Gênio, visionário, sensível, exótico. Difícil descrever Neil Gaiman com apenas um adjetivo. Mas é muito fácil chegar a um acordo sobre a incrível qualidade do trabalho desse britânico que revolucionou a história dos quadrinhos e da literatura (essa vai pros haters que vão dizer que não tem paciência pra quadrinhos...).
“Era apenas um lago de patos, nos fundos da fazenda. Nada muito grande.”
Mais uma vez somos deslumbrados pelo poder de criatividade do Príncipe das Histórias com seu novo O Oceano no Fim do Caminho, que conta em flashback as memórias apagadas na infância de um personagem que propositalmente não tem nome, podendo ser eu ou você (se aceitarmos embarcar nessa viagem fantástica).
+ Compre o livro O Oceano no Fim do Caminho
Aparentemente um livro infantil, o Oceano traz elementos que agradam a qualquer faixa etária, tornando-se assim uma obra indispensável para quem cultiva esse prazer que é a leitura. Um desses elementos é a seriedade que o sobrenatural recebe. Assim como em Deuses Americanos e Sandman, tudo tem uma explicação; por mais que a gente não saiba ou não consiga entender essa explicação, ela existe. A magia é algo natural, e está mais próxima do que imaginamos.
Outro elemento é a sutileza, não desprovida de realidade, com que são tratados assuntos muito sérios do nosso cotidiano, como traição, inveja e até mesmo o bullying. As “cutucadas sociais” que recebemos do autor são um bom ponto de partida para questionamentos bastante profundos sobre nossa natureza de seres altamente imperfeitos.
O livro fugiu completamente do controle do autor (segundo Gaiman, isso só tinha acontecido antes com Coraline). Esse era para ser um conto de poucas páginas dedicado à sua esposa, Amanda Palmer, que na época estava na Austrália gravando um disco. À medida que foi escrevendo, porém, a história foi tomando conta e crescendo, e não pode simplesmente ser mais contida em um conto.
Esse descontrole resultou em um sucesso de crítica e de vendas. Conseguiu inclusive desbancar o badalado Inferno, de Dan Brown, na lista dos mais vendidos do New York Times. E mais do que um livro de fantasia, o que temos em mãos ao ler o Oceano no Fim do Caminho é algo tão real que às vezes é necessário fazer um esforço para se lembrar que a história é ficcional, e não realmente uma coleção de memórias apagadas com o tempo.