Velozes e Furiosos: Hobbs & Shaw | Resenha | Iradex

Velozes e Furiosos: Hobbs & Shaw | Resenha

É estranho pensar que a história do primeiro Velozes e Furiosos era sobre uma gangue que usava carros tunados para roubar aparelhos de DVD. Foi um longo caminho até a série de filmes virar essa loucura que ela é: carro caindo do céu, carro contra submarino, carro carregando cofre gigante, carro perseguindo o trem que liga São Paulo ao Rio através do deserto (!!!).

A franquia, porém, provavelmente não se sustentaria se dependesse apenas dos carros e da porrada: ela precisa do carisma de quem está por trás dos volantes e dos malabarismos automobilísticos malucos.

 

Velozes e Furiosos: Hobbs & Shaw é o segundo filme da série que não é protagonizado pelos membros da família (de sangue ou não) de Dominic Toretto. Apesar disso, seus personagens principais já apareceram antes em outros filmes: ambos Hobbs e Shaw (Dwayne "The Rock" Johnson e Jason Statham) já foram tanto antagonistas quanto aliados dos personagens principais dos outros "episódios". Ter personagens já "testados e aprovados", inclusive, era o que faltava no outro Velozes e Furiosos "fora da família", o querido por uns e odiado por outros Desafio em Tóquio, o que mostra que os produtores sabem o que funciona ou não para o público.

O roteiro de H&S é direto ao ponto: uma agente do MI6 se contamina com um vírus mortal para evitar que uma organização terrorista trans-humanista use-o para exterminar grande parte da raça humana. São convocados para o trabalho o agente bruto e bonachão Luke Hobbs e o espião sério e sofisticado Deckard Shaw, personagens que já tem uma história de desavenças (vide os filmes anteriores) mas que tem que aprender a trabalhar juntos se quiserem completar essa missão e salvar o mundo.

A história é simplista e a ameaça é bem parecida com o que vemos a anos em outros filmes de espionagem, com a diferença de que aqui a produção conseguiu exagerar ainda mais (tanto para os padrões de Velozes e Furiosos quanto para os desses outros filmes de espionagem). O vilão principal, Brixton (Idris Elba) é literalmente um ciborgue, ou como ele mesmo se chama em uma cena, um "Superman negro". Sempre houveram cenas na franquia em que a ação flertava com a fantasia, com atos sobre-humanos realizados por gente teoricamente normal, mas com esse personagem agora há uma "desculpa" oficial pra exagerar ainda mais, não só com seus "poderes" (ele é basicamente à prova de balas e consegue prever os movimentos de seus oponentes) mas também com a tecnologia futurista que sua organização tem (como a moto autônoma que se monta e desmonta como se fosse um Transformer). Toda essa tecnologia parece algo saído diretamente de um filme da Marvel, o que causa certo estranhamento de início.

Apesar de não ter o personagem de Vin Diesel, família é um tema recorrente durante o filme, como se Toretto estivesse presente aqui também. Isso não é um ponto negativo, mas é uma chance perdida de abordar outros tipos de relacionamentos interpessoais. Deixar a franquia principal tratar de família e os spin-offs terem outros temas seria mais interessante e menos repetitivo.

Mesmo com esse artifício sendo exclusivo do lado dos vilões, os heróis ainda parecem ter super-poderes. Sendo um fã da franquia Missão: Impossível, principalmente dos últimos três, é impossível não comparar o que Luke, Deckard e companhia fazem com o que Ethan Hunt, o personagem de Tom Cruise, fez na outra série, já que o tipo de ação de ambos os filmes parecem beber da mesma fonte em alguns momentos.

Enquanto a ação em M:I, mesmo que megalomaníaca em certas partes, parece real e focada no que o corpo de uma pessoa normal mas bem treinada seria capaz de fazer, Hobbs & Shaw mostra pessoas que pulam de prédios e acionam paraquedas mortalmente perto do chão sem nenhuma consequência. Isso também se reflete nas cenas em que é necessário o uso de cabos "invisíveis" ou CGI para simular certas "manobras". Fica bem claro onde esses efeitos foram usados, perdendo um pouco o impacto do que os atores estão fazendo. Algumas cenas de luta, apesar de bem coreografadas, parecem estranhas em certos momentos por causa disso. Porém, isso é facilmente superável, pois as porradas e correrias são bem divertidas de acompanhar mesmo assim, já que as partes que não incomodam são bem feitas e bem filmadas.

As cenas com carros ainda obviamente se fazem presentes, com toda a loucura automobilística e interação entre veículos de diferentes terrenos de sempre (destaque pra EXCELENTE cena do reboque de helicóptero). Se você já viu algum dos últimos V&F, sabe o que esperar.

Nas atuações, os protagonistas mostram muito bem o porquê de merecerem um filme só para eles. Os atores são extremamente carismáticos e apesar de o roteiro ser apenas uma desculpa para juntá-los no mesmo ambiente e fazê-los se provocarem, suas cenas juntos são divertidas e eles tem muito química. O filme com certeza seria cansativo se suas interações fossem apenas um com o outro, o que é evitado com a presença de Hattie, a agente do MI6 e irmã de Deckard, interpretada por Vanessa Kirby, que também é muito carismática e se sai muito bem na ação, não sendo uma donzela em perigo mesmo sendo um alvo dos vilões.

Entre os antagonistas, o único que recebe destaque real é Idris Elba, que infelizmente parece estar completamente no automático, já que o roteiro não ajuda, com as suas aspirações e motivos sendo completamente sem criatividade pro gênero.

Velozes e Furiosos: Hobbs & Shaw é uma ótima via paralela pra quem acompanha a franquia a tempos ou até pra quem tem curiosidade de conhecê-la. O filme deixa claro que veremos mais desses personagens no futuro, o que seria realmente interessante se surgissem adversários interessantes para os heróis. Quem sabe não se recicla mais um dos outros Velozes e Furiosos.