Você se lembra da primeira vez que ouviu falar em Aids?
Se você cresceu nos anos 90, assim como eu, deve ter percebido a diferença em como e em quanto se falava antes e atualmente. Na década de 90, era um assunto constrangedor e quase sempre relacionado aos homossexuais, o que aumentava o preconceito e a falta de informação. Eu mesma ouvi de uma professora de catecismo que a doença era “o castigo de Deus para os gays”, uma lamentável ignorância.
Em meio a epidemia que essa falta de informação sobre a doença causou, surgiu a ACT UP, uma organização não-governamental liderada principalmente por ativistas homossexuais que, como é dito no filme, não tratava da doença em si, mas buscava atrair a atenção para as questões que a envolviam e cobrava do Estado (entre outros órgãos competentes) mais apoio e informação para a população.
No filme, acompanhamos a ACT UP de Paris e, logo na primeira cena, vemos uma reunião do grupo que discute e analisa os efeitos de seus protestos, trazendo uma calorosa discussão dos integrantes que, obviamente, não concordam em tudo. O cineasta apresenta de uma maneira tão intensa e inteligente que, além de não ser enfadonha em nenhum momento, essa cena nos explica o que é o grupo, como ele se organiza e qual o propósito de cada uma de suas ações. É encantador perceber a seriedade com que o assunto é tratado e entender a razão do grupo em se colocar em questões como a produção de remédios e seus efeitos, já que eles tem a experiência de causa.
Aliás, me agradou muito perceber que o filme não trata o espectador como um idiota, ao qual deve explicar tudo mastigadinho. Apenas com alguns diálogos e ótimas atuações somos capazes de identificar todas as mensagens que deseja passar, tais como: a ideia errada sobre a doença (em um dado momento uma moça rejeita o preservativo porque “não pego aids, não sou viado”), o pesar dos relacionamentos afetivos entre os soropositivos e até mesmo a maneira como a morte, dada como certa e próxima, era encarada.
Apesar de toda essa carga emocional, 120 Batimentos por Minuto não é um filme triste. Ele consegue trazer vários momentos de humor e nos mostra que os personagens são mais que ativistas e portadores de um vírus tão devastador. São pessoas com desejos de vida, de amores e que conseguem até rir de si mesmas. Falando em amor, o filme não tem medo em mostrar relacionamentos e belíssimas cenas de sexo, algo ainda pouco visto no cinema.
Um lindo filme, com uma mensagem que vai além da discussão sobre a Aids. Trata de amor, de apoio, de luta.