Por Ana Louise
Em 2011, veio às telonas mais um reboot da franquia “Planeta dos Macacos”, que buscava mostrar como todo o conflito visto no filme de 1968 começou. “Planeta dos Macacos: A Origem” nos apresentou à César (Andy Serkis), um chimpanzé nascido em laboratório que herdou de sua mãe a mutação causada por um vírus supostamente capaz de curar o Alzheimer. Depois da morte da chimpanzé-mãe, o cientista responsável pela pesquisa em questão, Will Rodman (James Franco) leva César para sua casa, e lá ajuda a desenvolver suas habilidades, que são bem avançadas já que o efeito do vírus aumenta o QI dos macacos.
Ao desenrolar do filme, César percebe o lugar que sua raça tem na humanidade e vê que os símios são capazes de muito mais. E assim, ele rouba uma outra mutação do vírus para distribuir para os seus, sem saber que isso causaria uma pandemia global. Ao chegarmos no segundo filme, “Planeta dos Macacos: O Confronto”, César é líder dos símios, e ainda tenta coexistir com os humanos que sobreviveram ao contágio, porém sem sucesso, o que leva À Guerra do terceiro filme, que determinará qual raça irá sobreviver.
O filme já começa mostrando a que pé se encontra a relação entre símios e humanos. Em um floresta, um grupo de soldados, com nomes como “Matador de Macacos” escrito em seus capacetes, atacam alguns sentinelas do grupo de César, que também conseguem fugir para chamar reforços e equiparar o conflito. No entanto, podemos ver que existem macacos do lado dos humanos também, que são chamados de “Donkey” (podendo funcionar tanto como “burro de carga” e em referência ao Donkey Kong), e são tratados como escravos por eles. Em outro momento do filme também podemos ver uma frase escrita em parede que pode ser traduzida como “Kong bom é Kong morto”.
A Guerra está declarada e César, líder de uma família ainda maior de símios, busca uma forma de levar os seus para um local em que os humanos não possam encontrá-los. Do outro lado, o Coronel (Woody Harrelson) deseja exterminar os macacos para assim limpar a Terra da chamada gripe símia. O filme é bem sucedido em mostrar que ambas as partes têm uma motivação para lutar, e mesmo sendo um verdadeiro psicopata, o Coronel também possui certa “humanidade”, característica que ele nega a César. “Olhe para seus olhos, primitivos, mas quase humanos”, o militar afirma para o símio em certo momento do filme.
A Humanidade é um ponto bem recorrente no longa. O que é, de fato, ser “humano”? O Coronel despreza tudo o que César é, pois, em sua visão, ele e os outros macacos foram responsáveis pela morte dos humanos infectados, sendo que na verdade o vírus é uma obra de pessoas e não de macacos. A “solução” então seria exterminar todos os símios, os seres inferiores, e garantir que a terra fosse populada por humanos novamente. Curiosamente, há a construção de uma “grande muralha” para proteger os humanos e seus exércitos. Isso lembra algum líder mundial de atualmente?
O filme faz esse paralelo entre o conflito do filme e os problemas que lidamos na sociedade de hoje, às vezes de forma sutil, e outras de forma bem clara. A frase “Macacos juntos fortes” ecoa por todo o longa, dando significado ainda maior a momentos chave. Além disso, existem referências a filmes clássicos de guerra como “Apocalypse Now”, e principalmente à própria franquia original de “Planeta dos Macacos”.
O grande destaque no filme, no entanto, é a criança humana que o braço direito de César, o orangotango Maurice, encontra sozinha em uma cabana e decide levar para cuidar. A relação que esta menina vem a ter com os macacos, e principalmente uma interação entre ela e Maurice ao final do filme, sintetiza toda a mensagem da obra.
Andy Serkis, que é bastante conhecido na atuação com captura de movimentos, tendo interpretado também o personagem Gollum de “Senhor dos Anéis” e feito o King Kong de Peter Jackson, entrega neste “Planeta dos Macacos: A Guerra” uma atuação espetacular (já tá na hora dessa indicação ao Oscar, hein!). A tecnologia da captura, inclusive, está excepcional. Woody Harrelson faz um ótimo antagonista no papel do Coronel, e Steve Zahn estreia no papel do “Bad Ape” (Macaco Mau), a nova adição ao grupo de César.
A trilha sonora de Michael Giacchino é extraordinária, trazendo temas desconcertantes, sensíveis e emocionantes, executadas perfeitamente em cada momento do filme. A trilha atua como um elemento essencial neste longa, cuja carga dramática é muito forte, tendo em vista que é um desfecho daquilo que começamos a acompanhar em 2011.
O filme possui sim seus problemas, com situações um pouco atrapalhadas em seu ato final, e decisões de roteiro um pouco convenientes. Isso, no entanto, de forma alguma tira a importância de sua mensagem e nem apaga a emoção que sentimos do começo ao fim. A felicidade maior que fica é ter uma trilogia tão boa como esta de “Planeta dos Macacos”, que não deixa a desejar em nenhum de seus três filmes. Resta saber se, como outras franquias, eles decidirão abri-la novamente para continuar a história.