Primeiros Segundos #10 - O que é ser herói? | Iradex

Primeiros Segundos #10 - O que é ser herói?

As vezes me pedem pra fazer algumas coisas estranhas. Algumas vezes eu mesmo escolho fazer essas coisas. Hoje me pediram pra fazer esse post. Ah, se eu pudesse voltar no tempo...

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Texto, locução e edição por Mackenzie Melo. Edição complementar por Roberto Rudiney.


O que é ser herói? (versão em texto)

Mais uma semana e mais um blá blá blá. Se vocês soubessem como eu me sinto ou pudessem ler meus pensamentos agora saberiam o quanto, e isso pode até soar estranho, mas, o quanto realmente eu adoraria poder escrever sobre o que o pessoal me pediu. Não deu, infelizmente. Mais uma vez, não deu.

Sabe quando decidimos dar uma chance a uma música, uma banda, um filme que alguém nos sugeriu, de novo, e depois nos perguntamos porque não fizemos isso antes?
Sabe aquela ansiedade que faz com que as mãos suem e os olhos brilhem quando sabemos que poderemos ouvir e estar de novo ao lado daquela ou daquele que amamos, sentindo o sentimento recíproco do outro por nós?

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Sabe quando conversamos com amigos e eles nos aconselham a fazer coisas que não fazemos e depois acabamos tendo que dar a mão a torcer? E quando é o contrário? Ou seja, quando fazemos algo que não deveríamos fazer e eles nos avisaram para não entrarmos nesse barco furado? Adoraríamos poder voltar no passado e fazer diferente, não é?

Sabe quando fizemos algo que um amigo queria muito que fizéssemos e, depois de fazermos o que nos foi pedido, percebemos que realizar o desejo dos outros é uma faca de dois gumes, tanto para nós quanto para o outro?

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Entre os parágrafos anteriores e esse que escrevo agora se passaram pelo menos seis meses. Infelizmente não lembro mais – com precisão – onde eu ia com as perguntas que acabei de fazer quando comecei a escrever esse texto sobre The Bright Sessions Podcast. Sei que é estranho começar um texto assim, mas, mesmo assim, vamos começar novamente.

Antes de começarmos de novo, entretanto, eu também não lembro direito como foi que esbarrei nesse podcast. No entanto, preciso dizer que foi um desses esbarros providenciais e necessários. Hoje eu sei que estaria com ouvidos muito menos satisfeitos – em termos de podcasts – do que se eu não o tivesse encontrado. The Bright Sessions Podcast se tornou um dos meus favoritos e está entre os três melhores áudio-dramas que ouvi até hoje. Comecemos novamente.

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Sei que você não pode sentir o que sinto agora (um pouco de frustração por não poder continuar aquele texto original), mas preciso contar que quando eu descobri que alguém nesse podcast podia, literalmente, sentir, se deixar influenciar e canalizar os sentimentos de outras pessoas que estavam ao seu redor, isso me arrepiou.

Sei também que você não pode visitar o passado e me ajudar a lembrar onde ia meu pensamento quando comecei a escrever sobre esse Podcast, mas hoje isso pouco importa. Eu não fico ansioso por coisas assim. A série, entretanto, tem uma personagem que, ao ficar extremamente ansiosa e ter ataques de pânico, misteriosamente desaparece e volta ao passado.

Sei ainda que, mesmo que estivéssemos lado a lado neste exato instante, você também não poderia ler minha mente e saber o que estou pensando a respeito do meu almoço, ou café da manhã de hoje, por exemplo. Esse não seria o caso se fôssemos personagens na série. Uma das ‘atípicas’ – sim, é assim que esses personagens com poderes são chamados, ‘Atípicos’ – tem o poder da telepatia. Por favor, não confundam telepatia com a Tia de Pelé, ela pode ficar chateada. Sei que foi uma piada bem ruim, mas esse sou eu. Ainda bem que vocês não são telepatas para saber quantas bobagens estranhas passam por minuto em minha mente.

Aos que puderem, porventura, estar pensando “Você deveria ir se tratar. Você é bem estranho.”, eu preciso confessar: eu também acho. Mas quem não deveria, não é mesmo? Só sei que o podcast As Sessões da Doutora Bright – The Bright Sessions Podcast – lida exatamente com isso. Uma psicóloga que trabalha exclusivamente com ‘atípicos’, ou seja, com pessoas que têm habilidades extraordinárias, que têm superpoderes.

Nas primeiras duas temporadas, a doutora Joan Bright é quem leva a história na maior parte do tempo, já que é através das sessões de terapia conduzidas por ela que ouvimos os seus pacientes sendo tratados no consultório. Desse modo, nos envolvemos a tal ponto em seus dramas e suas vidas que eles parecem se materializar ao nosso lado quando se sentem estranhos, sorriem, gritam, choram, se desesperam, ficam alegres e sofrem. E esse, para mim, foi o grande chamativo do podcast. Amo o ritmo das conversas dentro das quatro paredes do consultório.

Já as duas temporadas seguintes (3 e 4) acompanham os personagens também fora da sala da Doutora Bright. Isso acaba dando à série um monte de caminhos novos a explorar. Temos mais ação, novos personagens e tudo o mais que se possa esperar de uma história que lida com poderes atípicos, pessoas estranhas, relacionamentos variados, mistérios, incertezas...

Lauren Shippen, a escritora e principal produtora do podcast – ela também faz a voz de Sam, a ansiosa viajante do tempo – nos entrega um mergulho profundo nos personagens, ou seja, o foco não é na ação (ou na falta dela), mas principalmente em quem é cada uma das pessoas que participam da história. Ao escolher não utilizar de um narrador indireto em momento algum durante a série inteira ela faz com que a interação entre os personagens conte a história. Assim, com eles dialogando e agindo como se não houvesse uma câmera – ou um gravador – bisbilhotando o que eles estão vivendo e fazendo e sem que sejamos interrompidos por alguém nos descrevendo a cena, imergimos totalmente no ambiente sonoro criado pelos produtores da série, que é muito bem ambientada e sonorizada.

No momento que termino esse texto, a série já encerrou e vocês terão um bom tempo para apreciar as 4 temporadas do podcast – 56 episódios oficiais, além de diversos episódios bônus. A história se fecha o que é excelente, mas deixa inúmeras possibilidades para que o universo criado por Lauren Shippen perdure e se expanda. Isso, inclusive já está garantido. A autora está escrevendo a adaptação do podcast para uma trilogia de livros infanto-juvenis e também a adaptação da história para uma série de TV. E ela também prometeu que haverá dois spin-offs da série. Um já sai em 2019 e o outro está programado para 2020.

Existem muitos episódios incríveis na série, mas destaco o episódio número 50, já bem perto do final da história. É um episódio musical, onde vários dos personagens cantam, com as letras das músicas sendo parte integral da trama. E a explicação para que isso aconteça faz todo o sentido dentro do que os personagens estão vivendo, ou seja, não é algo criado apenas para ser diferente. Gostei tanto que ouvi esse episódio mais de umas vezes.

Naturalmente que eu poderia falar muito mais sobre The Bright Sessions Podcast, mas eu prefiro deixar que vocês mergulhem na história. Conheçam Sam, Caleb, Adam, Chloe, Dr. Bright, Mark, Agent Green, Wadsworth, Damien, Rose dentre muitos outros. Entrem no consultório da Doutora Bright, nas casas deles, na misteriosa Agência AM (que tem motivos escusos ou está fazendo o que faz para o bem de todos, inclusive para o nosso bem, os normais aqueles não temos poderes?). Descubram como cada poder afeta a vida deles e daqueles que estão ao seu redor e decidam de quem vocês gostam mais e quem mais tira vocês do sério.

Depois de conhecê-los, se ainda não tiverem percebido, espero que se reconheçam, pelo menos um pouco em cada um deles. São todos fictícios, mas ao mesmo tempo são tão reais que acabamos vendo neles reflexos de nossos medos e coragens, dúvidas e certezas, ódios e amores. Descobrimos em cada um deles o que é necessário para se tornar um herói.

Uma certeza eu tenho: não consigo lembrar o que me fez começar o texto como comecei. Uma outra certeza: independentemente de se ter poder ou não, de ser ou não um atípico, o que nos torna heróis, anti-heróis ou bandidos não são nossas habilidades, nossas estranhezas, nossas forças ou nossos poderes. O que nos diferencia é como e para qual finalidade nós utilizamos aquilo que nos torna iguais ou diferentes, normais ou atípicos. Assim, seja igual ou diferente, normal ou não normal, típico ou atípico, use sempre o que lhe torna único para ser, cada vez mais, um você melhor do que o você de ontem.

Como a série nos convida sempre, Stay Strange, permaneça estranho.

P.S.: o que continua estranho é o silêncio da RIPA com relação ao primeiro episódio. Eles nunca falaram nada sobre eu não ter produzido ainda e ter começado pelo segundo. Será que esse é um superpoder que eu tenho e não sabia? Será que quando eles me pediram e eu aceitei fazer o texto eles imediatamente sentiram que o simples fato de eu ter aceito o pedido já fez com que eles achassem que o texto estava pronto e publicado? Espero que seja isso pois não sei quando esse texto vai sair...

P.S.2: traduzir/adaptar algo é um processo complexo. Quem já passou por ele sabe do que estou falando. Escolhi adaptar o nome do podcast (The Bright Sessions Podcast) para as Sessões da Doutora Bright porque Bright é o nome da psicóloga. Entretanto, a palavra bright significa brilhante, resplandecente. Logo, uma tradução mais literal poderia ser Sessões Brilhantes, o que estaria correto, mas também perderia algo. Quis adicionar essa nota para agradecer a Adah Conti pela dica de tradução da parte que ela gravou como a Doutora Bright e também a Giovanna Magda, do Molho Shoujo Podcast, por interpretar Sam.


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