Que nome tem a sua vontade? Que contornos se insinuam em sua imaginação quando fecha os olhos? Que boca empresta a voz e o sabor às palavras do seu desejo?
Um desejo para dois é um conto escrito por João Rodrigues Lima e distribuído em primeira mão aqui no Contos Iradex. Embarque nessa leitura.
Um desejo para dois
O desejo espreita. Surge como uma ideia tímida, mas logo se espalha pelo corpo, se arrasta sob a superfície da pele, incitando a vontade a se estender sob as carnes. Fecho os olhos e sinto o gosto do seu corpo na boca, um roçar de lábios, hálito quente em meu pescoço. Abro os olhos e você está aqui. Já não tenho certeza sobre o momento, se sonho ou realidade...
A lua escoa através de folhagem, janela e cortina, desenha seus contornos, revelando aos poucos o que a noite tenta esconder. As mãos pequenas deslizam sobre pele, desenhando formas na minha imaginação. Vez ou outra, entre risos, vence a distância dos lençóis me toca a nuca, me morde uma orelha, desliza as unhas por minhas costas, mas depois se afasta. Oferece o toque mas nega o encontro, pois sua perversão é me ver tenso enquanto se insinua de longe.
Logo se espalha pelo colchão. As mãos, agora ávidas, exploram cada pequeno motivo de prazer, cada segredo que a pele revela ao toque, até que encontra a suavidade úmida entre as coxas. Com destreza explora as sensações que irradiam por toda parte, pelas paredes do quarto, por meu corpo. O toque irrequieto leva aos lábios o discurso do prazer, o gemido contido. Sobre a pubes se espalha o amor liquefeito em desejo, se demoram sua atenção e vontade. A cada toque um sorriso perdido entre suspiros. A mão livre se enrosca e se liberta, crava as unhas na própria carne, nos lençóis, na boca entreaberta. O semblante estampa a agonia de um grito que não acontece, que se perde na garganta, entre espasmos... e quando o limite do prazer beira o insuportável, se lança sobre mim! Me agarra a nuca -toda unhas e desejos- e me espreme contra seu corpo rijo enquanto reencontra a própria voz, um gemido aflito que se liberta no êxtase da entrega e do gozo......
E a cena se completa. A respiração pesada, meu corpo ainda preso ao seu, os dedos em gotas. A boca entreaberta sem tocar a minha, a caminho de me arrebatar um beijo que não acontece. E assim permanece um tempo, uma última e deliciosa tortura. Oferece os lábios, mas não os entrega. Seus olhos sorriem de malícia enquanto me sussurra à orelha:
- Se alegre, viu... Pois a melhor parte do beijo é o “quase”!
Esse conto foi escrito por João Rodrigues Lima para o Contos Iradex. Para reprodução ou qualquer assunto de copyright o autor e o blog deverão ser consultados.