Eu gosto de "O Grinch", é muito adulto | 31 Dias de Natal | Iradex

Eu gosto de "O Grinch", é muito adulto | 31 Dias de Natal

Dia 1: O Grinch (How The Grinch Stole Christmas, 2000)

Texto e narração: Gabriel Pinheiro (Twitter / Instagram / Letterboxd)

Edição: Roberto Rudiney

Produção20 a 20

DistribuiçãoR.I.P.A. / Iradex

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Transcrição:

"O Grinch" é um dos filmes mais adultos que eu assisti em muito tempo. E olha que eu dei play logo depois de assistir o suspense de Serial Killer, Seven. Se eu tivesse visto esse filme quando foi lançado - no ano 2000, quando eu tinha 6 anos - talvez eu tivesse muitos motivos para gostar dele como um filme infantil, mas agora eu tenho 26. E o que eu enxerguei em Grinch como adulto foi isso: a história de um cara que odeia tudo que o mundo ama e vai fazer questão de te dizer o porquê. Durante os próximos dias deve ficar claro para vocês porque essa mensagem ressoa tão forte pra mim.

Os cenários e os personagens de Dr Seuss’ How The Grinch Stole Christmas tem um design mega exagerado. Inclusive, a minha voz está anasalada assim  em homenagem ao nariz dos Whovillians. Eles usam umas próteses que deixam os atores com um visual nada humano, o que deve ser o objetivo. Mas não é não-humano o suficiente pra me fazer esquecer que ainda são um bando de atores com uma maquiagem incomoda na cara. É Uncanny Valley que chama isso.

A menininha que tem mais tempo de tela, a Cindy Lou Who, é a única que não usa essa maquiagem, tendo um nariz naturalmente feio. Mas do visual dela eu gosto. O cabelo dessa criança é com certeza um acerto. Porque não tinha motivo pra ela ter uma torre capilar, em formato de laços, que quase dobra a altura da atriz mirim… E eu acho isso lindo. Que silhueta de personagem marcante. Que pesadelo para os continuístas… Essa garota escalada para o papel deve ter sofrido tanto bullying pelo resto da vida, que eu não consigo nem imaginar. Aliás, o Ron Howard, como um ex-ator mirim que aparece cantando mal em clássicos do cinema americano, deveria se envergonhar de fazer outra criança passar pela mesma humilhação. Mas que bom que ele fez isso, porque Cindy Lou é definitivamente um ponto alto do filme.

Outro ponto alto? Convenhamos, quem carrega o filme nas costas é o Jim Carrey. Atuar atrás de uma máscara de borracha verde como ele faz aqui, eu acho que ninguém mais consegue. Até porque o Grinch é o Jim Carrey - que é o Charada do Batman, que é o Dr. Eggman do Sonic. E não acho isso ruim não. Façam mais adaptações cinematográficas em que o vilão é basicamente o Jim Carrey improvisando. Aqui vai uma ideia: ELE… o vilão de meninas superpoderosas. Na verdade pode pegar qualquer papel dublado pelo guilherme briggs e fazer a engenharia reversa para caber o Jym Carrey, né? Onde é que eu tava mesmo?

Ah.. Jym Carrey improvisando! Mas o roteiro do filme por si só tem muito mérito. Teve uma cena que gargalhei de rir, quando o Grinch tá procurando uma roupa pra ir na cidade, ele puxa a toalha de mesa perfeitamente sem derrubar os objetos em cima, sai da tela e imediatamente volta para derrubar tudo de propósito. Esse méritos da comédia que ainda me pegam até hoje, tenho certeza que não vieram do livro, isso é mérito desse filme live action. Assim como eu acho que todo o conteúdo ridiculamente adulto também não deve ser coisa do Dr. Seuss.

A gente tá até acostumado que filmes infantis, tipo os da pixar, tenhas piadinhas que só os pais entendam mas o Grinch passa um pouco do ponto. Essa mesma cena, do Grinch decidindo se vai até a cidade, eu considero uma representação perfeita da ansiedade social que eu tenho quando alguém me chama para sair de casa... Eu sei que vai ser legal, mas eu não quero ir. Quem me dera ter um cachorro chamado Max para me empurrar escada abaixo. E os temas muito reais para pessoas acima dos 20 não param por aí: tem piada com convocação para júri, ordem de despejo, protagonista caindo de cara nos peitos de alguém estilo anime, tem critica a visão capitalista do natal, comentários raciais sobre um homem verde adotado por um casal de lésbicas na noite de uma orgia swinger.

Eu não to inventando, isso tá no filme. E é por isso que Grinch é um clássico moderno para nós millennials: uma história que no fim é sobre uma menininha que problematizou o natal.