O Dilema da Adormecida | Iradex

O Dilema da Adormecida

Um ancião narra uma história para algumas crianças, no intuito de fazê-las filosofarem, pois a narrativa do ancião lhes apresenta um dilema. Com isso, os jovens passam a questionar valores importantes como a ética, a moralidade, o valor da vida, as bases que ancoram a realidade, o direito de escolha e principalmente como um dilema pode se abrir em muitos outros.

O Dilema da Adormecida é um conto escrito por Ton Borges e distribuído em primeira mão aqui no Contos Iradex. Embarque nessa leitura.


O Dilema da Adormecida

We are such stuff as dreams are made on, and our little life is rounded with a sleep. (The Tempest, William Shakespeare)

— A história que vou lhes contar hoje aconteceu há muito tempo atrás — começou o velho ancião a narrar um conto para algumas crianças, que se amontoavam ao seu redor, na praça da igreja medieval— e é sobre um cavaleiro chamado Sir Affonso.

Esse tal cavaleiro era um homem muitíssimo honrado e nobre, dotado de um coração tão puro que cativava todos os que o conheciam. Muitos o achavam um cavaleiro ideal, pois seguia a risca o seu Código sem nunca deixar de ajudar quem sofria. No entanto, meus jovens, Sir Affonso teve de deixar seu reino, que estava mergulhado numa guerra interminável, para viajar o mundo em busca de aliados.

Numa de suas andanças, após dias cansado de tanto cavalgar, acabou encontrando uma pequena e formosa cidade onde resolveu parar para descansar. Lá era um lugar humilde, porém era muito belo, com jardins floridos, boas casas em ótimo estado, habitantes felizes e animados... e até o ar, acreditem meus jovens... até o ar parecia agradável e doce! Na taberna então... Ah, lá sim ficou completamente encantado, pois a comida e a bebida eram deliciosas, isso sem falar na inigualável música dos bardos. Assim, quando dormiu, estava feliz com aquilo tudo e acabou tendo a melhor noite de sono da sua vida.

— Puxa ancião, lá parece ser tão legal! — respondeu uma menina enfeitiçada pela narrativa.

— Ah, o cavaleiro também achou— concordou o ancião com um sorriso de bochecha cheia— Quando acordou no outro dia ele já estava tão fascinado que resolveu ficar por durante mais alguns dias na cidade.

Nesses dias logo descobriu o quão hospitaleiros eram seus moradores e como tudo lá transpirava prosperidade. Sabem meus amigos, as vacas lá eram gordas, as galinhas botavam dúzias de ovos por vez, as verduras cresciam suculentas e os cereais eram colhidos em abundância. Mas a única coisa que destoava de toda aquela região onírica era uma horripilante floresta negra.

— Uau... — um garotinho se impressionou— como ela era?

— Era uma mata muito densa— respondeu ele fazendo um tom de mistério— cheia de árvores envoltas em espinhais, com arbustos venenosos e de perto podia-se sentir o cheiro fétido na brisa morta e ouvir os grunhidos de animais noturnos, daqueles que pegam crianças que desobedecem os pais.

Todavia jovens, sabem o que era o mais curioso? É que mesmo com centenas de anos daquela floresta lá, ninguém da cidade nunca se atreveu adentra-la, por ordem restrita dos anciões que comandavam a cidade."

Então, tomado pela curiosidade, ele questionou os anciões sobre isso, mas estes inventavam desculpas diferentes e, sempre que podiam, desconversavam mudando de assunto. O nosso cavaleiro foi tão insistente, mais tão insistente, que pela primeira vez foi repreendido severamente na cidade.

—E o que ele fez depois?! — exclamou uma criança cheia de ansiedade— Ele entrou na floresta? O que ele encontrou lá? Um dragão? Um tesouro?

— Acalme-se, acalme-se, eu vou lhes contar— pediu o ancião humildemente e com a paciência que só a idade traz— Ele não entrou na floresta, o nosso Sir Affonso era muito esperto, sabia que podia ter algo de terrível e perigoso na floresta negra, uma vez que os anciões escondiam o segredo com tanto afinco. Portanto, a fim de descobrir a verdade, ele chamou um dos anciões para beber com ele na taberna e lá ficaram bebendo a noite inteira. O cavaleiro embebedou-o de tal forma, que o velho embriagado acabou soltando a língua e lhe contou o segredo....contou-lhe a história da "Bela Adormecida" :

"Há séculos atrás— disse o velho em meio a um soluço, imitando a voz do bêbado— antes dessa cidadezinha nascer no meio do nada, havia um reino aqui, com castelo, rei e tudo. Era um reino em ascensão, um reino forte e abençoado, isso graças à família real, pois o rei havia se casado com uma fada. Dessa união, nasceu uma linda garotinha, a princesa Aurora, que encheu o casal de orgulho.

Para celebrar, eles fizeram um enorme batizado e convidaram todos do reino, fossem camponeses ou nobres. Chamaram também todas as fadas, que abençoaram a criança com beleza e bons sonhos, além de ficarem impressionadas depois de descobrir que parte do poder mágico da rainha-fada corria nas veias da criança, a ponto de ser profetizada que ela seria, quando crescesse, a maga mais poderosa do mundo.

Mas, no fim das celebrações, apareceu uma bruxa, um tipo de fada caída, que estava furiosa tanto pela profecia quanto por não ter sido convidada para o batizado. Como ela não podia matar a criança, por causa das bênçãos das fadas, ela amaldiçoou-a e assim, quando chegou à maioridade, a princesa, espetando o dedo no fuso de uma roca, ficou adormecida para sempre. As fadas fizeram de tudo para tentar acordá-la, mas nada adiantou, porque o único meio de quebrar a maldição seria por um beijo de um cavaleiro de coração puro.

Os pais da princesa, com muita tristeza, a colocaram numa torre no meio da floresta negra, para que ninguém fizesse nenhum mal a ela. Depois disso, caçaram impiedosamente a bruxa e esta, em resposta, espalhou caos ao reino. Uma guerra horrenda e sanguinária consumiu a vida de todos do reino, que com o passar dos anos, se desfez. Não havia família real, as terras estavam inférteis, os riachos e lagos secaram. Os que sobrevieram se mudaram para longe e esta se tornou uma terra de ninguém, até que essa vila, hoje cidade, surgiu. Mesmo com passar dos séculos, por causa de seu sangue feérico, a princesa continua viva e a dormir, esperando em sua torre no meio daquela maldita floresta negra."

— Caramba... tadinha da princesa-fada....— suspirou uma menina.

— Depois de ouvir essa história— continuou o ancião, agora de volta ao tom prosaico— o valente cavaleiro ficou determinado em desbravar a floresta, subir na torre e tentar acordar a princesa com seu beijo, caso claro, se tivesse o coração puro. No outro dia, vestiu sua armadura brilhante, colocou a espada na bainha, subiu no cavalo e rumou para floresta. Com tudo, quando ia saindo um jovem aprendiz do ancião-mor, de nome Guilherme, chamou o cavaleiro para casa de seu mestre. O Sir Affonso, muito educado, seguiu o jovem rapaz e lá se encontrou com o ancião-mor. O velho, o rapaz e cavaleiro se sentaram na varanda e ancião-mor foi logo lhe dizendo:

"Sei que você, ontem a noite, nobre cavaleiro, ceou com um de meus colegas anciões e que o dito beberrão acabou lhe contando o que na verdade existe no meio da floresta negra. Mas a torre com a princesa adormecida é só parte da história.

Como sabe, após a princesa ser colocada em seu sono mágico na torre, o reino caiu numa desgraça tão profunda que se acabou por completo e foi abandonado por todos. O que não sabe é COMO nossa cidade acabou surgindo em tamanho desolamento.

A profecia que dizia que a abençoada princesa-fada seria poderosa estava correta. Com o passar dos anos seu poder cresceu, mesmo com ela inerte, e cresceu tanto, mais tanto, que ele começou a transbordar dela, dando vida aos seus sonhos.

Sim, caro Sir, a sua magia fez com que o que ela sonhava criasse vida e se materializasse no plano real. Dessa forma, abençoada com bons sonhos, a princesa sonhou com uma vila, cheia de pessoas felizes, animais belos e campos paisagísticos. É exatamente o que está pensando agora, cavaleiro, eu, meu aprendiz Guilherme, essa casa, a taberna, os moradores, nossos animais, tudo, tudo, absolutamente tudo o que você viu nos últimos dias é constituído dos sonhos da princesa adormecida.

Sua magia é tão forte que até a vitalidade das terras e águas ela trouxe de volta. As primeiras pessoas nascidas do sonho dela começaram a trabalhar a terra, viver por aqui e com o passar das gerações, meus conterrâneos acabaram se esquecendo da princesa que lhes deu a vida. Se esquecendo de que são feitos de sonhos. Por isso, nós, os anciões, guardamos nossa história, para nunca nos esquecermos de nossa matéria onírica e de que dependemos do sono de uma princesa para existirmos.

Por isso, nós, os anciões, não deixamos os outros irem até a floresta negra. Por isso, eu o ancião-mor, peço a você cavaleiro, que pense bem antes de continuar seu caminho e acordar a princesa, pois não se trata somente de uma missão heroica...

...é um dilema onde você deve escolher: Salvar uma princesa-fada amaldiçoada ou deixar que nossa cidade e nosso povo continuem existindo."

Todas as crianças estavam boquiabertas com a história, não esperavam uma torção de trama tão inesperada, ainda mais uma que colocava o herói da história em uma situação impossível de resolver.

Mas esse era o efeito que o ancião queria produzir em seus pequenos ouvintes, pois não estava lá só para encantá-los com contos de fadas moralizantes. Não, o ancião, que mais agia como um filósofo, queria colocar as jovens mentes para pensar, colocar a noções de moral e de ética deles em xeque, pois a sabedoria não mora em respostas e sim em perguntas.

— Agora, crianças— disse o ancião em tom bondoso, mas provocativo— eu é que pergunto a vocês: Qual decisão o cavaleiro deveria tomar?

Por certo tempo elas permaneceram pensativas, até que uma garota, filha de camponeses, respondeu:

—Olha... eu acho que ele deveria escolher proteger a cidade do sonho, mesmo que seja muito triste a pobrezinha da princesa-fada ficar dormindo para sempre.

— Que nada! — respondeu o filho do taberneiro— se a princesa fosse mesmo bonita como você disse, eu tascava um beijão nela de uma vez— dito isso começou uma discussão entre ele e a garota.

—É mais uma questão de... como é mesmo a palavra?... Ah, sim, de "perspectiva" — ponderou o filho do bibliotecário— Tudo depende de um outro dilema, que não é "uma ou vários" e sim se...se alguém que nasce do sonho de outra pessoa é tão real, tão vivo... quer dizer, se esse alguém vale igual uma pessoa de verdade, entende? Uma "pessoa-sonho" tem livre arbítrio? Ela é "gente"? Ela merece viver como uma pessoa real?

— Não sei... — disse confuso um órfão que vivia na igreja—...se eu fosse ele eu rezaria ao meu Deus para me dar algum sinal, por quê isso é algo difícil de mais para se resolver sozinho.

— Eu tive uma ideia! — respondeu a filha do juiz— Por quê os habitantes da cidade não se reúnem e votam para decidir se acordam ela ou não? Vai que eles não desaparecem.

— Aí, verdade— concordou o filho de um vendedor— Ninguém sabe se eles vão sumir né?

— Engraçado, todos vocês pensam na consciência do cavaleiro, se põe no lugar do cavaleiro, mas enquanto a princesa? — inquiriu enérgica a filha de atores— Será que ela quer mesmo acordar e acabar com todas as pessoas que criou? Se esse cavaleiro acordá-la, vai tirar dela o direito de escolha. Imagine você acordar e descobrir que por causa disso uma cidade inteira foi dizimada? Não dá para viver com isso na cabeça. Se um cavaleiro, melhor, se até um príncipe encantando fizesse isso comigo, eu dava um cascudo na cabeça dele!

— Eu por mim gente de sonho é gente de sonho e gente normal é gente normal— disse a filha de um marinheiro— se fosse eu picava a mula de lá por quê é muita loucura uns trem desse.

—Eu não acordava ela não— disse o filho de um padeiro— As pessoas da cidade foram tão legais com ele, poxa. Se eles são de verdade ou de mentira não importa... além disso, vai que ele morre no meio dessa "floresta de cruz credo". Aí não ia dar em nada mesmo.

— Infelizmente, fosse eu o amaldiçoado a sina de tal escolha...— disse a filha de um bardo— ...deixaria a bela princesa-fada lá na torre. MAS, em compensação eu contaria a todos os moradores da cidade que eles devem o bater de seus corações a pobre alteza amaldiçoada. Decretaria que eles deveriam festejar sempre em homenagem a dama da torre, louvando-a e mandaria erguer uma estátua dessa virgem sonhadora para que nunca se esquecerem de como são efêmeras criaturas oníricas.

— Se ela sofresse enquanto dormia...— supôs o filho de um soldado— eu acordaria ela. Tipo, sofrimento eterno é horrível.

— Difícil dizer o que vale como real e o que vale como sonho... —pensou alto o filho do um ferreiro—... ainda mais dizer se o sofrimento de um vale pela vida de muitos... ainda mais sem saber se ela sofre ou não... mas acho que deixava ela lá.

Todos davam suas respostas ou murmuravam, mas de repente, quatros jovens, mais velhos e mais bem vestidos que os demais, se levantaram de supetão, o que fez com que as crianças fizessem silêncio. Eles olhavam sérios e indignados para o resto, com um ar de superioridade que produzia uma tensão no ar. Física, social e psicologicamente, os quatro pareciam gigantes para as crianças. Então um deles tomou a palavra.

— Vocês todos são uns tolos!— injuriou em pé o ríspido filho do banqueiro— Qualquer um de vocês, no lugar do cavaleiro, teria ido salva-la! Afinal de contas, ela ia ficar tão agradecida que se casaria com ele e assim o cavaleiro se tornaria um rei poderoso. Qualquer um faria qualquer coisa para se tornar rei, ter riquezas e terras! Ou estou enganado?

— Concordo, e digo mais!— exclamou em pé o imponente filho do general— Se esqueceram de que o cavaleiro buscava aliados para sua guerra? Imagina se ele tivesse essa poderosa maga do seu lado! Ele poderia esmagar seus inimigos, salvar o seu povo e além de rei seria um herói! E daí que uma cidadezinha estrangeira sumisse? Ele tem de valorizar sua pátria! Ele é um cavaleiro, ora bolas! Vocês não valorizam, não defenderiam sua pátria?!

—Verdade, e daí que a cidade sumisse?! — questionou em pé o majestoso filho do duque local— Se aquelas pessoas são feitas dos sonhos da princesa, então elas são súditos dela. E como sabem, todo bom súdito deve estar disposto a fazer de tudo por seu rei, até morrer se necessário! Afinal o sangue nobre, a realeza vem antes de tudo. "O REI É O ESTADO", lembram-se?!

—Para mim não existe certo e errado nessa questão, está tudo muito claro— falou em pé e seriamente o coroinha da igreja— Magia é coisa do demônio, do inimigo dos homens! Se aqueles habitantes são feitos de magia, eles não têm alma, não são pessoas como nós, são belzebus! Fadas, bruxas, tudo a mesma coisa, são crias de Satã! Se eu fosse o cavaleiro, se é que esse Sir Affonso teme a Deus, eu não acordaria a princesa, eu a QUEIMARIA como devemos fazer com as bruxas. Vocês, como cristãos, fariam isso, certo?!

Como um bom filósofo, o ancião respeitava a opinião de todos quando proposto o dilema, no entanto era impossível não notar a cara de descontentamento dele com aqueles quatros últimos jovens que se pronunciaram. Ele havia ficado triste com aquelas respostas, triste em saber que em plena juventude, aquelas ideias, aqueles pensamentos, os fariam matar sonhos sem pensar duas vezes.

Os quatro jovens tinham sido tão grandiloquentes, falado em tão alto tom, com expressões tão incisivas e desafiadoras que acabaram constrangendo as outras crianças, de maneira que ficaram caladas e humilhadas. Até mais que isso, pois em murmurinhos que se formavam, algumas passaram a concordar com os quatro ou reconhecerem que estavam erradas ou simplesmente deixando de pensar por elas mesmas.

Diante a esse quadro, depois de um tempo, o ancião notou que um jovem ainda não se pronunciara. Era a criança mais mirrada, mais nova e mais humilde dentre elas, o filho de um pobre moleiro. O velho então apontou para ela e questionou:

— E você, amiguinho, não deu sua opinião ainda? — mas o garoto era tão acanhado que não reagiu, só se emudeceu ainda mais quando todos passaram a olhar para ele— Vamos, não seja tímido, todos aqui têm direito dar sua resposta ao dilema.

—Bem... — começou ele todo sem jeito e pensativo, se sentido ameaçado por responder algo errado—... não tenho uma resposta... na verdade... eu só tenho uma pergunta, senhor.

— Ora, meu jovem— disse o ancião sorrindo de curiosidade— e qual seria?

— Será que se o cavaleiro... se ele tomasse a decisão de acordar a princesa, mesmo sabendo das consequências...tanto para o povo da cidade quanto para a consciência da princesa...ainda sim ele teria o "coração puro" para desperta-la?

Aquele humilde comentário fez com que todos ficassem com caras pensativas de novo e logo as crianças começaram a retomar suas linhas de raciocínio, afinal de contas, mais um dilema havia sido gerado do dilema original. Assim como as primeiras pessoas do sonho haviam gerado filhos e filhos. Murmurinhos voltaram a se formar entre as crianças e ficava cada vez mais difícil alguém achar uma resposta definitiva, como se tivessem caído numa cama de gato, numa espécie de armadilha ou labirinto mental.

A satisfação se reacendeu no rosto do ancião, pois nunca antes, em todas as vezes que propôs o "Dilema da Adormecida", alguém havia chegado a essa conclusão. Seus olhos até pareciam marejar de lágrimas de orgulho, sentia-se revigorado e contente com todas aquelas jovens mentes trabalhando, mas principalmente com o último comentário.

No entanto, antes que o velho pudesse engajar mais os seus pequenos ouvintes, os sinos da igreja dobram com o seu badalar que chamava todos para a missa de domingo. As crianças correram para tomar seus lugares e se juntarem aos seus pais. A grande maioria deles já não pensava mais no dilema e sim nas festividades que ocorreriam no resto do dia. Talvez alguns voltassem a pensar no dilema ou dormiriam sonhando com ele. Um ou dois se lembrariam dele para o resto da vida e aprenderiam algo com ele, mas tudo isso é difícil saber, pois as palavras de conhecimento são como sementes atiradas em solos incertos, nunca se sabe se vão germinar ou não.

O ancião, com seus trajes humildes e alvos, forçou sua bengala e levantou-se do banco, caminhando vagarosamente até a grande igreja que ficava no centro da grande cidade, capital de um reino importante. Quando ia começar a subir os degraus, rapidamente um homem de meia idade apareceu para ajudá-lo:

— O tempo não tem sido gentil com vossas pernas, ancião— brincou o homem fazendo o velho sorrir— Mas vossa mente permanece afiada como uma espada.

— A gente tenta fazer o melhor que pode para as crianças— respondeu ele com uma modéstia tocante— Elas são nosso futuro, meu bom Guilherme, e devo muito a essa cidade.

— Não digais isso, Sir Affonso— insistiu Guilherme— Sois vós que permitistes a perpetuidade de nossa pequena cidade que agora é um grande e próspero reino. Sois vós que perpetuastes o segredo de nossa princesa-fada. Nós, os filhos dos sonhos, é que agradecemos a vós.

O velho cavaleiro nada respondeu, só assentiu sorridente com cabeça e adentrou a igreja para a missa.

Agora, Leitor, sou eu  que pergunto a você: Qual decisão tomaria se você fosse o cavaleiro?


Esse conto foi escrito por Ton Borges para o Contos Iradex. Para reprodução ou qualquer assunto de copyright o autor e o blog deverão ser consultados.


Sobre o autor: Ton Borges é um amaldiçoado a gostar de escrever que tentou trilhar os caminhos do jornalismo, mas hoje se dedica a analisar a cultura pop e tornar seus sonhos lúcidos em histórias
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