"E durante a temporada de saques, todas as costas eram inimigas."
Espadas cortando carne como manteiga. Machados destroçando crânios. O horror das paredes de escudos. Se você gosta disso aí, provavelmente tem um ídolo, chamado Bernard Cornwell (As Crônicas de Artur).
Muita gente se pergunta o porquê do sucesso tão grande desse escritor britânico (eu tenho algumas teorias que vou deixar pra outra oportunidade), mas o fato é que ele inaugurou uma era na literatura (curiosamente podemos chamá-la de a.C e d.C), e que toda obra de ficção histórica ou fantasiosa que foi publicada depois de seus livros sofreu inevitavelmente com o mal da comparação.
Esse é o estigma que John Flanagan carrega.
Sua série de livros Rangers começou a ser publicada em 2004 (quando Cornwell já havia escrito suas principais obras e estava prestes a publicar as Crônicas Saxônicas) e prontamente recebeu críticas por ser uma espécie de “Bernard Cornwell for dummies”.
Foi assim que John Flanagan me foi apresentado. Mas não vai ser assim que eu vou apresentá-lo a vocês.
John Flanagan o detalhista
O que me conquistou logo de cara nos seus livros (sim, eu li os 11 Rangers; e não, eu não tenho vida) foram os detalhes que o autor acrescenta à obra. E antes que comecem a reclamar, isso não tem nada a ver com excesso de descrição de cenários, personagens e etc. Na verdade, o que quero dizer com isso é que os livros são recheados com curiosidades que tornam a história extremamente interessante. Isso me faz crer que John Flanagan deve ter sido um excelente mestre de RPG, mas não consegui achar referências sequer sobre ele conhecer o jogo.
Um exemplo: em uma determinada passagem (Rangers 1 - Ruínas de Gorlan) ele explica que os cavalos dos arqueiros eram ensinados a andar com o passo ritmado, sempre o mesmo. Dessa forma, se os arqueiros cavalgassem em duplas, ou até em trios, quem escutasse os cascos dos cavalos ia achar que havia apenas um cavaleiro. Sinceramente, nunca tinha visto nada parecido em outro livro e achei isso extremamente foda!
É aí que chegamos à Brotherband, pois nessa sua outra série de livros, detalhe é o que não falta.
Brotherband e mais detalhes de Flanagan
A trilogia Brotherband se passa no mesmo mundo de Rangers, mas em outro continente. Se Araluen se parecia muito com a Inglaterra antiga, em Skandia vamos encontrar nada mais, nada menos, que vikings! Acompanhamos Hal, um jovem mestiço que luta para se tornar um lobo do mar, ou melhor, uma garça real (leia que você vai entender).
A troca de continente não é a única mudança em relação a sua primeira obra. Em Brotherband, Flanagan adota uma técnica de narrativa diferente da tradicional jornada do herói. Apesar de linear, por diversas vezes você se pega surpreso com as reviravoltas inseridas no enredo. Devido à cadência dos capítulos, é literalmente um livro que não se consegue soltar.
Como é bastante focado em batalhas e cenas de navegação (muito bem descritas por sinal), o autor fez questão de acrescentar um glossário de termos náuticos no livro, que facilita bastante a vida de quem não é familiarizado com palavras como verga, rize ou adriça.
Aqui no Brasil já foram publicados pela editora Fundamento os dois primeiros volumes da trilogia, Os Exilados e Os Invasores, e são excelentes indicações tanto pra quem quer uma introdução às obras de ficção histórica/fantasiosa, quanto pra quem já é rato de parede de escudos.
Quanto à comparação com Cornwell, sinceramente, acho desnecessária. John Flanagan escreve no seu próprio estilo e consegue fazer uma aventura leve e divertida com elementos suficientes pra conquistar seu espaço na sua estante.