"O Expresso Polar" toca meu coração como poucas histórias | 31 Dias de Natal | Iradex

"O Expresso Polar" toca meu coração como poucas histórias | 31 Dias de Natal

Dia 7:  O Expresso Polar (The Polar Express, 2004)

Texto e narração: Gabriel Pinheiro (Twitter / Instagram / Letterboxd)

Edição: Roberto Rudiney

DistribuiçãoR.I.P.A. / Iradex

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Transcrição:

Existem muitos modelos de história de Natal, mas poucos que tocam o meu coração como o modelo dessa que eu vou comentar hoje. Até porque muitas dessas histórias, de um jeito ou de outro, excluem alguém da experiência… Quem consegue, por exemplo, se identificar com esse monte de balela sobre crianças ganhando aquele presente caro que sempre sonhou. Ganhar presente… nessa economia?

Brigas de família talvez sejam a segunda melhor opção para contar uma história universal de natal. Mas, Expresso Polar entra naquela categoria que eu considero perfeitamente representativa para qualquer espectador. E por isso é a que mais mexe comigo: a história da criança que deixou de acreditar.

Tudo começa quando um trem magicamente estaciona em um subúrbio dos Estados Unidos e de dentro dele sai um condutor (interpretado por Tom Hanks). Esse é o convite para que a gente embarque em uma aventura surreal, de caminhos impossíveis, até o polo norte. Recebemos nosso bilhete dourado junto com a criança sem nome que protagoniza a história (também interpretada pelo Tom Hanks) e conhecemos aos poucos a trupe de crianças viajando com a gente. Somos apresentados ao garoto nerd metido (Tom Hanks), o garoto pobre que não se sente incluído (Tom Hanks) e a garota destemida que assusta os meninos (Tom Hanks). Cada personagem com sua própria trajetória de crescimento interno.

Inclusive, desenvolver os personagens internamente foi uma boa forma de manter o filme indo pra frente, porque no mundo ao redor deles não acontece muita coisa para eles interagirem. Pelo que entendi, o livro no qual o filme se inspirou cobre os primeiros e os últimos 20 minutos do filme. Todo o resto que está ali no meio servia mesmo era para o Robert Zemeckis mostrar como essa nova tecnologia de captura de movimentos poderia revolucionar o cinema. E pra mim ele demonstrou muito bem.

Esse filme tem aquela sequência clássica do bilhete que se perde ao vento e começa a voar em volta do trem, enquanto passa por diversas cenários naturais, cada qual com seu pequeno microcosmo de vida acontecendo ali. Onde será que eu já vi isso antes hein, Robert Zemeckis, diretor de Forrest Gump?

Alguns filmes são uma montanha russa de emoções. Esse filme é literalmente uma montanha russa. Porque, é isso que você faz quando tem pela primeira vez nas mãos uma câmera que pode ser colocada digitalmente em qualquer posição de um trem desgovernado.

Uma pena que não pude assistir esse filme em 3d, para experienciar a imersão de cenas como aquela em que as crianças atravessam um abismo se equilibrando em um trilho escorregadio usando pantufas. Mas confio que você fez um bom trabalho, Robert Zemeckis, diretor de A Travessia.

Não é porque eles tentaram levar o visual dos personagens mais para um lado realista, que eles iriam desperdiçar o potencial da animação para nos colocar em situações que o live action não conseguiria. Graças às cenas com o mendigo que habita a parte fora do expresso polar (Tom Hanks), esse filme entra com louvor na minha listinha do letterboxd de melhores cenas no lado de fora de trens.

Que lindo isso! O trem, um meio de transporte tão simples e direto, foi reimaginado como uma máquina que transpõe espaço e o tempo para nos levar a lugares que só a imaginação poderia criar. De onde será que você tira essas coisas hein, Robert Zemeckis, diretor de De Volta Para o Futuro 3?

E tudo isso que eu te apresentei hoje, ainda não deve te impedir de experienciar em primeira mão essa “história da criança que deixou de acreditar”. Você pode decidir por si só no final, se tanta maluquice não passa de sonhos açucarados de uma uma criança. Ou se você também acredita que aquilo tudo foi real, como eu acredito.