Se você olhar bem, de tudo pode-se tirar uma lição. Digo tudo, mesmo!
Todos os dias estamos cercados - quando não somos os próprios atores - de atos deseducados, prepotentes, arrogantes, grosseiros, e também doces ou gentis e empáticos.
Hoje, mais uma vez, recebi uma lição, por tantas vezes repetida, de que levar a vida com leveza é a melhor das formas. Conto.
Na cidade onde moro existem ciclovias bem sinalizadas, construidas em sua maioria ao lado de passeios para pedestres, e este é o cenário do fato que narro. Atravessei a faixa de pedestres e virei à direita no passeio. Alguns passos dados, olhei pra esquerda e vi que haviam dois casais caminhando, dois a dois, de mãos dadas na ciclovia, impedindo a passagens de ciclistas que trafegavam nos dois sentidos. Logo atrás, na mesma velocidade do passeio dos namorados, um ciclista tentava se equilibrar em sua bicicleta. Ele, o ciclista, um disposto senhor de seus 70 anos, atlético, cabelos inteiramente brancos, um capacetinho e um meio sorriso no rosto.
Ele dava meia pedalada e parava, e a corrente da bicicleta fazia aquele barulhinho característico, e os casais sequer perceberam que estavam obstruindo a passagem do ciclista, na via que fora construída para ele, somente porque no passeio não dá pra andar de casalzinho. Eu entendi o ciclista. Ou achei que o havia entendido. Quinze passos depois do meu entendimento, esperei que ele olhasse pra mim e, com um sorriso solidário, falei:
- Aí fica complicado, né?
Ele sorriu de volta e, muito gentil, respondeu:
- Fica fácil! O exercício é o mesmo, o que importa é a vista!
Sorri um sorriso de canto de boca. Os casais ouviram pessoas conversando, olharam pra trás e abriram caminho para aquele ciclista feliz que pisou mais forte no pedal e me deixou lá no passeio, digerindo mais um exemplo maravilhoso a ser seguido.
Sorri de novo quando me encontrei perguntando se ele havia dito "o que importa é a vista" ou "o que importa é a vida".
Seja qual tiver sido a palavra, ambas fazem sentido.
Vida que segue. E que seja leve.