor. Ao entrar no site apontado pelo meu amigo me deparei com uma palavra que já tinha me confrontado várias vezes nesse mundo internético: PODCAST.
Sim, eu já tinha ouvido falar a respeito disso, mas sempre adicionado da explicação mais rasa possível sobre o tema: “é tipo um programa de rádio, só que na internet”. Olha, eu gostava de rádio, tenho muitas lembranças boas disso (como quando gravava músicas do Michael Jackson em fitas K7 para escutar depois), e inclusive cheguei a apresentar um programa de rádio sobre rock, mas numa época de deslumbre pelo Youtube parecia esquisito para mim ficar na frente de um computador ouvindo “apenas” áudio. Baixei o tal episódio do podcast indicado pelo meu amigo e cai na estrada mais uma vez a trabalho...
O que eu tenho que dizer depois disso é que alguns meses depois eu realmente tinha uma ataque quando precisava encarar uma viagem e esquecia de atualizar meu feed de podcasts. Sim, no plural mesmo. Eu não escutava apenas um podcast, mas pelo menos dez outros. E descobri que podcasts não falavam apenas de temas nerds. Eu podia ouvir programas sobre história (Visão Histórica e Escriba Café), sobre ciências (Negação Lógica), sobre literatura (Ghost Writer, Podespecular e CabulosoCast), sobre Marketing (Braincast) ou simplesmente desligar meu cérebro mesmo (Matando Robôs Gigantes). Acabei me tornando mais um apaixonado pela mídia, um ouvinte daqueles batepapos descompromissados entre amigos que não se consegue achar na tevê. E a partir disso assumi uma posição no front daqueles que divulgam o formato. A relação que todo ouvinte de podcast tem com essa mídia é meio que essa mesma, de evangelizar novos ouvintes. Talvez por isso meu amigo tivesse me trazido para esse mundo. Agora eu me sinto na obrigação de fazer o mesmo.
A moral da história é que naquele momento as minhas viagens passaram a ser menos dolorosas. Se eu não tinha a companhia das pessoas que gosto, deixava pelo menos de me sentir sozinho naqueles momentos, rindo (às vezes desgovernado) dentro do ônibus ou dirigindo o carro.
Levando em consideração essa história toda que contei, você consegue imaginar minha satisfação quando fui convidado para um podcast pela primeira vez, né? E logo para falar sobre meu primeiro livro. Quantas voltas o mundo dá. E elas ficam ainda melhores ouvindo podcasts.
* Certa vez, quando eu tinha uns dez anos de idade, eu vomitei na cabeça de mãe e filho que viajavam na minha frente num ônibus. Demorei para conhecer podcasts, né?