Quando nela penso, lembro de duas coisas: voz e cabelo.
A conheci ainda pequeno, lá pelos, talvez 8, 9 anos. Isso é o que me lembro, pois imagino que antes disso já a ouvia dar vazão ao vozeirão nos radinhos lá de casa. Sempre havia um ligado revezando com um disco girando, com alguém solfejando.
Creio que é uma das intérpretes favoritas de minha mãe e talvez de muitas das vizinhas da época, quiçá ainda dos dias de hoje.
Voz suave e estridente ao mesmo tempo, sem jamais perder o tom, nem soar como uma vuvuzela a vozear apenas zuadas.
Ela sempre esperava sua vez para dar seu recado, mas não esperava por ninguém. Quando queria, e precisava, falava. Gritar para perder a voz? Jamais. Como uma avezinha, cantava e fazia de sua primavera seu verão.
A redescobri e me apaixonei novamente quando cantou o seu próprio cabelo através da poesia de Jorge Benjor no disco Plural. Madeixas que estiveram presentes em quase todas as capas de seus discos e das quais ela não pareceu jamais se envergonhar. Em um mundo que demorou tanto tempo para aceitar seu próprio cabelo, ela pareceu, como em muitas outras frentes, estar à frente de seu tempo.
Hoje, ela partiu.
Deixa, como Vaz, cartas cantadas tipo Aquarela do Brasil.
Derrama, por vez e vezes, Chuvas de Prata.
Nos faz voar, como em lenda de vizir, num Tapete Mágico.
Nos deixa o mel de sua voz, em Um Dia de Domingo.
E, apesar de não gritar, grita como uma vuvuzela em Brasil!
Era Honey, era Baby, era Cabelo, era Baiana, era Festa, era Profana.
É Brasil. É Estrela. É Eterna.
Seu nome é Gal.