Chacoalhando batatas e canelas é possível plantar uma bananeira? Só se você tiver uma cauda. Ou uma calda. Não sei.
Houve um tempo em que eu me perdia nas palavras. Quem ouve, sabe.
E falando em ouvir, embarque nessa investigação em mais um Primeiros Segundos. (não, não temos um barco)
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Texto, locução e edição por Mackenzie Melo. Participação especial: Kaio Anderson e Luiza Lima.
Mente (versão em texto)
Quase dois anos atrás, em 2017, tinha decidido escrever sobre Limetown, um podcast que tinha me deixado extremamente curioso por prometer muito em seus únicos 06 (seis) episódios, até então.
Sejam bem-vindos a mais um Primeiros Segundos. Nesta segunda temporada, como na primeira, iremos conversar sobre podcasts que tenho ouvido, ou que já ouvi e que, de algum modo, deixaram alguma marca em mim. Nestas conversas – espero que se sinta conversando comigo – nós iremos, juntos, passear por partes de minha cabeça, suas estranhezas, incertezas e aprendizados. À medida que formos juntos por esses caminhos, às vezes tortuosos, espero poder ouvir vocês sobre o que têm achado do passeio, dos podcasts, das participações especiais e de qualquer outra coisa que passe também pela sua mente. Para isso, basta acessar o site do Iradex (www.iradex.net) e procurar por Primeiros Segundos. Ficarei aguardando seu olá!
Não sei vocês, mas eu já pensei inúmeras vezes o quanto seria incrível se pudéssemos ter um método mais preciso de comunicação do que através das palavras.
Palavras parecem ter um jeito especial de complicar as coisas. Lembro de uma vez ter lido em uma revista Super Interessante sobre uma empresa brasileira que decidiu comprar uma carga de feijões pretos importados da China. Assim fizeram. Quando a carga chegou, para a surpresa de todos, veio um tipo de soja preta, que, naturalmente não podem ser usadas para fazer a nossa deliciosa feijoada... Descobriram tarde demais que o que eles pediram estava correto - black beans, já que a comunicação entre as empresas se deu em inglês - mas eles esqueceram que a palavra bean pode significar tanto feijão quanto grão. Haja prejuízo...
(Enquanto escrevia esse parágrafo, procurei na internet e encontrei o artigo original da revista, de 2002. No site você encontra o link para a história bem como outras curiosidades sobre erros de tradução e adaptação)
Imagino que se a nossa comunicação se desse de uma maneira mais direta, sem as intermediações de palavras que nem sempre expressam com precisão o que estamos querendo dizer, problemas como esse que citei – dentre muitos outros, naturalmente – não aconteceriam.
(Epa, mas espera um minutinho. Acabei de perceber que se eu continuar escrevendo sobre isso, acabarei dando mais informações sobre Limetown do que deveria. Eu não gosto de spoilers, logo Sr. Mackenzie, como é que o senhor está querendo estragar a experiência para os que não ouviram ainda?)
Desculpem essa falha na comunicação, amigos, mas realmente não posso continuar a falar como vinha falando anteriormente. Preciso mudar a linha de pensamento, senão...
- Ele mente.
- Quem mente?
- Ele que escreve.
- Pergunta: creio que todos mentimos. Muitas vezes não é proposital, pois realmente acreditamos na história que contamos. Entretanto, se o que eu conto não é verdade, mesmo que eu não saiba disso, estou mentindo ou contando a verdade?
- hmmm... (silêncio)
Limetown é um podcast ficcional em estilo áudio drama lançado em julho de 2015 e que contou, na época, com apenas seis episódios completos, como falei lá no comecinho, e com alguns miniepisódios que adicionavam material à história principal. Em dezembro do mesmo ano a primeira temporada terminou, deixando um enorme som de quero mais nos ouvidos de quem acompanhava o podcast. Durante os meses em que esteve ativo, ele se tornou o podcast mais ouvido nos EUA segundo a métrica do iTunes.
Com o mesmo nome do podcast, Limetown é uma pequena cidade fictícia, quase como um condomínio fechado, que na verdade é uma Megaestação de Pesquisa em Neurociências no estado do Tennessee e abriga um total de apenas 300 moradores. Após um evento desconhecido do público, o acesso ao local é bloqueado, tanto para entrar quanto para de lá sair. Quando esse acesso é restabelecido, o local é encontrado total e completamente vazio. Nenhuma alma viva para contar o que aconteceu. Não sobrou uma só impressão digital ou um só fio de cabelo para que investigações pudessem concluir algo sobre o acontecido.
É em torno desse mistério que a repórter Lia Haddock vai construir sua história investigativa. Em um momento histórico em que o podcast Serial (que é um podcast excepcional – se não ouviu ainda, dê a si mesmo de presente ouvi-lo, pelo menos, em sua primeira temporada) tinha feito um estrondo enorme na podosfera, e Limetown é um dos podcasts ficcionais a surgirem naquele instante e contarem sua história no estilo dele. (Na temporada passada do Primeiros Segundos falamos de outro com um molde similar, The Black Tapes Podcast. Confira, vale demais ouvi-lo também)
Assim, Lia, na tentativa de descobrir o que aconteceu a todos os moradores de Limetown e o que realmente se fazia dentro das casas, dos trabalhos e dos laboratórios de pesquisa, não vai descansar enquanto não chegar ao fundo da história. Ou ao fundo do poço. É importante dizer que Emile, tio da repórter, também morava em Limetown e desapareceu no fatídico evento. Com isso, será que ela, mesmo sem saber, tem alguma conexão com o que aconteceu a todos os habitantes da cidade? Só o tempo e própria Lia irá nos contar.
Temos a nítida sensação de estar ouvindo uma reportagem de rádio, com a repórter nos mostrando tudo que vai acontecendo à medida que vai descobrindo novidades, nos levando a pensar, realmente, se o que estamos ouvindo é ficção ou realidade. Com elementos similares à série Arquivo X (minha série televisiva preferida de todos os tempos), vamos aprendendo a nos importar com Lia a ponto de torcermos para que ela pare de fazer o que está fazendo por medo de que algo trágico aconteça com ela.
- Ela mente.
- Quem mente?
- Uma das que fala.
- Assim fica difícil. Como descobrir quem mente?
E então chega a segunda temporada, mais de três anos depois, no final de 2018. Muitos de nós já não acreditavam que as promessas de que novos episódios seriam produzidos fossem se tornar realidade. Felizmente se tornaram. Só que, como qualquer coisa que gera muita expectativa, a nova temporada de Limetown não escapou dos posicionamentos extremos da decepção e da superação da expectativa. O bom que é existem também aqueles que estão fora desses lados opostos. Eu, particularmente, me encontro nesse grupo. Gostei bastante da segunda temporada, mas acho a primeira algo digno de permanecer no alto da lista dos melhores podcasts ficcionais já escritos e executados. Vale demais ouvir. Garanto que muita gente que já ouviu Limetown diria, sem medo.
- Nisso ele não mente.
A segunda temporada conta com apenas 5 episódios e alguns pequenos áudios intermediários como na primeira. A maior diferença é em termos de formato. A história agora não é mais contada do ponto de vista de uma repórter, nos levando a explorar o mundo de Limetown através de uma perspectiva completamente diferente.
Sugiro, inclusive, por causa da produção sonora ser esmerada, utilizar bons fones de ouvido para poder imergir e conviver, como se estivéssemos ouvindo os pensamentos dos narradores e moradores de Limetown, dentro de nossas próprias mentes.
Ou não.
P.s.: quando a segunda temporada de Limetown foi lançada, ao mesmo tempo foi lançado um livro que conta parte da história de Lia Haddock e Emile, seu tio, antes da criação da cidade e dos acontecimentos que acompanhamos no Podcast. Além disso, como aconteceu a alguns outros podcasts – inclusive um também falado aqui na primeira temporada do Primeiros Segundos (estou falando de Homecoming Podcast), Limetown está sendo adaptado para o
formato de série televisiva. O Facebook Watch comprou os direitos da série e já confirmou Jessica Biel como Lia Haddock e Stanley Tucci como Emile Haddock na série que, até as últimas informações que colhemos antes da produção deste episódio, já tinha sido filmada por completo e terá 10 episódios em sua primeira temporada.
P.s.2: Quero agradecer às mentes e às vozes incríveis de Kaio Anderson e de Luíza Lima por terem abrilhantado esse episódio. Comentem o que acharam das vozes e das mentes, e também, quando ouvirem Limetown, voltem aqui pra nos dizer o que acharam da cidade. Sem mentiras, por favor.
Nos vemos em duas semanas.
Links
- Podcast Limetown
- Super Interessante - Tragédias de tradução
- Serial Podcast
- The Black Tapes Podcast | Indicação Primeiros Segundos
- Homecoming Podcast | Indicação Primeiros Segundos