O Piloto segue rumo a um destino incerto. Sua incansável jornada estelar pelo fim da solidão pode estar chegando ao fim. Seria isso algo bom?
Sistema Binário é um conto de ficção científica escrito por Arthur Zopellaro e distribuído em primeira mão aqui no Contos Iradex. Embarque nessa leitura.
Caso não tenha lido, leia agora a primeira parte desse conto: Céu Azul
Sistema Binário
Anos após o fim de seu planeta natal, o Piloto permanecia em busca de uma nova civilização para instaurar-se. Mesmo com bilhões de estrelas constantemente emanando calor, ele sentia falta da quentura de um abraço. Mesmo diante das infinitas possibilidades que as estrelas traziam, sentia apenas a gélida solidão do cosmo.
— Planeta detectado com alta chance de combustível. — A voz metálica de Verdane quebrou o silêncio. — Possível presença de estruturas alienígenas.
— Algum sinal de vida?
— Nenhum além do seu.
— Vamos pousar.
Este era o terceiro sistema que Verdane havia detectado a existência de uma civilização extinta. A persistência do Piloto em sua busca pela vida originava-se de uma história que sua irmã sempre contava:
“Cada estrela no céu representa uma vida.
Quanto mais brilhante, maior a vitalidade.
Uma destas estrelas é a sua.”
O Piloto tinha suas dúvidas sobre a veracidade da história mas gostava tanto da ideia que decidiu adotar uma das estrelas como seu norte. Independente da galáxia em que ele se encontrava, tinha este corpo celeste brilhando em seu horizonte.
Ele finalmente aceitou a história como verdadeira ao perceber a ausência da estrela. No mesmo instante recebeu a notícia de que havia perdido sua irmã. Perdeu seu norte.
Desde então, passou a dar uma atenção especial para as estrelas. Observou que o número de astros vinham diminuindo constantemente e conseguiu assim sobreviver à destruição de seu planeta natal.
— Aterrissagem concluída com sucesso. — A nave o despertou de suas lembranças.
— Você cuida do combustível, Verdane?
— Perfeitamente. O veículo explorador já está trabalhando.
O Piloto contemplou a beleza da cidade iluminada pelos raios solares. Todos os edifícios pareciam estar em perfeito estado e possuir tecnologia avançada. Imaginou se os seres deste planeta haviam sido extintos ou, assim como ele, escaparam a tempo. Aproveitou seus devaneios para cochilar. Não tinha o propósito de descansar o corpo, mas sim a mente.
***
Um alerta sonoro despertou o Piloto de seu sono profundo.
— O que houve, Verdane?
O planeta, anteriormente banhado pelo sol, encontrava-se agora em completo breu.
— A estrela deste planeta, assim como bilhões de outros astros, desapareceram simultaneamente.
— Acione a decolagem! — exclamou com a voz embargada em descrença. Precisava confirmar pessoalmente.
O próprio espaço parecia ter sido sugado por um buraco negro, ele não conseguia encontrar nenhuma estrela no universo. O desespero o acertou como um golpe baixo tornando insignificante sua busca pelo fim da solidão.
— Faça uma nova checagem. — Ele não aceitava a ideia de que sua estrela também havia desaparecido!
— Tenho a leitura de apenas dois astros em todo o universo.
Dois pequenos pontos brilhantes apareciam no campo de visão do Piloto enquanto a nave rotacionava.
— Analisando as estrelas. — Verdane pausou por um instante. — Estes dois corpos celestes encontram-se em um sistema estelar binário, rotacionando entre si em uma órbita compartilhada.
Aos poucos um sorriso vencia o desespero e contagiava o rosto do Piloto. Sentiu o calor da lágrima escorrendo em seu rosto. Nem tudo estava perdido.
— Acione os propulsores. — falou em meio a um sorriso. — Temos um novo norte.
Esse conto foi escrito por Arthur Zopellaro para o Contos Iradex. Para reprodução ou qualquer assunto de copyright o autor e o blog deverão ser consultados.