Praticamente tudo que leva o nome George R. R. Martin tem garantia de sucesso. Se não seu nome de batismo, suas alcunhas (“Papai Noel”, “Coração Gelado” e “Aquele-velho-sanguinário-que-mata-todo-mundo-que-eu-gosto” são algumas delas) e feitos, possivelmente tem o maior número de menções (boas e ruins) do cenário pop/cult dos últimos 5 anos, fazendo parte do imaginário coletivo cotidiano.
É inegável o talento do cara, e não é a toa que seus livros e contos estão entre os mais vendidos das livrarias e sites especializados. Ele sabe como cativar, atrair, surpreender e chocar seu público. Com o seu mais novo livro publicado no Brasil, “O Dragão de Gelo”, não seria diferente. A não ser por um pequeno detalhe. É um livro infantil.
Agora me respondam com sinceridade: vocês conseguem imaginar um livro pra criança escrito pelo Martin sem 10 litros de sangue, algumas entranhas e uma pitada de intrigas pra temperar? Se a sua resposta for NÃO, então você está no mesmo pé em que eu estava antes de começar a ler o livro.
O Dragão de Gelo conta a estória de Adara, uma criança nascida no inverno, e meio estigmatizada por gostar dessa estação tão temida. São duas as razões pra ela gostar do frio: uma é que seu aniversário se aproxima; outra é que com o frio, vem o seu maior segredo: o dragão de gelo.
“O dragão de gelo soprava a morte no mundo. Morte, quietude e frio. Mas Adara não tinha medo. Ela era uma criança do inverno, e o dragão de gelo era o seu segredo.”
Nessa época, os dragões eram bem comuns, usados pelos exércitos nas batalhas e montados pelos chamados “Cavaleiros do Dragão”. Mas nenhum dragão de guerra se comparava, seja em tamanho ou em ameaça, a um dragão de gelo. O bicho era tão invocado que nunca ninguém conseguiu matar sequer um.
A expectativa e a surpresa
Foi com bastante expectativa que comecei a ler, sem saber praticamente nada do livro. E logo de cara fiquei surpreso com dois detalhes: o livro tem ilustrações (belíssimas por sinal!) e a letra grande (o tamanho reduzido da letra é uma das maiores críticas às edições nacionais dos seus outros livros). E foi aí que eu comecei a acreditar que o Martin tem um coração menos gelado e que poderia sim escrever um livro para crianças.
Mas, à medida que avancei na estória (que é curtinha, dá pra ler numa tarde), fui me deparando com elementos que com certeza não fazem parte de uma literatura para crianças, e mostram o nosso velho Martin aparecer aos poucos. Apesar de a violência ser mais contida, temas mais pesados como a solidão e o abandono familiar começam a aparecer. Guerras e crueldade também são abordadas no livro, ainda que de forma mais branda.
Não consegui achar nenhuma menção ao mundo original de Game of Thrones, apesar de estar sendo divulgado, inclusive nas sinopses, que se passa no mesmo cenário. Se for mesmo verdade (cadê o DjKaio pra confirmar essa informação?), deve ter sido numa época bem distante, pois como mencionei, os dragões eram usados a torto e a direito.
O livro é bem agradável de ler e as ilustrações do desenhista espanhol Luis Royo, repito, são fantásticas! Vale a pena pegar pra conferir, mas realmente não o indico pra menores de 12 anos, o que inclui o livro mais na categoria juvenil do que infantil. Como minha idade mental é mais ou menos nessa faixa aí, eu dei mó valor, e já escrevi minha cartinha pra pedir um dragão de gelo pro Papai Noel. Já sei até que nome dar pra ele: Sub-Zero. =D