"O Natal do Charlie Brown" moldou a personalidade de uma geração | 31 Dias de Natal | Iradex

"O Natal do Charlie Brown" moldou a personalidade de uma geração | 31 Dias de Natal

Dia 8:  O Natal do Charlie Brown (“A Charlie Brown Christmas”, 1965)

Texto e narração: Gabriel Pinheiro (Twitter / Instagram / Letterboxd)

Edição: Roberto Rudiney

DistribuiçãoR.I.P.A. / Iradex


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Transcrição:

Acho que deve ter alguma coisa errada comigo. O natal está chegando, mas eu não tô feliz. Eu não me sinto do jeito que era pra estar sentindo. Eu simplesmente não entendo o natal, eu acho. E eu gosto de receber presentes, e de enviar cartões de natal, e de decorar todas as árvores e tal, mas eu não me sinto feliz. Eu sempre acabo me sentindo pra baixo.

Se você não está catando a referência, eu acabei de citar palavra por palavra a abertura do curta “A Charlie Brown Christmas”. Essa animação é tão popular, até aqui no Brasil, que as chances são grandes de que você tenha sacado isso. Mas para o caso de você não conhecer essa abertura clássica, por favor, me tira uma dúvida: deu para sentir alguma diferença entre o que o Charlie Brown fala aqui e as coisas que eu normalmente falaria?

É porque, isso pode ser um delírio da minha cabeça, mas eu tô começando a achar que a minha personalidade foi 100% moldada por esse episódio. A cada segundo que passava eu ficava mais impressionado com as semelhanças entre o meu melodrama e o do minduim.

Eu sei que é loucura, até mesmo porque eu nunca tinha visto esse curta na minha vida - E olha que ele foi lançado em 1965, então tempo para assistir eu tive. Mas o que eu desconfio é que, muitos dos criadores de conteúdo que eu sigo hoje em dia, que influenciam o jeito como eu escrevo, também moldaram suas personalidades em cima do texto um tanto quanto melancólico desses personagens. 

Sério! As semelhanças entre esse roteiro e qualquer outra comédia que eu gosto são incontáveis: os personagens só sabem se relacionar através de sarcasmo depreciativo, a história inteira é permeada por uma mensagem anti-materialista do Natal, a música é basicamente um lo-fi hip hop Beats to study e muitas das piadas são apenas listas semi sérias levemente esticadas para efeito cômico.

Uma coisa que eu realmente não esperava, quando cheguei nesse curta, era ter a minha primeira experiência com uma mensagem bíblica durante essa maratona. Acontece que, da maneira mais pura e não religiosa possível, o natal do Charlie Brown cita uma passagem da Natividade. E faz isso apenas pela estética da coisa. O mesmo vale para as músicas festivas que tocam, não para transmitir uma mensagem, mas sim um sentimento bucólico que combina com a data.

A trama é simples. Tá mais para uma série de pequenas vinhetas individuais e todas igualmente satisfatórias com suas pequenas conclusões. As vozes em inglês são um deleite de ouvir, com aquelas limitações silábicas próprias da criança que mal aprendeu a falar. Se você só assistiu com a dublagem do Selton Mello, que tal dar uma chance para a versão original esse ano? Essa qualidade lo-fi da gravação, combinada com a poética dos diálogos, te fazem rapidamente entender porque esse especial é uma assistida obrigatória todo Dezembro para muita gente. 

Outro ponto alto? O snoopy aparece pouco. Odeio aquele cachorro safado.

Espero muito que eu tenha feito jus aqui ao tanto que eu amei O Natal do Charlie Brown. Fica até difícil pra mim fazer um bom trabalho, quando o Linus já fez a melhor definição possível… Eu peço até desculpas ao Marginal Alado e seus amigos, mas este é sim o mais Charlie Brown dos Charlies Browns.